A primeira coisa que vi quando acordei foi minha mão negra no chão. Minha cabeça estava inclinada para ela, e eu estava deitado em um chão áspero, pedregoso.
Tochas gigantescas se iluminavam a minha volta, mas eu nunca alcançaria as extremidades da aparente gruta ou caverna em que residia, pois estava também, preso em uma enorme gaiola de ferro.
Mônica foi a primeira que eu vi, ela olhava de fora da gaiola, agora vestida com aquele manto estranho. Me encarava admirada, como se eu fosse a coisa mais bela que ela já havia visto.
– Mônica, me tira daqui...
Corri até perto dela e agarrei as grades, chacoalhando. Um coral em uma língua que eu não conhecia ecoava pela escuridão distante que a parte não iluminada da gruta reservava. Um canto lindo e arrepiante ao mesmo tempo. Um lírico profano.
– Chegou a hora, arauto do desconhecido.
Ela disse e se afastou sussurrando as mesmas palavras que o coral ao fundo. Se afastou até um canto escuro onde eu não poderia mais vê-la.
Eu já não me importava mais se ela ainda estaria alí ou não, estava determinado a fugir de qualquer forma. Enquanto aquela procissão cantava cada vez mais próxima de onde eu estava, eu tentei de diversas formas quebrar ou atravessar o meu corpo pelas grades, e nada adiantou.
Logo o canto cessou, mas eles haviam chegado.
Todos usavam o mesmo manto do que parecia ser uma seita. Mantos negros com um capuz, exceto por aquele que estava a frente deles, o careca com a boca enfaixada.
Ele rodeou a gaiola até o outro lado, me observando atentamente. Então vi algo que não havia reparado antes. As paredes atrás de mim tinham rochas e dimensões estranhas, que fizeram sentido assim que ele subiu nelas e as usou da forma que pareciam: um altar.
Um pequeno grupo do que pareciam ser uns 100 membros daquela seita, começou as ascender algumas velas no altar enquanto ele examinava um livro de capa negra, no qual não identifiquei um título, mas parecia ser feita de couro.
Após abrir em uma determinada página, ele colocou sobre um suporte, que era claramente feito de uma rocha esculpida, a sua frente.
Ele olhou para todos os outros abaixo, que em sua grande maioria estavam em volta da minha gaiola e começou a falar em alta rouquidão.
– Filhos. É chegada a nossa hora. Mais uma vez, o flagelo onipotente do cosmo e de tudo que existe nos trouxe uma oportunidade de trazer a tona seu poder e ira sobre esta Terra.
"Nós, sempre seus servos fiéis, dedicamos cada dia de nossa existência a trazer de volta a influência de sua palavra e de seu poder sobre a humanidade.
Nossa busca não foi em vão, pois o escolhido foi enviado até nós, e nesta noite, o Portal irá se abalar e Aquele Que Flagela retornará uma vez mais ... Vivo a nós... "
A multidão respondeu em um tom de oração em uníssono "Todos somos de vós".Ele voltou a me encarar do alto e disse.
– Você está destinado a trazer nosso senhor de volta a este plano. Seu caminho foi doloroso, e sua mente está manchada pela vergonha e pelo medo. Mas a dor ainda é pouca.– Quando ele disse isso, um espaço se abriu entre alguns membros da seita e minha cela, enquanto uma garota nua era jogada no chão com as mãos amarradas.
Susan estava transbordando em lágrimas e começou a gritar meu nome em meio aos prantos.
Eu não conseguia responder, fiquei mudo enquanto chorava de desespero esmurrando as grades.
Minhas mãos sangravam, mas eu não sentia aquela dor...
Logo, um dos membros abaixou o seu capuz próximo a ela. Era um homem de meia idade, talvez uns 30 anos. Ele olhou para o careca no altar, até que o mesmo bateu palma uma única vez... "comecem".
Aquele homem retirou todo o seu manto e o deixou cair no chão, ficando completamente nu... E deitando por cima dela...Sinto vontade de morrer por cada detalhe daquilo... O como ela gritava quando ele... Quando os outros dois... E depois cinco deles...
Ela implorava para que parassem...
Eu olhei ela nos olhos em vários momentos daquele inferno e nunca vou esquecer como me senti um verme, ali. Presenciando a garota que eu mais gostei ser violada sem piedade por jovens, velhos, adultos...Passadas horas que para mim foram eternas. Eles se afastaram do corpo já sem vida no chão.
Ela estava com o rosto deformado de hematomas... Seu corpo...
Meu Deus... Su.. Meu Deus...
Dez homens... Ela morreu... E o asco e falta de viver após ver como aconteceu era tudo o que havia em mim.O corpo dela foi arrastado para fora de vista, e apenas umas manchas de sangue ficaram no lugar. Eu percebi então... Eu amava Susan. Não era apenas a maneira brutal e desumana que ela morreu que me gerou piedade... Era amor mesmo... Pelo menos pra mim era isso, por que se amar não significa querer ir se juntar com a pessoa que acabou de morrer na sua frente, na morte também... Então não sei o que é amor.
Meu rosto estava grudento, com a cachoeira de lágrimas secas sobre ele.
– Filho da puta... – Disse em voz baixa. Me levantei e corri até agarrar a outra parte da grade. Espumando de raiva, meus olhos faiscavam para aquele careca desgraçado. – Filho da puta!!! Filho da puta!!! – Eu gritei com todo ódio que eu poderia sentir. Eu queria mais do que matar aquele careca, queria vê-lo sofrer.
Ele continuava me olhando, avaliativo.
– Agora... O ponto auge. Tragam o outro.
Me virei na hora em que Tom, o orientador que nos enganou e nos enviou para aquele matadouro, vinha puxando por uma corda aquilo que me faria voltar a chorar e a tremer.
Por que ó Deus?...
Por que?!?!!?!
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Raízes Despertas
HororUm grupo de amigos em busca de diversão e tranquilidade em um parque ambiental. Talvez a calmaria desperte interesses incomuns entre o grupo ou desperte coisas mais frodundas quanto as raízes no solo.