(Leonardo)
76 dias depois
11 de abril de 2042
— E então, ainda não se desapaixonou por ela? — Ouço a voz de Samanta ao meu lado.
Hoje é o aniversário da Safira. Seu décimo nono aniversário, o que todos nós pensamos que nunca chegaria.
Os pais dela decidiram comemorar fazendo um culto de ação de graças, e agora estamos todos na igreja. Safira está dando seu testemunho lá encima, e eu decidi vir aqui fora tomar um pouco de ar.
— Está sendo mais difícil do que pensei. — Respondo.
A verdade é que mesmo depois que ela voltou a falar e a andar, até mesmo depois que voltou pra casa, eu só tenho observado-a de longe. Samantha disse que ela não lembra de mim. Lembra de pouquíssimas coisas antes do acidente, aliás.
Virou o centro das atenções por onde passa, mesmo sem querer. Todos querem saber como foi o período que ficou em coma; como foi passar duas semanas sem conseguir voltar a falar ou andar; como é não saber do seu passado.
Eu escolheria ter levado aquela pancada na cabeça no lugar dela, queria tê-la protegido de tudo o que passou e de todos esses problemas que está tendo que enfrentar, tentando encontrar o seu verdadeiro eu, que talvez se perdeu em algum lugar das memórias que não tem mais.
É difícil demais ter que assistir a tudo isso de longe, sem poder ajudar, falar com ela, abraçá-la... Como se eu nunca houvesse sequer existido na sua história. Às vezes, tudo o que quero é correr para beijá-la, dizer quem éramos, que eu ainda a amo... Mas eu decidi que é melhor ficar mesmo de longe. Se eu voltasse, poderia estragar todas as chances do meu irmão, e eu prometi a ele que não entraria mais no caminho de ambos.
O que me acalma um pouco é saber que Ítalo está dando a ela agora todo o apoio que não posso dar. Mas não é a mesma coisa. Não, quando tudo o que eu queria era ela. Não, sabendo que nunca vou tê-la. Ficar sozinho agora é como gritar do fundo de um abismo, sabendo que lá em cima não há ninguém pra me ouvir.
Bom, desde que ela recebeu alta, Ítalo tem estado sempre lá para ajudar, como o excelente melhor amigo que ele sempre foi. E em meio a tudo isso, eu acabei ficando mais solitário do que pensei. Quer dizer... Acho que encontrei uma amizade de verdade e pela qual vale a pena ficar, porque eu realmente pensei em me mudar para onde os meus avós.
Samantha tem sido a pessoa com quem eu divido minhas desilusões, minhas dores e minhas histórias. Depois da nossa discussão no aniversário da Sarah, ela veio me procurar e me pediu perdão por ter agido daquela forma. Confessei que também estava um pouco cheio de ter que sofrer sozinho e acabei descontando nela, e então ela disse que a partir daquele dia, eu poderia simplesmente desabafar, ao invés de descontar.
Eu aceitei prontamente sua proposta, e até então não me arrependi. Muito pelo contrário. Eu consigo até mesmo sorrir quando estou ao seu lado, e esquecer por um momento o quanto estou sofrendo por ter perdido a Safira.
— Eu já disse que posso te ajudar com isso. — Sama fala, se referindo a uma conversa que tivemos semanas atrás, quando ela disse que poderia ajudar a Safira a lembrar-se de mim.
— E trair o melhor amigo dela, que por acaso também é o meu irmão e seu melhor amigo?! — Ironizo. — Não, estou bem assim, obrigado!
Ela ri e balança a cabeça. — Ultimamente, não posso mais dizer que eles são os meus melhores amigos. — Fala, encostando-se à parede e encarando as flores do jardim dos fundos da igreja. — Acho que você tem desempenhado melhor esse papel.
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Depois do Acampamento
Spiritual📖 LIVRO 3 DA TRILOGIA "ACAMPAMENTO DE INVERNO" O Acampamento terminou, mas a estória continua. As memórias acabaram, mas o futuro aguarda. A amizade foi interrompida, mas um novo amor nasce. Depois de um acidente inesperado no acampamento muitas...