Em um bar qualquer, de um lugar qualquer, em um pais qualquer, vi uma coisa que ninguém vai acreditar: Deus e o Diabo tomando um drink.
Já se passava das vinte e uma horas quando um vento estranho fez a porta de madeira do bar abrir. Um senhor com aparência cansada e cabelos brancos entra caminhando lentamente. Ele se senta ao balcão. Sua pele morena e castigada pelo tempo formando rugas ao redor dos olhos.
- Uma cerveja por favor. - Ele pede educadamente.
O homem cansado atrás do balcão o serve sem dizer nada. O homem velho pega a cerveja, sorri e bebe um longo gole.
- Refrescante. - O homem sorri.
A tv estava ligada e um jogo qualquer passava. O ambiente estava cheio de fumaça e calor humano. As luzes baixas deixavam o clima pesado e quando a porta se abriu outra vez todas as cabeças se voltaram para a entrada, exceto o homem com a cerveja na mão e um sorriso nos lábios . Parada na porta estava uma das mulheres mais lindas que já vi. Seus cabelos negros eram longos e cacheados. Sua pele era bronzeada, os olhos negros como uma noite sem estrelas e o corpo escultural. Suas pernas longas eram ainda mais evidenciadas pela saia minuscula que usava. Ela caminha lentamente até o balcão, todos a olham e da para sentir que a desejam. Ela joga o cabelo para trás e se senta ao lado do homem que ainda sorri.
- Ainda gosta de chamar a atenção.
- E quem não gosta? - A mulher provoca. - Eu quero um uísque com gelo. Dose dupla.
O cara atrás do balcão se anima. E até arrisca um sorriso.
- E então querida, como está sua semana la em baixo?
A garota sorri. Mexendo o copo com a bebida de um jeito sensual fazendo o homem atrás do balcão ir a loucura.
- Está incrível. E a sua lá em cima? Ainda sem graça e cheia de pedidos de ajuda?
- Sabe que gosto dos pedidos de ajuda. Eles não são o problema.
- E qual é o problema?
- Eles não agradecerem.
- Pensei que não se importasse com isso.
- Eu finjo que não, mas no fim todos nós nos importamos. Até mesmo eu.
- Deus também gosta de atenção.
- E quem não gosta? - O homem brinca.
A mulher ri e olha a sua volta. Os homens ali presentes ainda estão olhando para ela com olhos de desejo.
- Humanos. - Ela diz com nojo.
- Não gosta deles?
- Só de suas almas torturadas em minhas mãos. - Ela faz um gesto com a mão como se esmagasse algo. Um sorriso nos lábios.
- Eu gosto deles, sabe disso, mas tem que ter muita paciência.
- Humanos são como saquinhos de doces sortidos ambulantes.
O homem olha para a mulher com atenção, como um aluno olhando para a sua professora.
- Eles se julgam muito importantes. Vestidos em embalagens bonitinhas, mas quando se abre, são um verdadeiro caus. Homens da lei que não são justos. Pregadores da fé que não ha tem e cometem crimes. Pessoas que foram eleitas para cuidar do povo e tiram até mesmo a comida de suas bocas. E por ai vai. - Ela faz uma pausa. - Humanos me dão nojo.
Apos uma pausa longa. O homem que bebericava de sua cerveja despreocupadamente, sorri.
- O que é tão engraçado? - A mulher pergunta com o que parecia ser raiva.
- Gostei da sua analogia.
- Olha, mais quem diria, Deus dizendo que gostou de algo que o Diabo fez.
Deus da uma grande risada.
- Não seja tão carente.
- Eu carente? E você que criou o mundo e encheu de vermezinhos inúteis!
O homem que tinha terminado sua cerveja, pede ao barmen outra antes de responder.
- Porque tem tanta inveja dos meus vermezinhos?
- O que? - A mulher parecia indignada. - Eu não invejo eles. Jamais invejei.
- Hora, não tente mentir para mim. Se não se lembra, eu criei você! Assim como cada grão de areia do deserto ou cada gota do oceano. Sei quem é você. O que queria ser.
- Isso já faz muito tempo.
- Mas assim como os humanos, sua parte mortal não muda. Você quer o que as pessoas querem.
- E o que é?
- A felicidade. Uma vida longa e feliz.
- E quem disse que não sou feliz?
- Você vê o pior da humanidade todos os dias e sorri para eles. Eu vejo o melhor das pessoas e choro.
- E porque?
- Porque vivo de esperança.
- E eu vivo do que?
- De dor.
- E isso é ruim?
- Não. Mas até dor de mais cansa.
- E alegria demais cansa?
- Talvez. Mas ainda não me cansei.
A mulher ri. E termina sua bebida em um gole.
- Não sei se vim a um bar ou um terapeuta.
- É assim que é quando Deus e o Diabo entram em um bar.
- Na mesma hora semana que vem? - A mulher se levanta.
- Claro! - O homem sorri.
- Mas da próxima eu escolho o lugar!
- Onde você quiser querida. Onde quiser.
Ela pisca e sai rebolando dali.
- A conta. - O homem pede ao cara do balcão.
Eu que estava em um canto do bar em silencio me surpreendo quando o homem do balcão me olha.
- Garotas. - Ele diz e pisca. Jogando um maço de dinheiro sobre o balcão vai embora sem deixar rastros para trás.
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Quando Deus e o Diabo entram em um bar.
Short StoryUma história de um bêbado ou não, ouvindo Deus e o Diabo em uma social.