Fiction

◤ Fronteiras ◢

"Quatro horas, é manhã para alguns e é noite para outros. Alguns podem estar acordando, esfregandos olhos e indo dormir.  

Para alguns pode ser uma noite solitária, porque eles não podem adormecer. 

Para outros pode ser frustante, pois eles não conseguem acordar.

Jongin perguntava, a si mesmo, se era mais um no meio dessas pessoas. Se sentia uma mistura confusa da citação. 

"Em algum lugar, as quatro horas, na fronteira entre manhã e noite, começamos o programa caffeine" 

Kim Jongin é um escritor,  porém certos problemas o fizeram dar uma pausa no mundo literário. 

"A música que vai dar inicio hoje será, Seoul do RM" 

Ser um escritor nesses tempos é realmente difícil, principalmente se a sua criatividade não é a maior do mundo. Ser um escritor roteirista de uma rádio é ainda mais difícil: escrever um roteiro que chame a atenção dos ouvintes e escolher músicas boas para o momento certo para ele é cansativo. Agora que Jongin trabalhava em um horário entre fronteiras, era realmente desafiador. 

Ele sente seu celular vibrar durante o programa, era uma mensagem, aproveita que ainda está tocando a música para chegar a mensagem.

Amour 
Oi, precisamos conversar. 

Jongin se sente nervoso, e com um frio na barriga. Provavelmente prevendo o que estava prestes a acontecer. Nem sempre um "precisamos conversar" é uma boa noticia. Ele engole em seco, respondendo com um simples "okay" e decidindo se concentrar  no programa,  coisa que foi bem difícil. 

"Nessa segunda-feira, muitos provavelmente estão indo para seu trabalho. Outros provavelmente querem apenas descansar, então a proxima musica será boa para ambos" 

Junmyeon, o locutor apresentador, olha para ele através da divisória esperando a confirmação da música. Para não precisar falar no meio do programa, eles utilizam um notebook a qual enviam "mensagens" para o locutor. 

"Aquela musica calma que todos amam, Here comes the sun dos Beatles" 

O tempo foi passando, assim que chega ao final do programa, Jongin despede -se  de seus amigos e colegas de trabalho. Caminha para o ponto de ônibus e, enquanto espera, seu celular vibra novamente. 

Amour 
Você já saiu? Podemos nos encontrar as 7:00?

Ainda eram 6:30, então ele confirma a mensagem, dizendo para encontrar em uma cafeteria próxima a qual eles costumam sempre ir. 

─ Espero que não seja nada de mais...

Jongin apenas aproveita o movimento calmo das seis horas da manhã durante todo o trajeto.

✧  ꪳ✎﹏ ✧

Chegando na cafeteria, ela ainda não estava lá. Jongin faz o pedido e para passar o tempo decide escrever mais roteiros para o programa. Alguns minutos depois, ela chega.

Seu vestido vermelho, os cabelos lisos escorrendo por seu ombro, a curva delicada de seus lábios, seu olhar impenetrável, tudo completamente impecável. A mulher senta- se na cadeira na frente do Kim.

─ Eu tomei a liberdade e fiz os pedidos. Comenta, e ela apenas acena com um meio sorriso.

─ Hoje eu acompanhei seu programa. Acho que seu bloqueio criativo finalmente está passando, certo?

─ Acredito que sim, talvez coisas melhores estejam por vir...

 A mulher suspira audivelmente, interrompendo a sua fala. Jongin sentia seu rosto esquentar de nervoso. Kang Yi Na é uma mulher enigmática e admirável, ele sempre iria manter esse pensamento.

─ Ah, Jongin... 

Yi Na sorri novamente, porém parece ter outro significado. Esse sorriso que ele sempre admirou, no momento lhe davam calafrios. O pedido chega e, durante isso, conversavam sobre coisas banais. Até que ela finalmente vai direto ao ponto:

─ Bem, como eu disse, precisamos conversar sobre nós. Eu estava observando tudo ultimamente, acredito que eu talvez tenha ficado até distante porém... ─ Ela mexe nervosamente na xícara ─ Você sabe que eu prefiro ser realista e direta, não é?

─ Você vai terminar comigo? Perguntou por fim, cabisbaixo. 

─ Olha, eu não acho que você esteja mais aqui Jongin... Você deixou essa realidade a um bom tempo. Sei que isso não é bom para você, mas não posso mais força-lo a ser algo que não é.

─ Yi Na, é por que sou escritor não é? ─ ele comprime seus olhos com força e suspira, foram inumeras as vezes em que tiveram a mesma discussão antes. Para Yi Na, ser um escritor não vale tanto a pena. ─ Eu não mudei. Ainda estou aqui!

─ Jongin, desculpe. Eu não quero ser afetada por isso. Eu continuarei lhe dando apoio, como uma amiga se quiser. Mas nosso relacionamento não vai dar certo... 

Eles sempre mantinham contato visual, isso tornava ainda mais intenso esse momento que, talvez, para outras pessoas fosse apenas uma discussão simples.

─ Fizemos até planos de noivado...

─ Você entendeu, Jongin. ─ ela toca sua mão, em um adeus. Ele por fim desvia o olhar, completamente aturdido.

Após isso ela se foi. Jongin estava devastado, seus pensamentos estavam totalmente conflitantes. Ele sai daquele lugar e caminha até um praça próxima dali.

Se senta em um dos bancos e apenas observa tudo e todos. Sem realmente estar focado. Não é possível dizer quando seus olhos começaram a lagrimar, era uma completa bagunça. 

Enquanto tentava inutilmente parar de chorar, olha para a sua direita, e se prende em uma pessoa em específico. Seus cabelos bem curtos e negros, seus olhos grandes da mesma cor, sua pele alva e com uma feição raivosa. Andava de um lado para o outro com alguns papéis em mãos. O kim se pergunt ava qual era o motivo de tamanha frustração.

De alguma forma, o garoto parou o que estava fazendo. E em um instante, seus olhares se encontraram, ele suspira e sorri para o escritor, aos poucos sua feição ia suavizando. Ficaram assim por um tempo, e não se sentiam desconfortável, Jongin percebeu que aquele foi o único momento que se sentiu calmo.

Quando ele se foi, provavelmente pela vergonha, os seus pensamentos começaram uma outra bagunça. Agora, dessa vez, se perguntava quem era aquele que silenciou seus pensamentos, o porquê de estar tão frustado e o mais importante, será que se veriam novamente?

Após isso, Jongin simplesmente voltou para casa. Apenas esperava as quatros horas chegarem para recomeçar mais um dia que para ele não tinha mais tanto sentido assim.