capítulo 1

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Lição número 1- Nunca caminhe pela lanchonete desatenta, preste atenção por onde anda, não corra o risco de bater com uma metidinha qualquer, e se por acaso acontecer com você, não fuja para o banheiro esse pode ser o seu erro.

Eu repetia mentalmente enquanto  pagava o meu brioche e suco de laranja ao Tio da cantina "Segunda Lei de Newton: A força resultante que age em um corpo, é proporcional a aceleração que adquire" repetia sem parar porque essa é a menor lei para decorar, mas era justo ela que eu não conseguia gravar os raios das regras. Paguei e sai de lá andando rápido porque ainda queria reler as anotações nos poucos minutos que ia ter antes da prova. O recreio era sempre lotado, todo mundo queria conversar ou ficar paquerando enquanto eu só queria uma nota azul em física. Uma dica interna Alice; andar, comer e decorar uma lei de Newton não dá certo.

Mas eu não tive culpa se algum idiota quis tirar uma com a minha cara e colocou o pé na minha frente pra eu cair, tive menos culpa ainda se a Regina estava no lugar onde o meu brioche foi parar. Tive que tirar forças do além para não chorar quando o brioche caiu no casaco dela e ela me fuzilou em seguida.

Regina era miss primavera e filha do diretor, naquela escola, era Deus no céu e ela na terra.

O recreio todo parou pra olhar enquanto ela andou até mim e jogou o hambúrguer carregado de katshupe na minha cabeça, sem dizer uma palavra se quer, ela se virou jogando o cabelo e tirando o casaco sujo e saiu como se fosse a Rainha do mundo.

"Essa Regina é a mãe do Hugo"

"Cala a boca e me deixa contar"

Então eu corri para o banheiro para tentar me limpar e chorar até morrer, "essa é outra coisa que você nunca deve fazer". Eu fiquei até o fim do intervalo, abafando meus soluços com papel higiênico, e usando o chuveirinho para tentar limpar meu cabelo, que estava fedendo a molho de tomate.

"Pelo menos você não é loira, se fosse teria sido pior"

Muitas garotas entraram e saíram e eu continuei lá, até que meus soluços pararam, meu casaco me serviu de tolha e eu consegui limpar o cabelo, mas por causa disso eu perdi 45 minutos da aula de física e provavelmente eles estavam para começar a prova... sem mim.

Sai da cabine, lavei as mãos e quando eu fui abrir a porta ela não abria, de início pensei que a mesma estivesse emperrada. Mas a ficha caiu e eu percebi que tinha sido trancada no banheiro de propósito.

Eu gritei, soquei a porta, gritei de novo, mais nada adiantou.

Eu não conseguia entender porque ninguém gostava de mim filha, o que eu tinha feito de errado?

Só consegui sair de lá, depois que as aulas acabaram e uma menina, Marta, foi ao banheiro. Nem tentei insistir com a professora eu sabia que não tinha volta aquela nota zero, e por causa dela eu tive que tirar notas altíssimas nos outros bimestres pra não ficar reprovada na matéria.

"Mãe, que horror, porque você não contou pra ninguém?"

-Filha? -Ri ao lembrar de como aquilo na época parecia o fim do mundo e que realmente eu deveria ter contado. -Eu era uma adolescente bobinha, gorducha, ruiva e cheia de sardas. A Regina era alta, magra, loira e filha do diretor. Eu nunca teria chances contra ela. Mas eu estava errada, você nunca pode permitir que ninguém pise em você, ou te prejudique. Então não cometa o mesmo erro que eu, se tiver um problema você precisa dizer pra alguém, e esse alguém sou eu.

-Você vai ser a primeira pra quem vou contar!

Sorri para ela, mas no fundo estava bem nervosa, não quero que ela passe nem por metade do que eu passei.

-Agora vamos, vamos tomar café enquanto te conto sua próxima lição.

Saímos do quarto e descemos para tomar café, vou levá-la no primeiro dia, mas aposto que nos próximos ela não vai mais me querer lá.

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