[13] Lembrancinha

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Quando acontece algo com alguém, seja bom ou ruim, as pessoas sempre ficam curiosas a respeito. Elas querem saber o que aconteceu, como foi e quando acabou.

Foi assim que a maioria das minhas colegas de república estavam agindo quando Heitor contou a elas que eu fui atacada pelo criminoso mais procurado da Universidade de Santa Efigênia.

Eu planejei não contar nada para ninguém, exceto para meus amigos, mas se Heitor achou melhor que todos soubessem, eu não iria me dar ao trabalho de protestar.

Adentrei a sala de aula naquela manhã, ciente da minha aparência desleixada. Eu não tinha conseguido dormir naquela noite de tanto pensar no cara que me atacou. Não preguei os olhos nem por um minuto sequer.

- Você está péssima - Melissa comentou assim que eu sentei no meu lugar habitual.

Olhei para ela. Por que ela estava falando comigo? Isso só podia ser um milagre.

- Obrigada - resmunguei, irônica.

- Fiquei sabendo o que aconteceu com você - ela quase sussurrou, se virando na minha direção.

- Que ótimo - disparei. - E não vai nem me agradecer por eu ter te salvado?! Isso seria, no mínimo, educado já que quase quebraram meu braço e roubaram meu celular.

Melissa se endireitou na cadeira, constrangida.

- Desculpa... - ela disse, desconcertada.

- Eu esperava outra palavra, mas tudo bem - voltei a olhar para frente, encarando a lousa verde-escura.


Horas depois, encontrei Bárbara e Noah na lanchonete. Meu amigo não parava de dizer que eu precisava aprender técnicas de autodefesa, pois assim eu arrenbentaria a cara de qualquer um que tentasse me prejudicar. A ideia era boa, mas eu não estava com ânimo para praticar técnicas de autodefesa naquele momento. A única coisa que eu queria era um celular e uma cama para que eu pudesse hibernar o resto do dia.

- Eu vi em um anúncio que estão dando aulas de boxes aqui perto - Noah contou. - Você podia assistir pelo menos uma aula, Ana.

- Não estou interessada, Noah.

- Só para assistir. Sem compromisso - Noah cruzou o braço com o de Bárbara. - Nós te acompanhamos. Por favor.

Noah era um cara insistente e na maioria das vezes, eu não conseguia dizer não aos meus amigos. Simplesmente eu me sentia meio culpada se negasse alguma coisa a eles e eu sempre voltava atrás para dizer um sim.

Então, lá fui eu, arrastada por Bárbara e Noah até uma academia localizada ao lado da universidade.

Quando entramos, eu avistei Sebastian sentado em um banco, assistindo um rapaz de cabelo encaracolados socando um saco de pancadas. Eu lembrava de ter visto esse rapaz no time dos BasketBoys. Ele também tinha quase um metro e noventa de altura.

- Sebastian - chamei.

Ele olhou para mim e lançou uma rápida olhada em Bárbara e Noah.

- Oi, Analu - ele abriu um sorriso e se levantou. - O que faz aqui?

- Meus amigos me trouxeram para assistir um treino - gesticulei para Barb e Noah. - Gente, esse é o Sebastian.

- Oi. Muito prazer, sou o Noah - meu amigo disse, sorridente.

- E eu sou a Bárbara. Prazer - minha amiga estendeu a mão para Sebastian, que a pegou e a depositou um beijo, como se fosse um cavalheiro. Sorri com o gesto raro de ser ver.

- O prazer é meu - Sebastian olhou nos olhos de Bárbara com um clássico sorriso sedutor.

Barb sorriu de volta, meio sem jeito.

Noah e eu nos entreolhamos, segurando o riso.

O treino acabou poucos minutos depois e o cara de cabelos encaracolados, que estava socando o saco de pancadas se aproximou de nós.

- Posso ajudar? - perguntou ele, olhando para cada um.

- Sim - Noah respondeu, dando um passo à frente. - Estamos interessados nas aulas de boxe.

Estamos interessados? Eu pensei que seria só eu "a interessada".

- Ótimo. Meu nome é Nicolas e eu sou o treinador. Posso fazer uma demonstração para vocês agora, se quiserem.

- Isso seria ótimo - Noah disse, com um sorriso super interessado.

Depois da demonstração, Nicolas deu seu cartão de visitas a Noah, no qual continha seu número de telefone e email. Não pude deixar de notar as olhadas indiscretas de Noah no tórax de Nicolas. Alguma coisa me dizia que ele só arrastou a gente até lá porque já tinha visto Nicolas em algum lugar e queria conhecê-lo melhor.

Assim que saímos da academia, Noah começou a sorrir como um bobo alegre.

- Você é muito descarado, não é? - disparei. - Só levou a gente lá porque queria pegar o número do Nicolas bonitão.

- Tira o olho, Analu - Noah disse, passando a mão pelo cabelo escuro. - Ele é meu novo crush. Mal vejo a hora de começar o treino...

- Pelo menos você vai poder se defender por nós duas - Bárbara comentou.

- Sim - concordei, a olhando. - E você e o Sebastian, hein?

- Ah, ele é bonitinho - ela disse, como se não quisesse nada com nada.

- Hum - eu sorri, cruzando o braço com o dela e com o de Noah. - Só quero ver onde isso vai dar.


A noite chegou na Universidade de Santa Efigênia junto com o toque de recolher.

Quando subi as escadas e adentrei meu quarto da república, eu já me sentia esgotada. Eu podia até sentir o cheiro do meu travesseiro de longe. Malu já estava em sua cama, tocando algumas notas no seu violão.

Eu estava prestes a me jogar na cama e tirar umas boas horas de sono quando vi uma caixinha retangular em cima da minha cama. Havia um bilhete colado nela.

- O que é isso? - perguntei, surpresa.
- É um celular - Malu respondeu o óbvio. - Melissa pediu para que eu o entregasse a você.

Melissa? Não acredito.

Peguei a caixa.

- Ela mandou isso para mim? - perguntei, ainda descrente.

Malu assentiu.

Sério. Eu não esperava um celular de Melissa. Seria isso uma bomba?

Afastei meu pensamentos desconfiados e comecei a ler o bilhete. Nele estava escrito:

É só um pedido de desculpas por você ter se arriscado para me salvar. Faça bom uso.

Melissa


Que bilhete fofo. Eu ia gostar receber pedidos de desculpas acompanhados de presentes como esse.

Por fim, abri a caixa e tirei o celular de dentro. Era preto e de espessura fina. Bem melhor do que aquele que me roubaram.

Sorri. Talvez Melissa seja uma pessoa digna de se ter por perto.

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Bjs e até o próximo capítulo...


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