Cemitério...

Ao olhar para a Ilha Resto banhada pelo luar, Mestre Flick, primeiro imediato do navio, podia sentir que aquele não era um lugar comum. Há anos não havia habitantes na ilha, conhecida por todos os piratas por ser um cemitério clandestino. Muitos ladrões do mar estavam enterrados sob aquela terra. Um local de descanso para uma vida de crimes, longe da civilização.

Mas isso não é bom. Todos sabem que aqueles que morrem no mar, devem ser lançados às águas salgadas para encontrarem repouso nas profundezas e serem reclamados por Davy Jones. Enterrar piratas em terra servia como punição para aqueles homens, a eles foi negado o destino dos bravos homens do mar. Isso servia também de aviso a todos que optarem por uma vida de crimes, lembrando-os que o final certo para sua vida vil é ser enterrado para que os vermes lhe comam a carne. Infelizmente um destes desgraçados era seu próprio irmão, capturado, morto e enterrado em algum lugar da ilha.

- Capitão, tem certeza que quer fazer isso esta noite? Andar pela ilha com pouca luz não seria uma escolha sensata...

- Não temos escolha Mestre Flick. Outros devem chegar em breve a procura do mapa do tesouro do marajá. Dê a ordem para que coloquem o escaler na água, temos que chegar a praia o mais rápido possível e terminar logo com isso.

Capitão Black era um homem experiente. Velho lobo do mar, conduzia seu navio há anos, sempre obtendo sucesso em suas pilhagens. Nunca perdera uma luta de espadas e sabia atirar com enorme precisão. Os homens respeitavam e confiavam em sua palavra e decisão.

Recentemente a notícia sobre a localização de um mapa indicando a localização do tesouro do marajá se espalhou pelas espeluncas e tavernas de Tortuga, atiçando a cobiça de muitos piratas. Os boatos diziam que o mapa fora enterrado naquela ilha, junto ao corpo do Capitão Still, responsável pelo roubo do tesouro.

Valia a pena arriscar. O conhecido tesouro do marajá possuía pedras preciosas de valor inestimável. Se o achassem, poderiam deixar a vida de crimes e viver confortavelmente para o resto de suas vidas, oportunidade que foi negada a Still. Ferido mortalmente durante um combate contra a companhia das índias orientais, Still deu a ordem à sua tripulação para que o enterrassem naquela ilha. Sua tripulação foi morta quando seguia de volta para Tortuga, deixando o tesouro perdido e à disposição do pirata sortudo que o encontrar.

Dois escaleres chegaram a praia. Capitão Black e seus homens agora estavam mais perto de descobrir o paradeiro do tesouro, bastava apenas encontrar o túmulo de Still, pegar o mapa e pela manhã partiriam em busca do afamado tesouro.

Ao sentir o pé afundando na areia fofa da praia, um calafrio percorreu a espinha de Black. Estavam entrando num solo sagrado... Ou amaldiçoado... Mas deveria esquecer essas superstições se quisesse obter o prêmio. Percebeu que seus homens estavam receosos e preocupados enquanto andavam pela areia.

- Homens, estamos aqui para encontrar o mapa de Still, isso mudará nossas vidas. Não deixem que lendas e velhas histórias os assustem. Já passamos por tempestades terríveis e isso não nos assustou. Estamos aqui, vamos pegar o mapa e cair fora.

- Sim capitão!

Flick olhou para o Capitão e percebeu que não era o único que estava com medo. Conhecia Black há muito tempo, e sabia que algo estava errado em sua voz, apesar da aparente coragem e segurança. Todos ali sentiam o quão tenebroso era aquele lugar.

Não tiveram dificuldade em andar pelo mato baixo da ilha, sob a luz do luar. O terreno não era irregular, ficava relativamente plano, com uma pequena elevação que levava até o local dos túmulos.

Havia uma pequena cerca de madeira delimitando a área do cemitério. Muitas cruzes de madeira podiam ser vistas sob cada monturo de terra. Uma pequena névoa branca cobria o terreno. Estranhamente o ar ficava mais frio naquele local.