Capitulo 1

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Ela, Ana, menina simples de 24 anos, moradora da Vila de Bom Jesus do Sul, um pequeno vilarejo do interior do Estado, banhado pela lagoa, situado cerca de 250 km de distância do centro da cidade de Olhos D'água. Trabalhava duro em uma lojinha de artigos de pesca e variedades para ajudar nas despesas da casa, trazia consigo a doçura das pessoas do interior e de maneira involuntária, talvez pela ingenuidade ou pela falta dela, transbordava sensualidade na sua maneira de ser e agir.

- Bom dia Dona Maria. – Acenava ela para uma senhorinha de oitenta e poucos anos que estava sentada na porta de casa pegando sol.

- Bom dia Ana, você está cada vez mais linda. – Exclamava cordialmente aquela simpática senhora enquanto observava os cabelos esvoaçantes de Ana juntamente com a saia que balançava com a brisa da praia.

- Que nada Dona Maria, são seus olhos. Que bom lhe ver bem, pegando este solzinho da manhã.

- O dia está lindo.

- Tô com um pouco de pressa porque a mãe tá sozinha lá em casa, outra hora conversamos melhor.

- Claro, vai lá e mande um abraço meu a ela. Melhoras!

Já fazia algum tempo que a mãe de Ana havia sido diagnosticada com uma grave doença e precisava de um procedimento cirúrgico urgente, acontece que se dependesse do sistema público de saúde corria o risco de não conseguir realizar o procedimento a tempo.

Ao chegar em casa Ana deparou-se com sua mãe que tentava se apoiar no braço do sofá para não cair.

- Você está bem? - Perguntou aflitamente após percebê-la com o rosto pálido e as mãos trêmulas.

- Sinto a boca seca, náuseas e dores fortes, mas isso se repete frequentemente há meses, não há o que se preocupar, pode voltar para o serviço tranquila.

- Não posso ficar tranquila. - Respondeu Ana, deixando transbordar no canto dos olhos todo amor que sentia pela mãe. - Irei ficar com você o dia todo até perceber que você está realmente bem, já falei com seu Simão e estou liberada do serviço para cuidar de você sempre que precisar.

- Não precisa filha, sua tia mora aqui ao lado, qualquer coisa que eu precisar chamo.

- Senta mãe, devagar! – Ana se aproximava para ajudá-la a acomodar-se. - Estamos muito perto de conseguir o dinheiro para sua cirurgia, e tudo isso irá passar, vamos nos lembrar de tudo como se fosse apenas um sonho ruim.

- Você realmente é muito otimista, filha. - Sussurrou baixinho sentada em um sofá marrom, surrado do uso, que juntamente com um tapete escuro, uma mesa de centro e uma TV pequena, componham o ambiente da sala. Tinha o semblante de quem estava sentindo dor enquanto tocava com as mãos no estômago.

- Não é só otimismo mãe, já procurei o nosso advogado e a questão que ganhamos da florestadora está para sair. Ele me afirmou que será logo-logo, esse valor é suficiente para cobrir todas as suas despesas médicas e faremos essa cirurgia particular. Você voltará para casa totalmente curada como o médico nos prometeu.

- Deus te ouça. - Falou sua mãe enquanto dobrava uma toalha branca que estava em cima do sofá; fazia isso como quem quisesse fugir o olhar da realidade.

A mãe de Ana, Dona Dália, havia ficado viúva há mais de dez anos e desde então sustentava a casa pescando. Tinha as mãos calejadas das redes de pesca, cabelos grisalhos na altura do ombro ainda sustentando nas pontas um restante de tinta castanho claro que havia pintado há bastante tempo, os olhos eram escuros e o rosto um tanto desfigurado levava a tristeza das dificuldades que passou no casamento. O pai de Ana bebia muito e batia na esposa, ele morreu afogado quando saiu embriagado para o mar a recolher as redes.

A Última Prova de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora