Capítulo 7

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Logo pela manhã, tendo visto que a situação de sua mãe estava sob controle e que sua tia permanecia firme nos cuidados com a recém operada, Ana decidiu tirar o dia para investigar melhor o que tinha descoberto na empresa de transporte.

Ana sabia onde ficava a empresa de ônibus e sabia também que o motorista que havia se suicidado morava a menos de duas quadras dali. Ela era esperta, descolada, não seria difícil se aproximar da viúva para esclarecer melhor aquela situação.

Entre uma informação e outra, Ana descobriu exatamente onde morava o motorista. Uma casa azul localizada em uma das avenidas do centro da cidade. Em frente, um canteiro com árvores e bancos para os pedestres descansarem. Seria ali que Ana ficaria a espera de uma oportunidade.

Sentada no banco em frente a casa azul, Ana segurava uma garrafinha de água. Em seguida, avistou uma mulher surgindo na porta.

- Bom dia. – Ana se aproximou para arrumar um pretexto. – Eu não sou daqui da cidade, estou precisando saber onde fica o hospital São Francisco?

- Bom dia. – Respondeu aquela senhora de rosto abatido. – É só você seguir em frente umas quatro quadras e já vai avistar o hospital.

- Minha mãe está internada, eu dei uma saída para conhecer o centro da cidade e me perdi.

Ana percebeu que aquela mulher não estava a fim de muita conversa, que não seria tão fácil quanto pensava para se aproximar.

- Fazia muitos anos que eu não vinha, a última vez que vim foi com meu falecido pai.

Nessas alturas, Ana inventaria qualquer história para manter a atenção daquela desbotada mulher, até mesmo mentir que teria viajado com seu pai para Olhos D'água.

E Ana continuou a sua saga pela mentira ideal. – Sinto tanta falta dele.

Naquele momento, ela percebeu que teria acendido uma leve faísca no peito daquela senhora.

- Faz tempo que você perdeu ele? - Perguntou.

Era tudo que Ana precisava. – Sim, faz cinco anos, ele era um homem bom, trabalhador e honesto. Um exemplo para a família.

- Que tristeza, a morte é incompreensível mesmo. Também sofri uma perda a pouco tempo. – Exclamou aquela comovida senhora tentado conter as lágrimas.

- Sinto muito. - respondeu Ana. – Mas a morte do meu pai foi pior do que você possa imaginar. Não teve doença, não teve preparo.

Ana era astuciosa, e sabia alcançar os seus objetivos.

- Ele faleceu de quê?

Como quem joga as redes para pescar um cesto cheio de peixes Ana exclamou – Ele não morreu, simplesmente ele decidiu parar de viver, e não avisou-nos o porquê.

- Nossa! Eu estou vivendo o mesmo.

- Você também perdeu uma pessoa dessa maneira? Perguntou Ana, lançando suas redes em águas ainda mais profundas.

- Sim, meu esposo se matou.

- Lamento muito. Exclamou Ana. – Ele também não explicou o motivo? Essa é a minha pior dor.

- Ele não deixou nada registrado, mas eu sei o motivo. Foi para salvar a nossa família.

Ana teria chegado exatamente aonde pretendia. E com as redes cheias de peixes continuou a conversa.

- Eu não entendo a que a Senhora se refere.

- Meu marido passou por um trauma muito grande pouco tempo antes de sua morte, foi sequestrado, torturado, e ameaçado. Ele tinha medo de colocar-nos em risco, tenho certeza que foi esse o motivo que o levou a fazer essa besteira.

A Última Prova de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora