Prólogo

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A boca vermelha de Valentina é como os morangos silvestres plantados pela família Weyne, a família mais rica do vilarejo.

Seu cabelo castanho avermelhado lembra as raposas furtivas que roubam toda a plantação de cenouras de sua casa. Continua sendo um segredo completo o interesse desses animais por um legume tão ruim.

Sua pele extremamente branca combina com a neve que cai no inverno, sua época preferida do ano, pois é quando ela não precisa encarar as irmãs Weyne, que observam os trabalhadores nas enormes plantações de sua família, e mesmo Valentina com seus dezessete anos, é obrigada a trabalhar o dia todo, de baixo de sol ou chuva.

Não que essa parte seja ruim, o pior são as irmãs. Elas são três no total.

Isabel é a irmã mais velha, seu esporte preferido é tacar tomate podre nos trabalhadores e depois pedir desculpas, como se fosse algo não intencional. Coisa de criança já que ela tem dezenove anos.

Camile é a mais nova e também a mais irritante, ela faz provocações sem se dar o trabalho de ter empatia ou pensar nos efeitos que provoca. E apesar de ser boa moça perto do pai, ela conseguiu ter um curto relacionamento com qualquer garoto bonito rico ou não do vilarejo, e acredite, não são poucos. Com seus poucos dezesseis anos já teve mais experiências do que muitas mulheres casadas.

Lana acha que todos a sua volta são inferiores, passeia pelos campos debochando das roupas em frangalhos dos trabalhadores e cuspe em seus pés. É bem mimada mesmo tendo dezessete anos.

As três são extremamente iguais e bonitas, com seus cabelos longos negros como carvão e os imensos olhos castanhos.

Também sempre andam bem arrumadas considerando todas as suas riquezas, mas Valentina não liga muito para isso.

O pouco das moedas que ela consegue trabalhando vai quase totalmente para as despesas de casa, o que sobra ela usa comprando livros de capa de couro velho que vem das grandes aldeias evoluídas.

E mesmo nunca falando com ninguém ou tendo amigos, ela é mal falada por onde passa, já que seus curiosos olhos são diferentes de tudo que aquele pequeno povo já teve acesso.

Um de seus olhos é da cor das nuvens, o mais puro cinza que assustam os pássaros quando as tempestades chegam de mansinho.

Já o outro, vem do verde dos pinheiros que cercam as montanhas protegendo o vilarejo dos ladrões violentos que destroem tudo que parece harmonioso. É, nada parece mais em sintonia do que aquele pequeno lugar chamado de A Toca Do Lobo.

O povo não se lembra mais da onde vem o nome, alguns dizem que é pela quantidade de lobos que vivem rondando o lugar, eles nunca foram caçados, são quase sagrados.

Quando Valentina se depara com um, ela logo lhe oferece alguma de suas maçãs. Ela gosta deles, pois eles não falam, apenas a observam sem a julgar pelos seus curiosos traços.

Os pais de Valentina, também são alvos de olhares julgadores, não são muito sociáveis, mas seus poucos amigos são verdadeiros.

Valentina não consegue ter contato nem mesmo com tais pessoas, ela tem medo que seus pais percam os poucos amigos que tem, pois assim eles não teriam fregueses para comprar suas cenouras acobreadas.

Em um dia de verão, quando ela andava pela floresta, o único lugar em que ela se sentia em casa, um barulho chamou sua atenção.

Seu vestido estava com a barra enlameada e seu cabelo trançado de lado, caia até o quadril balançando como uma corda grossa.

Ela segurou a respiração e se escondeu atrás de uma árvore com os olhos arregalados.

Sua mãe, Olivia Clay, sempre a avisava dos perigos do bosque, mas Valentina não conseguia passar um dia sem sentir o cheiro de terra molhada e lodo nas árvores, sem se esbarrar com o vento fresco que levava para longe seus pensamentos ruins.

Beijada Pela LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora