Sem Confiança

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—ela não queria te magoar.

—é, eu sei.

Ly está na sala jogando vídeo game, o papai trouxe o dele, pelo visto fez tudo de caso pensado, lavo a louça do café, me sinto desconfortável com a presença dele aqui, acho que nunca ficarei completamente bem com Benjamim Hill por perto, é muito estranho ter tido um filho com alguém e perceber que essa foi uma melhor merda que você fez na vida.

—eu só quero ficar com ela sabe?

—eu sei, você é o pai dela.

—não quero afastar ela de você.

—eu sei que não.

—você fala comigo como se fosse um robô.

—isso é porque eu não tenho assunto com você Benjamim.

—porque não me olha enquanto estamos conversando? Temos uma filha juntos!

—e daí? Pessoas tem filhos juntos todos os dias.

—temos que ser amigos para o bem dela.

—é o que eu estou tentando fazer Benjamim.

—não, você não está tentando, você vive zangada comigo, acha que eu não te conheço?

—eu não estou zangada com você Benjamim, você está equivocado.

Ele estende a mão e toca o meu ombro, recuo, eu o encaro, sinto tanta raiva dentro de mim, acho tão injusto ele nos submeter a isso.

—eu não preciso da sua pena—digo—nem do seu dinheiro, e nem da sua amizade.

—eu não queria que as coisas fossem assim.

¬—nem eu, mas elas são.

—Maná eu perdi boa parte da vida da minha filha, eu não a vi nascer, não vi ela dar os primeiros passos dela, por favor, não me proíba de viver isso agora.

—não estou te proibindo de nada.

—você não me quer por perto, é nítido que ainda está magoada por causa do passado.

—você quer falar do passado? Então vamos falar do passado!—seco as mãos no pano de pratos.

—eu sinto muito...

—você é a pessoa mais covarde e egoísta que eu já conheci em toda a minha vida, como pode me pedir para estar na minha casa depois de tudo?

—você não me falou que ficou grávida!

—Benjamim você sumiu, eu se quer sabia quem você era, como eu poderia adivinhar entre quatro mil alunos quem era o "Benjamim Hill?"

—eu não queria que as coisas fossem daquela forma, mas eu tinha que assumir a empresa do meu pai—retruca ele nervoso—você não sabe o quanto eu tive que trabalhar para ter autonomia!

—olha, só preciso que entenda que não somos amigos, e seja lá o que fizemos no passado, está morto.

—você acha que eu não queria ter voltado? Que tudo foi uma brincadeirinha de nada?

—olha, quer saber, você não me deu nenhum motivo para acreditar que era diferente—argumento, sinto um bolo imenso crescente no meu peito—você me enganou, foi isso o que você fez, e quando eu caí na sua lábia, você sumiu, não me venha com esse papo de que tinha obrigações, eu tenho criado uma filha sozinha por quase dez anos sem se quer uma ajuda de ninguém além de Deus e meus pais, para depois de tudo isso, você aparecer e me apresentar aos seus pais racistas de merda.

Ele fica calado, o olhar cheio de melancolia.

—ontem não foi a primeira vez Benjamim, me desculpe te informar, mas eu já sofro preconceito desde que eu nasci, e só para sua informação, a minha filha também sofre, e eu não vou sujeitar ela a esse tipo de situação, nem por você  e nem por ninguém—as palavras me sufocam—já me perguntaram uma porção de vezes se eu sou babá dela, para quem eu trabalho, se ela é filha de alguém com dinheiro, desde que eu coloquei a Lydsay no mundo eu sei o que é ser alvo de preconceitos, e isso não me magoou sabe porque? Porque eu a amo, e eu não me importo com o que as outras pessoas dizem, mas eu não vou me sujeitar ao que seu pai fez ontem comigo.

—eu não sou como ele—argumenta Benjamim depressa.

—não?—questiono—sabe eu nem sei porque você está tentando se aproximar de mim.

—eu quero ficar perto da minha filha—responde ele—eu não sou esse monstro que você pensa Maná, eu nunca faria isso com você, se eu soubesse que você estava grávida eu não teria abandonado nem você nem ela, ainda que não estivesse, eu cuidaria ao menos para que você ficasse bem, mas eu também tinha responsabilidades, eu tive que fazer escolhas na minha vida.

E eu não fazia parte de nenhuma delas.

É duro concluir isso, porque sei que se eu fosse uma dessas moças com dinheiro e branca, com certeza eu teria sido uma escolha muito fácil para ele.

—eu sinto muito...

—eu já entendi—corto e quando ele se aproxima me afasto—vamos combinar os dias para que fique com ela, prefiro que leve ela para o seu apartamento, será mais prático, vou conversar com a Ly, só que você não vai obrigar ela a ir se ela não quiser, ok?

—eu preferia vir aqui.

—eu não quero você na minha casa.

—Maná não seja infantil!

—ah, quer dizer que eu não tenho direito a minha privacidade?

—eu só estou querendo dizer que sei que a Ly não vai querer vir sem você, e que seria a mesma coisa você vir com ela para o meu apartamento, você sabe que ela não irá querer vir comigo, porque insiste nisso?

Ly não irá, eu sei que não.

—está bem—falo—pode ficar vindo ver ela aos sábados ou domingos revezados até ela se acostumar, depois você pode leva-la para seu apartamento.

—está combinado, eu prometo que não vou invadir mais a sua privacidade.

¬—que seja.

—ouça, nada do que vivemos foi uma brincadeira para mim, quero que saiba.

—tanto faz—digo e me afasto.

—Maná!—Benjamim chama e segura a minha mão, tento me soltar mas ele me puxa, me viro para ele furiosa—eu gostava de você.

—sei—falo toda dura.

—eu não queria que as coisas fossem daquela forma—ele me olha muito sério—me desculpe por ontem, isso não vai acontecer novamente.

—não vai mesmo.

Solto a mão da dele e me afasto, não importa o que ele diga, Benjamim Hill nunca mais terá a minha confiança.





Solto a mão da dele e me afasto, não importa o que ele diga, Benjamim Hill nunca mais terá a minha confiança

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