Os Pedidos de Ly

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—não conseguiu levar o bebê até a minha oficina?

—eu não pude levar, são duas situações bem diferentes.

Thor me dá um sorriso enorme, depois de alguns segundos ele ergue os braços e seu aperto me faz sentir um pouco melhor, ele é o meu amigo a alguns anos, acima de tudo, um grande amigo.

—tá cheirando a chocolate.

Me afasto, ele pega a caixa de ferramentas e entra no meu jardim, indico o carro no espaço reservado a garagem.

—eu também estou sentindo o cheiro de comida.

—Ly está ai com o pai dela.

—ah, o pai, sua mãe me falou.

Mamãe as vezes pensa que eu e o Thor somos um casal, mesmo que não sejamos.

—eu te pedi pra vir hoje porque sei que amanhã é domingo e ficaria puxado pra você.

—que nada, você sabe que é só chamar.

Não gosto de ficar pedindo favores para ninguém, não é do meu feitio.

Me aproximo e cruzo os braços, Thor abre o capô do carro e começa a olhar toda essa parafernália que tem dentro dele, esse carro não é exatamente meu, é do meu pai, ele me emprestou a alguns dias para que eu possa resolver algumas coisas da nova empresa, é difícil andar para tantos lugares de metrô e táxi custa dinheiro, se eu bastecer pelo ou menos uma vez na semana já dá para resolver boa parte do que eu quero, não ficaria pedindo a Sue para vir me buscar, então pedi a papai seu velho carro emprestado, ele tem esse e a caminhonete, mas naquele troço velho, ninguém coloca a mão, esse carro só não perde para a caminhonete porque não é da idade do meu avô, eu nem sei como papai consegue ir trabalhar com aquela coisa.

—aquele carrão ali é do pai da Ly?

Benjamim tem um sedan esporte, é novo, de cor preta, daqueles carros bem caros que custam os olhos da cara, mas não ligo muito pra isso.

—acho que sim—digo ao observar o carro estacionado do outro lado da rua.

Thor assovia, reviro os olhos.

—então? Tem salvação? Tentei fazer ele pegar esses dias e nada, nem sei como papai conseguiu trazer ele aqui.

—acho que vou precisar de umas duas horas, mas tem salvação, eu já havia dado uma olhada nele antes a pedido do seu pai, ele mexeu muito no motor, ele é um ótimo mecânico.

¬—eu sei, mas ele não é você.

Papai é mecânico industrial, Thor é mecânico de carros desde os 13 anos.

¬—exatamente—ele sorri.

—eu vou dar uma olhada nas panelas, você quer um café?

—formidável.

Thor me olha com um pequeno sorriso, entro dentro de casa um pouco constrangida, bem, o Thor é um belíssimo negro, quase 1,90 de altura e puro músculos, ele gosta de academia, de correr, e ele também é daqueles tipos de caras mal encarados, mas que por dentro, parece um ursinho de tão fofo.

Gosto do Thor, mas não sei se gostaria de me envolver com ele apenas por me envolver, porque eu e ele nunca tivemos nada além da amizade, nos conhecemos a uns cinco anos, ele se mudou para vizinhança junto com os pais dele, a mãe dele é uma graça, assim como o pai, mas não sei, eu nunca conseguiria de fato me entregar a ele, não por medo, mas porque sei que o Thor merece algo que eu não posso dar.

Casa, família, filhos pequenos e tempo, coisa que não venho tendo a um bom tempo.

—quem chegou?—Ly pergunta logo que me vê entrando pela porta dos fundos e vem da sala toda desconfiada.

—o Thor—respondo e pego uma caneca no armário—preciso do carro na segunda cedo.

—mamãe eu não queria ter te chamado de chata tá?—Ly pergunta incerta.

—claro, eu sei que não—respondo e checo as panelas—pode ficar tranquila, vou levar um café para o Thor.

—eu não queria te desapontar mamãe—Ly argumenta—por favor não continua chateada comigo.

—eu não estou Ly—respondo e a olho, Benjamim se aproxima com as mãos dentro dos bolsos do jeans.

—ela não tinha mesmo a intenção Maná—argumenta ele—conversamos sobre eu ficar vindo, Ly concorda.

—ok, sem problemas—digo e coloco café na caneca para o Thor—o almoço já está quase pronto.

—porque não vem jogar com a gente?—Ly pergunta—por favor.

—eu preciso organizar a casa e lavar roupa Ly—explico sem graça—tudo bem, deixa para um outro dia.

—por favor mamãe...

—não tem problema que fique um pouco conosco Maná, a Ly quer ficar com nós dois.

Reviro os olhos, essa de bancar o "papai" bonzinho não rola para o meu lado, mas acabo por concordar com um breve acenar de cabeça, Ly sorri e me abraça toda feliz.

—mas eu vou ficar com o Thor—retruco.

—uhh... ficar—Ly fala toda empolgada.

Fico muito constrangida.

—talvez ele precise de uma mão, depois quando ele for, podemos tirar a tarde para ficarmos vendo tv ou jogando—começo a me afastar—e o Thor vai almoçar conosco.

—que legal—Ly comemora novamente—viu Benjamim? Hoje você vai conhecer o namorado da mamãe!

É a última coisa que ouço antes de sair para fora, nego com a cabeça, sinto vontade de rir, a Ly não tem mesmo jeito. Mas se quer saber, não me importo, que Benjamim pense o que quiser, não devo satisfações da minha vida para ele nem para ninguém.



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