Gustavo se sentia bem de novo, agora usando suas costumeiras roupas escuras. Após passar o dia todo com Luzia e Wanessa visitando o laboratório onde os bebês eram gerados, estava enfim de volta a sua sociedade, vestido como ele mesmo e sem uma peruca incômoda na cabeça.
Voltava caminhando pela rua, sem muita preocupação. Era o dia de descanso e ainda não estava no horário de escurecer. Haviam mais homens que o normal pela cidade, mas todos aproveitando seu dia para fazer algo que não podiam nos outros seis. A possibilidade de ter um dia de descanso era o que lhes dava esperança. E era também uma ferramenta muito eficaz para controlá-los. Se não houvesse folga nenhuma, era certo que os operários se rebelariam. Mas as mulheres, espertas, haviam descoberto uma forma de amenizar isso. O dia de descanso dava a sensação de que, pelo menos, uma vez por semana eles eram como elas.
Gustavo andava a passos lentos, refletindo sobre as mulheres que faziam essas artimanhas e as que conhecia. Elas não pareciam ser tão maquiavélicas. Mas ele sabia que estava sendo enganado. Wanessa, a moça que tanto lhe encantou, era um bom exemplo delas. A garota trabalhava no próprio governo e sabia de tudo sempre. Ela era uma das que ajudava a controlá-los. Era uma das que os mantinha como seres inferiores.
Mas Wanessa era tão gentil com ele. Tão simpática... Como poderia um ser daqueles seres crueis? Gustavo não conseguia compreender.
— Gustavo! Oh, cara! Vem aqui — uma voz lhe chamou de um dos bares, interrompendo seus devaneios.
O rapaz olhou ao redor até encontrar o dono do grito. Gean se encontrava na porta de um dos estabelecimentos, acenando para ele.
Gustavo se aproximou e sentou na mesa em que ele e Rick estavam.
— Você anda sumido! O que tem aprontado nos dias de descanso? Passamos lá na sua casa mais cedo e você não tava.
O rapaz dos olhos negros apenas riu.
— Vocês não acreditariam se eu contasse.
— Tente. Enquanto isso bebe uma cervejinha — virou a garrafa de cerveja em um copo de plástico e ofereceu a Gustavo.
— Obrigado. — O garoto bebeu um gole e notou que a bebida já estava quente, mas não recusou. Para acabar o dia ainda melhor só lhe faltava mesmo uma cervejinha com os amigos. — Eu tenho frequentado a sociedade das mulheres.
Dois pares de olhos lhe encararam.
— Você ainda conversa com aquela mulher?
— Com a Luzia? Sim. E ela me apresentou suas amigas. Algumas delas não gostaram de mim e ficaram assustadas, mas teve outra, a Wanessa, que não. Ela se tornou minha amiga também. Temos saído juntos.
Ambos os outros rapazes ainda o olhavam com a sobrancelha franzida. A sociedade feminina era algo inalcançável, como um paraíso. Gustavo frequentar o local tantas vezes o tornava diferente, inclusive por considerar mulheres como amigas.
— E vocês fazem o quê?
— Não é uma saída por diversão como vocês tão pensando. Nós temos um plano. A Luzia tem um plano, melhor dizendo. E ela me convidou a fazer parte dele também. Vou contar pra vocês, mas prometam manter segredo por enquanto. — Os dois fizeram um aceno com a cabeça. — Ela quer que nossas sociedades sejam tratadas iguais, como era no passado. — Gustavo não pode prosseguir ao notar a expressão dos amigos. — Por que essas caras?
— Uma mulher querendo isso?
— Sim, a Luzia está tentando mudar as sociedades para podermos viver como quisermos e livres de verdade. É uma longa história. Mas o que importa é que ela decidiu que ia tentar fazer com que acabasse com essa diferença e estou ajudando nisso — ele fez uma pausa e tomou um longo gole da bebida alcoólica, relembrando os acontecimentos do dia. — Hoje visitamos o local onde os bebês são gerados. Esses dias visitamos as Casas de Cuidados das duas sociedades.
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A Liberdade que Limita
Science Fiction"A sociedade não está pronta para aceitar toda forma de liberdade" Em um mundo dividido em duas classes, as mulheres são seres superiores e os homens inferiores. Cada um habita uma sociedade, que funciona de maneiras distintas, eles trabalhando e...