– Acho que assim fica melhor. Ninguém vai querer tratar da mente no meio a centenas de livros e papéis que só acumulam poeira. Mas todo mundo adora um ambiente limpo e neutro. Todo mundo gosta de plantas.
– Doutor – interrompeu o paciente - A gente não deveria estar falando do meu caso?
– Ah! Pois não! – Jessé ajeitou os óculos na ponta do nariz e consultou o seu caderninho - Me conte o que está acontecendo na sua vida, seu... Jair Sch... Shelles...
– É Jair Schleck, doutor. Já estamos na quinta sessão.
– Mas é claro! Me desculpe. Tenho esse problema. Me diga uma coisa, te incomodam as plantas?
Jair olhou em volta. Tinha de fato algumas plantas novas. Mas ele não dava a menor importância a plantas. Tinha tentado criar algumas, obedecendo a sugestão do antigo namorado. Planta era bom, planta era chic, mas as plantas da sua casa viravam invariavelmente matos secos em questão de dias. Uma frustração tão chata quanto foi lidar com o namorado afrescalhado, insuportável, que só piorou quando virou Ex. Só de pensar nele e nas plantas despertava em Jair uma raiva de fechar o punho.
– Essa é Zamioculca - afirmou orgulhoso o psicólogo.
– Hã?
– Essa planta que você está olhando agora. Zamioculca. Vem da África.
– Ah. Eu não estava realmente olhando. Eu estava pensando.
– Que bom, Jair! Me interessaria muito ouvir seus pensamentos...
– Bom, eu já gostei muito de uma pessoa, mas com o tempo tudo desandou.
– ...mas, infelizmente, o tempo acabou. Vamos deixar para a próxima sessão.
– Doutor...
