Destinato

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Ianty

A primeira vez que vi um humano foi quando eu estava escondido atrás do trono do meu pai. Em minha imaginação, eles eram seres grotescos, nojentos, repulsivos. Mas o que eu vi naquele dia rachou a convicção que eu tinha nas histórias que meu povo contava.

Eles eram iguais a nós. Não eram repugnantes. Na realidade eram bem sem graça. Os únicos detalhes que nos distinguia eram a falta da luz das estrelas nos olhos e as orelhas pontudas.

Era um macho e uma fêmea. Estavam de joelhos diante do trono, tremendo e com os rostos cobertos de lágrimas. Os guardas faziam um círculo ao redor deles com as lanças apontadas para o centro.

De alguma forma aquelas criaturas tinham atravessado nossa dimensão e foram encontradas vagando em nosso reino.

- Levem-nos para a fronteira sul e se certifiquem que atravessem o portal. - falou meu pai para o chefe da guarda que fez uma reverência e saiu. Assim que ficou sozinho, meu pai deu um longo suspiro, apoiou o cotovelo no trono e falou em voz baixa esfregando a testa - Graças aos Iluminados eles não tocaram em ninguém.

Para o meu azar, meu pai percebera minha presença.

_ Ianty, o que faz escondido atrás do meu trono? - sua voz era calma mas sabia que receberia um catigo a altura por estar ali sem a permissão dele.

Sai do meu esconderijo e fiquei de frente para o meu pai e fiz uma reverência.

- O que você viu aqui permanecerá aqui, entendeu? - ele fez uma pausa e afirmei com a cabeça. Ele continou - Seria um perigo para o reino se outros feéricos soubessem desse incidente.

Fiquei em silêncio por poucos segundos. Minha curiosidade era maior que minha preucação.

- Eles não pareciam tão perigoso...

- Ianty! - ele não precisou aumentar muito o tom de voz para me fazer calar. Eu abaixei a cabeça. Meu castigo seria multiplicado por três. - Humanos são sujos, imundos, sem a luz. Nós, feéricos, ficamos impuros quando tocamos neles. É de conhecimento do nosso povo que tocar em um humano tira nossos dons celestiais e nos transformam em seres secos como cascas de árvores mortas. É isso que você quer para o nosso reino? Provocar o pânico e o caos?

Balancei a cabeça negando fervorosamente. Naquela noite tive pesadelos com humanos e árvores mortas.

***

300 anos depois

Ianty

Hoje foi o dia de celebrar o casamento do meu irmão. Meus pais estavam felizes e eu também. Todo o reino estava feliz com a união dos dois. Embora os Iluminados não tivessem presenteado meu irmão com uma Destinato, ele e sua noiva se gostavam muito. No futuro, seriam o rei e a rainha que meus pais tanto sonharam para sucedê-los. Nosso reino continuaria a prosperar e as estrelas nos abençoariam.

Toda vez que celebramos as núpcias de alguém eu lembro dos meus avós. Eles foram agraciados a serem Destinato. Era a forma mais pura e carinhosa de respeito pelo seu companheiro. O verdadeiro amor. Eles pareciam um. Tinham uma sintonia enorme e o poder de curar um a ferida ou doença do outro. Eu, na minha adolescência, desejei um amor igual aquele, mas hoje não tenho esperanças que seja agraciado com tal presente dos Iluminados.

De repente escuto um barulho. Quando olho pela janela vejo um canhão de luz escura descendo do céu até as terras do norte. Os cabelos da minha nuca se levantam e sinto um aperto no peito.

***

100 anos depois

 Ianty  

Meu povo está morrendo e não sabemos mais o que fazer. Essa doença misteriosa já levou minha mãe, meu irmão e sua noiva e a extinção várias cidades pequenas. Para o nosso desespero ainda não sabemos nada sobre essa enfermidade. Como se pega, como se transmite. Estamos no escuro. Além disso, um número considerável de humanos vem aparecendo em nosso reino e as aparições aumentando a cada ano. Estamos nos sentido tão perdidos.

Céu de Prata e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora