Capítulo 1 (terceira parte)

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III

E fomos todos de volta pra festa, que nesse momento não tinha quase ninguém, só aqueles que estavam muito ruins para ir embora e seus amigos mais fiéis que estavam com a tarefa de conduzi-los pra casa. Eu estava bem e fui a pé mesmo, já que não tinha mais ônibus e muito menos taxis por ali. Alguém me ofereceu carona, mas eu não era doido de voltar com quem com certeza tinha bebido. Cheguei em casa de madrugada, quase amanhecendo já, ouvi broncas da minha mãe que estava acordada, tomei um banho bem escroto e caí na cama, onde fiquei até me obrigarem a levantar, por volta das três da tarde.

Assim que retornei à consciência, uma ideia ruim começou a martelar na minha cabeça. Eu estava enjoado, com dor de cabeça e pensar merda não estava ajudando. E se ele contasse para alguém? Não, isso não, afinal a coisa toda foi recíproca. E se alguém tivesse visto ou deduzido alguma coisa? Isso eu teria que esperar pra ver. Eu não me sentia nem um pouco preparado para críticas e aborrecimentos, não era questão de dúvida, nem de personalidade fraca, apenas não era o momento de as pessoas saberem de tudo. E o Igor ainda era o meu maior inimigo. Cada mensagem que chegava, cada familiar me chamava pra conversar, era um susto que eu tomava. Mas passou o fim de semana e nada aconteceu.

Confesso que dediquei algumas horas do meu dia para vasculhar a vida pregressa do cara. Naquela época, quase todo bichinho de orelha tinha um perfil no Orkut, eu tinha e ele também, só que ele, ao contrário de mim, nunca postava nada. Mas tinha algumas fotos e então eu fiquei olhando, juro que até salvei algumas no meu computador. O que pretendia fazer com elas, até hoje eu não sei.

Na terça-feira seguinte era meu aniversário, dezoito anos de vida, mas não teria nenhuma festa em casa. Saí com a minha galerinha, todas meninas, a gente foi numa lanchonete, ficamos lá um tempo, cantaram parabéns para mim e tudo mais, depois a Amanda comentou que o Igor ia jogar handebol mais tarde e eu, sem querer transparecer, botei pilha pra gente ir à quadra. E fomos pra lá, tinha bastante gente, mas conseguimos uma boa posição na arquibancada. Quando chegou a vez do time do Igor jogar, as meninas que estavam comigo ficaram fazendo o maior escândalo, pois tinha uns carinhas até mais ou menos lá, o Igor era um deles, tímido pra caramba, abaixava a cabeça quando gritavam o nome dele.

Assisti tudo até o final, mas nem olhei muito o menino, e quando olhei, aproveitei para zoar. Mas eu estava curtindo secretamente... Quando acabou tudo por lá eu saí, me despedi de todos, mas fiz hora na rua pra ver se eu teria sorte dessa vez, esperei, esperei e nada. Já desanimado, resolvi ir para casa, mas logo depois, para a minha desagradável surpresa, acabei topando o Igor parado numa esquina conversando com uma menina, todo cheio de graça. Aquilo me deu uma sensação ruim, no começo foi tristeza, mas pouco depois se transformou em raiva. Ele me olhou e eu desviei o olhar, se estivesse mais perto com certeza eu socaria a cara dele, mas passei do outro lado da rua e fingi não ligar.

Assim que saí da vista dele, se ele estivesse olhando, é claro, eu acelerei a caminhada, só pensava em chegar logo ao meu quarto e não ver mais a cara de ninguém. Mas, pra não perder o costume, em pouco tempo o infeliz me alcançou com seus passos largos, eu não imaginava que ele viria atrás de mim, mas sabia que era ele, por isso não me assustei. Pela respiração, senti que ele estava rindo, mas nem olhei pra não perder a compostura. Ele não se deu por vencido e começou com as provocações.

— E aí, o que achou de me ver jogando?

— Manjo nada de jogo cara, só tava com as meninas mesmo — respondi sem diminuir o ritmo.

— Sei... E esse ciúme aí?

— Ah, dá um tempo, tá querendo o quê, hein?

— Nada, uai. Mas sei não, acho que você foi atrás de mim. Deve ter curtido a pegada e tá querendo terminar a parada lá.

Meu Mais ou Menos Inimigo (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora