Alguns dias passaram desde que fui com a Ariana e a Sara ao shopping. Hoje, finalmente, chegou o dia de nos mudarmos para a casa que seria a nossa durante os próximos três anos. Casa onde vamos passar muito tempo (ou talvez não), onde vamos estudar muito (ou talvez não) e onde, com certeza, iremos criar muitas das nossas memórias. Nós já tínhamos trazido tudo para cá ao longo dos últimos dias, por isso, hoje, tudo o que temos de fazer é trazer compras de mercearia. Compramos metade do hiper-mercado para termos sempre o que cozinhar mas algo me diz que acabaremos o ano a comer lasanhas de micro-ondas.
"Tens a certeza que tens lá tudo o que precisas? Não precisas que te compre nada para levares?" pergunta a minha mãe.
"Mãe, já está lá tudo. E se me esquecer de algo, não vou estar assim tão longe, posso sempre vir cá no fim-de-semana buscar."
"Por favor, comprem fruta e legumes. Eu que não descubra que vocês se andam a alimentar de porcarias." continua a mãe-galinha.
"Sim mãe, está bem mãe, ok mãe! Não precisas de te preocupar comigo, já sou crescidinha, sabes? Apesar de ainda não saber muito bem como vou fazer sem os cozinhados do pai..."
"Como se eu não soubesse que não vais sobreviver sem a minha comida. Não fosse eu o melhor cozinheiro que já conheceste não é?" diz o meu pai, cheio de humildade e modéstia. A verdade é que o meu pai é mesmo o melhor cozinheiro do mundo. A minha mãe odeia cozinhar, mas o meu pai, em contra-partida, adora e é sem dúvida bom a fazê-lo. Costumo dizer-lhe para se dedicar mais a isso, até porque já está mais do que claro de que é o sonho dele, mas ele é teimoso e mete na cabeça de que já não tem idade para aprender coisas novas. Ridículo, não é? Mas não posso falar muito, até porque herdei a teimosia dele e sei bem que é mais fácil fazer o Sheldon Cooper tocar numa sanita pública do que fazê-lo mudar de ideias.
"Bela forma de assassinar a modéstia pai, estou comovida!"
"Agora falando de assuntos sérios, próximo fim-de-semana vens a casa? Vais ligar todos os dias, certo? Se houver algum dia que não ligues, eu chamo a polícia e declaro o teu desaparecimento, estamos entendidas?" diz a minha mãe, com uma cara tão solene que quase parece que está a falar a sério (ou será que está?).
"Mãe, acho que se continuas a dizer coisas dessas, a única coisa que vais conseguir é que ela só apareça aqui em casa outra vez quando já estiver casada, com filhos, 3 cães e 5 netos..." diz o meu irmão, Filipe, a entrar na cozinha.
"Eu até estou a achar piada, até porque também tive que sofrer com isto quando saí de casa, por isso agora é a vez aqui da nossa mais nova." A minha irmã Matilde junta-se à nossa conversa. Ela é a mais velha dos três e já há algum tempo que comprou uma casa e foi viver com o namorado e agora também o meu sobrinho, Afonso, que é a coisa mais fofa da minha vida (e a maior pestinha também).
"Engraçada, não podias sofrer sozinha, não é?" digo eu a revirar os olhos mas sem conseguir conter o sorriso.
"Óbvio, não penses que há privilégios nesta família." diz ela.
"Bem, por mais que eu gostasse de continuar aqui esta bonita conversa de família, eu tenho de ir. Já sabem como é que aquelas duas são..." digo eu, enquanto começo a pegar no último saco para levar para o carro.
Depois de dar um abraço a cada um deles, eles acompanham-me até ao carro que está estacionado em frente à nossa casa.
"Tenta não fazer muitas asneiras!" diz o meu irmão.
"Por favor, tem juízo e liga todos os dias!" diz a minha mãe.
"Vai dando notícias e vê se arranjas um namorado!" diz a minha irmã. Por esta altura, já estava quase a ficar sem olhos de tanto que os estava a revirar.
"Vê se vens no próximo fim de semana, assim eu preparo alguns Tupperware's da minha comida para levares!" diz o meu pai. O que ele disse fez com que ele merecesse um super sorriso e um abraço extra.
"Por favor, tentem não ter demasiadas saudades minhas, ok? Eu prometo que vou ligar todos os dias, e sim, eu virei a casa no fim-de-semana!" digo eu.
Agora que acabamos de nos despedir, entro para o carro com um certo sentimento de nostalgia por antecipação. Sim, nós sonhamos a vida toda com o momento em que temos a nossa independência, mas confesso que não é fácil. Não vou ter agora a casa barulhenta com risos, com resmunguices, o cheiro dos bolos do meu pai no ar... Bem, isto é o começo da vida de adulta, então bora lá!
Chego finalmente ao estacionamento na frente do prédio onde vou morar com as loucas a quem chamo de amigas. Estaciono o carro e vejo que o carro da Ariana já aqui está.
O prédio onde vamos viver nos próximos anos das nossas vidas é um prédio de 9 andares perto do centro da cidade. O nosso apartamento fica no último andar, o que é algo que nós sempre quisemos. Obviamente, o prédio tem um elevador (nunca na vida conseguiria chegar sequer ao 3º andar pelas escadas). O apartamento tem uma cozinha, uma sala de estar/sala de jantar, duas casas de banho e três quartos. Mas isso nada tem de interessante comparado com o super terraço que temos! Quando visitámos o apartamento pela primeira vez, simplesmente soubemos logo ali que era ali que iríamos passar os próximos três anos.
Depois de pegar nas minhas coisas e de subir nove andares de elevador, finalmente chego à porta do apartamento. Confesso que estou a sentir algumas borboletas na barriga. Finalmente, pela primeira vez, vou abrir a porta da minha independência! Peço desculpa por essa metáfora super lamechas, mas é exatamente assim que me sinto neste momento! Bem, vamos lá abrir esta porta.
"Bem-vindaaaaa! Foste a segunda a chegar, Íris! Bem-vinda ao nosso novo "lar-doce-lar"!" grita a Ariana assim que abro a porta.
"Quase me matas do coração, mulher! Nem acredito que finalmente estamos aqui!!" digo eu de uma forma talvez demasiado histérica. Enquanto isso, vamos levando as minhas coisas para a sala de estar.
"Mesmo! Estamos por nossa conta, acreditas? Estamos mesmo no nosso apartamento onde três doentes mentais vão viver durante três anos!"
"Ainda nem acredito que os nossos pais nos deixaram ficar as três juntas num apartamento só... Algo me diz que por esta altura já se arrependeram do voto de confiança que nos deram..." digo eu, entre risos.
"Chegueeeeeei, bitches!" ouvimos a Sara a gritar da porta. Começamos automaticamente a correr e mais uma vez, começa o histerismo coletivo.
"Bem-vinda ao nosso humilde lar!!" digo eu.
"Bem-vinda à casa das pessoas mais fixes do mundo!" diz a Ariana ao mesmo tempo.
"Oh meu Deus, meninas!! Ainda nem acredito!!!" diz a Sara entre guinchos (por esta altura, já estou quase surda com tantos berros que já demos).
"Meninas, chegou o momento. Trouxe aquilo que pediram e já pus no frigorífico, assim que cheguei aqui." diz a Ariana.
"Say no more!" digo eu e a Sara ao mesmo tempo.
Corremos as três ao mesmo tempo para a cozinha. Enquanto a Ariana tira a garrafa de champagne do frigorífico, eu vou buscar as taças de champagne de plástico que trouxe junto com as minhas coisas, hoje. A Sara serve o champagne e levantamos as nossas taças.
"Um brinde à nossa nova casa!" diz a Ariana.
"Um brinde à nossa nova cidade!" diz a Sara.
"Um brinde à nossa nova vida!" digo eu.
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Olá olá!!
Aqui está o segundo capítulo do meu primeiro livro em português. Espero que gostem!
Na verdade, tenho uma dúvida: acham que deveria continuar a escrever o livro com os verbos no presente? Ou ficaria melhor se colocasse os verbos no passado?
Deixem o vosso like, comentem e se houver algo que vocês mudariam, estão à vontade para me dizer!!
Beijinhos beijinhos,
Ana!
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Vida, por favor, abranda!
Roman pour AdolescentsA Íris é uma rapariga de 18 anos que acabou de sair do secundário e está prestes a começar uma nova etapa: faculdade. Ela já passou por muito mas, apesar de tudo, consegue manter-se positiva e divertida. Ela também é uma pessoa um pouco sarcástica e...