Um amigo um tanto quanto diferente

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Fiquei o final de semana todo sem ver meu novo amigo, confesso que sinto falta dele, gosto de ouvir ele falar, gosto do seu jeitinho meio desanimado. Estava pensando em antes de ir para a escola na segunda, eu dar uma passadinha no esgoto para vê-lo um pouco, claro que eu teria que acordar bem cedo. Me levantei como eu planejei, peguei o que precisava e fui para a cozinha pegar algo para comer no caminho já que mamãe ainda não havia acordado. Saí de casa e fui direto para o esgoto, com uma certa animação. Entrei por onde sempre entrava e, parado perto das paredes pichadas, pude ver o balão vermelho no qual Pennywise havia me dito aquele dia. Apenas encostei meus dedos nele e o mesmo foi me guiando por aquele enorme labirinto fedorento. Isso era genial! Segui o brilhante balão vermelho onde estava escrito, um pouco apagado, "I love Ruston". Percebi um barulho vindo do lugar onde se localizava a pilha de brinquedos e, quanto mais eu me aproximava, mais o barulho se intensificava. Estava mais para um rugido misturados com bufos iguais a de um touro. O som ecoava pelas paredes e eu temia o que seja lá que estivesse fazendo esse barulho mas mesmo assim continuei a ir em frente, com muito medo mas continuei. Assim que cheguei no lugar, me deparei com uma cena medonha que fez os pêlos da minha nuca se levantarem: quatro corpos de homens esticados no chão, sem vida, com suas entranhas para fora, muito sangue e... Pennywise, com uma barra de ferro enorme atravessada seu peito, abaixo do coração. Ele estava gigante, quase o dobro de seu tamanho comum! Seus dentes também se encontravam enormes e em grande quantidade, saltando de dentro de sua boca. Garras saiam de dentro de suas luvas rasgadas e um líquido fiscoso e transparente escorria entre seus dentes passando para seu queixo e, finalmente, pingando no chão, parecia uma torneira vazando. Era dele que saía aqueles rugidos e bufos. A medida que ia me aproximando dele, os rugidos iam mudando para choramingos. Sabe quando um cachorro está com muito medo então ele se encolhe em um canto e começa a chorar? Pois é, Pennywise se encontrava nessa situação:

-" Pennywise... O- o que aconteceu aqui?"- perguntei, já próxima do palhaço. Ele não respondeu, ele só choramingava e tentava alcançar a barra de ferro que o atravessava-" Não se mexe não, eu vou te ajudar..."- agarrei o objeto e fui puxando de vagar mas, mesmo assim, ainda o machucava. Não tinha outro jeito, ele teria que aguentar. Fui puxando-o do jeito mais delicado possível, até que estivesse totalmente fora. O palhaço desmoronou no chão de fraqueza, o mesmo estava ofegante. Me sentei ao seu lado, retirando os fios ruivos de seu cabelo grudado com suor na frente de seus olhos:

-" Você está bem?"- ele não respondeu, apenas me encarou e desviou o olhar-"Por favor, me diz o que aconteceu aqui?!"- ele não ia responder mesmo. Peguei minha mochila e retirei algumas coisas de dentro:-" Eu trouxe...algumas coisas para você. Os livros que eu te prometi, pipoca que minha mãe fez ontem e um cobertor, você disse que aqui vazia frio, então está aqui"- eu consegui perceber que ele se esforçava para sorrir e isso me deixou feliz, foi quase um 'obrigado'-" Eu.. eu queria ficar e cuidar de você, quem sabe até entender o que houve mas tenho aula agora. Mas eu prometo que vou voltar ainda hoje, tudo bem? E-eu só preciso saber se você vai ficar bem..."- Pennywise levantou uma das mãos e, com muita dificuldade, a levou até o saquinho de pipocas, levando uma única até a boca com a ponta das garras. Acho que isso foi um sim-" Certo, eu volto mais tarde... Não saia daqui, preciso encontra-lo quando retonar"- acariciei sua bochecha com o polegar, peguei minha mochila e fui embora. Eu fiquei o dia todo pensando se ele ia ficar bem e sobre tudo o que eu vi. Quase não concentrava na aula e minhas amigas perguntavam todo o tempo se eu estava bem. A escola toda veio saber o porque do meu sumiço repentino, apesar de eu não ser muito popular, tive que criar paciência para responder todos. No recreio, eu fui jogar com as garotas na quadra e o professor Mark veio até mim:

-"Melissa? Por onde você andou garota? Sentimos a sua falta. Eu fiquei sabendo do que aconteceu, deve ter sido momentos difíceis para você"

-" Ah, er, pois é..."- fofoca espalha rápido né?

Clown sweet clownOnde histórias criam vida. Descubra agora