Ensaiei meu samba o ano inteiro
Comprei surdo e tamborim
Gastei tudo em fantasia
Era só o que eu queria
E ela jurou desfilar pra mimEnquanto o mestre da bateria dava o tom e o compasso dos surdos marcava o passo do samba, toda a escola ensaiava na quadra lotada o samba-enredo escolhido para esse ano.
Era mais um ensaio da Unidos de Konoha, a única escola de samba de todo o país composta majoritariamente por nipobrasileiros, em um ano mais do que especial, já que esse ano homenagearíamos os 110 anos da imigração de nossos avós para o Brasil, então todos nós estávamos com a letra na ponta da língua e o ritmo na ponta do pé.
Ensaiamos o ano inteiro que se passou desde o carnaval passado. As fantasias, que iam de gueixas e samurais até os famosos personagens de animes e mangás e estavam quase todas prontas. As alas sincronizadas, os passistas com todo o pique no ritmo da bateria de Mestre Kira e era quase certo como chuva para abençoar a avenida nos dias de folia que daríamos um show por toda a Marquês, assim como fazia aquela morena ao lado da Karui, nossa rainha de bateria, mas sem ficar por baixo um segundo que fosse, atraindo meus olhos enquanto requebrava a todo o vapor, me chamando.
— Vem sambar comigo, Kono! - e mais uma vezes não podia perder a oportunidade de estar com a Hanabi, a musa da escola, na verdade, a minha musa, com quem dancei como se fosse um verdadeiro mestre sala, fascinado com o seu gingado, até que ouvimos o apito final e a bateria então parou, com as batidas instrumentais sendo substituídas por palmas.
— Salve Mestre Kira, salve bateria Furacão! - disse nosso intérprete enquanto todos se dispersavam para assistir ao show de outro de nossos famosos torcedores, mais eu não me interessava, nem tinha tempo, para aquilo, por isso fui até o barracão que fica do outro lado da rua, verificar se realmente não faltava nada, mas, diferente do que esperava, tudo estava vazio.
— Boa noite, Sai, cuidou de tudo? - chamei pelo carnavalesco que, pelo visto, deve estar no salão.
Senti mãos tocando minhas costas, sorrindo por ter certeza de quem se tratava.
— Acho que falta tirar as minhas medidas… - sua voz risonha era tão excitante que eu não resisti a ela, me virei e então fui beijado – e beijei –, por Hanabi, que parecia ter me seguido até ali propositadamente, me sorrindo maliciosa.
Só quando abri os olhos e voltei a mim, notei que ela havia fechado a porta do barracão e agora estava praticamente nua, me entregando a fita métrica para que eu medisse suas curvas que tanto me atraem.
— Acho que precisamos fazer isso logo, não é? - retruquei no mesmo tom de seu riso, medindo seu busto, sua cintura, seu quadril e suas coxas, que caberiam perfeitamente na fantasia preparada exclusivamente para ela que eu mandei Sai preparar. - Tudo no lugar… - disse deixando os números e abraçando seu corpo, enquanto ela me enlaçava com a fita, rodopiando com ela em meus braços.
Eu a beijei, lhe deitando sobre os retalhos de cetim que forraram o chão por todo o ano e que agora nos serviam de colchão enquanto nos amassávamos, beijávamos e entregávamos a paixão que há muito tempo vivia em nós e que tantas vezes violou aquele quase que sagrado espaço.
Que culpa tinha eu de ter uma musa tão bela e sedutora? De me encantar pela pureza daqueles olhos e sob esse encanto caminhar pelas curvas de seu corpo, lendo-o como uma poesia escrita em braile, antes de me afogar entre seus seios sem ligar pro suor que emanávamos cada vez mais? De delirar enquanto ela tirava minha roupa e me tocava sem pudor, com toda a malícia e sensualidade de um samba.
Ah, o samba! Nem por ele sinto algo tão forte quanto o que sinto por essa beldade que me vestia a proteção, me aceitava entre suas pernas e arranhava minhas costas enquanto eu mergulhava dentro de si, beijando seu pescoço, sentindo o calor da temperatura de nossos corpos, que era superior à do local mal arejado no qual estávamos.
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Retalhos de Cetim
FanfictionEu só esperava que o nosso amor não fosse como uma chuva de verão, só um amor de Carnaval, mas ele acabou no dia do desfile da minha escola quando ela disse que não ia mais desfilar pra mim é me fez chorar em meio à avenida. Mas bem, a Hanabi é nota...