jasmine tea

frustrações e pinturas inacabadas

Líquido quente posicionado a minha frente. Eu observava a fumaça subir e se desfazer no ar, espalhando o aroma de chá de jasmim por todo o ambiente. Aroma tão familiar pra mim, cheiro dos teus cabelos pós-banho.

Tão belo com a toalha enrolada nos cabelos claros e as patinhas de mr. hudson a puxar os fiapos do tecido. O gatinho inquieto no teu colo te levava a franzir o nariz e soltar risos curtos.

De onde eu me encontrava, podia observar-te bem sem ser pego no ato. Eras tão gracioso, como um quadro bem pintado. Cada detalhe fora precisamente  executado pelo teu criador, não havendo falhas na maneira como teus traços se ligavam. Não havendo falhas na escolha de cores, da tua pele alva até os olhos negros.

As folhas brancas, ainda em meu colo, e as tintas sobre a mesa, o chá esfriando e meu foco indo para tua presença no outro canto do cômodo da casa, da nossa casa.

Pois antes eu vivia de pintar em preto e dourado, rascunhos brutos e detalhes imprecisos. Mas agora minha paleta ia de tons pastéis a escuros, meus pincéis manchavam minhas mãos em arco-íris no canto dos dedos.

Planejava pintar-te exatamente como tu eras, porém tuas cores fortes pareciam opacas demais naquela aquarela. Já na minha décima tentativa de retratar minha tão grande inspiração. Inspiração essa que se escondia por baixo de uma camisa larga que fora surrupiada do meu armário, coxas desnudas e a voz suave cantarolando algum jazz antigo.

E quando passaras por mim, deixando um beijo na minha testa, trouxe contigo o frescor da sua fragrância que se misturava ao líquido que agora ia de encontro aos meus lábios.

Ao voltar a atenção a tintura foi quando entendi que jamais seria capaz de retratar-te em perfeita simetria, visto que pinturas não carregam cheiro além de tinta, dessa forma teu aroma de jasmim não seria transmitido.

Nunca seria capaz de delinear de forma acurada o balanço dos teus quadris ao dançar ao som de uma música que só tocava na tua cabeça enquanto o pequeno gato branco pulava de um canto para o outro seguindo-te.

Nem mesmo o melhor artista conseguiria recriar-te da forma que realmente és, com todas as nuances e pormenores. Tampouco eu, apaixonado em demasia, de tão baixa capacidade e olhar leviano.

E isso não era um fato que incomodava, pois juntos podíamos colorir o mundo da forma que quiséssemos. Como quando eu puxei teu corpo para perto do meu e juntos passamos a dançar no silêncio da sala, tons que não combinavam e traços confusos mas ainda assim belos, passando a ser uma das minhas pinturas favoritas, que jamais seriam expostas em telas, a não ser no museu mental que costumávamos chamar de memórias.