Pedrinho empurrara o criado-mudo para perto do guarda-roupas com a ajuda do seu irmão Luís Paulo. Agora estava discutindo se seria ele ou Luís Paulo que subiria para pegar a caixa.
- Eu não quero subir – resmungou o pequeno Luís Paulo, que era alto para uma criança de dez anos. – Você sabe que eu tenho medo de altura.
Pedrinho continuou olhando para seu irmão caçula com desdém. Pôs os pés sobre o criado-mudo e foi levantando devagar. A caixa estava próxima da sua mão, mas ainda assim ele não alcançava. Começou a ficar na ponta dos pés, o máximo que seu equilíbrio permitiu.
Seus dedos tocaram a caixa e ele sentiu um ânimo por dentro. Estava perto de saber o que seu avô guardava naquela caixa. Desde quando a vira sendo guardada com tanto zelo na parte mais alta do guarda-roupas, sua mente fértil logo imaginou os possíveis segredos que um velho poderia guardar num lugar tão escondido.
- Vai rápido – disse Luís Paulo com medo na voz.
- Falta muito pouco – Pedrinho agora podia sentir a caixa escorrendo para fora.
– Peguei!
Luís Paulo deu gritinho de excitação e até bateu palminhas. Pedrinho correu para a cama do seu avô e Luís Paulo sentou ao seu lado. Estavam prontos para abrir a caixa, quando o inesperado aconteceu.
- Pedrinho! – o avô do garoto surgira na porta e entrara pelo quarto com uma velocidade incompatível para a sua idade. – O que está fazendo com isso na mão?
Pedrinho apenas emudeceu, enquanto via seu avô puxar a caixa do seu colo e recolocar no guarda-roupas. O velho olhou para os garotos com um olhar irritado, mas deve ter percebido o medo na face de seus netos, pois seu semblante logo mudou para um tom mais consolador. Aproximou-se da cama e sentou no meio dos dois garotos.
- Crianças – a sua voz era suave e agradável -, vocês não podem mexer nas coisas das pessoas sem permissão.
Apesar da repreensão, Pedrinho não achou seu avô severo.
- A curiosidade é um mal descomedido da humanidade – o velho prosseguiu. Pedrinho se esforçou para entender o significado de “descomedido”. – Várias pessoas já se deram mal por causa da sua curiosidade. Conheço várias histórias de homens que se arrependeram de colocar o nariz onde não deveriam.
- Vai nos contar uma história, vovô? – questionou Luís Paulo animadamente.
O velho sorriu.
- Se vocês deitarem agora para dormir, eu conto uma bela história para vocês.
Pedrinho, desde quando lembrava que era gente, sempre ouvira histórias e fantasias do seu avô quando ia passar as férias em sua casa. Era um ritual divertido para ele e seu irmão.
Ele e Luís Paulo correram para o quarto e, cada um na sua cama, deitaram.
Uns instantes depois o velho surgiu arrastando os pés cansados e sentou-se, no meio das camas, num banquinho de madeira tão baixo que deu pra ouvir as costas do velhinho rangendo enquanto ele se agachava para sentar.
Ele deu um sorriso e começou a falar sobre certo príncipe que caminhava pelos arredores do castelo.
- Vovô! – retrucou Luís Paulo. – Não queremos histórias de príncipes. Elas são chatas!
- É verdade, vovô – confirmou Pedrinho. – Queremos uma história de adultos. Já crescemos demais para ouvir contos de fadas.
O velho se pôs a rir. Pedrinho se sentiu envergonhado com aquela gargalhada.
- Está bem então – seu avô falou, voltando a ficar sério. – Vou lhes contar uma história de gente grande. Uma história terrível, que aconteceu num lugar muito longe daqui, sobre um homem muito curioso e que aprendeu da forma desagradável a não ser xereta.
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O Quarto 06
HororCONTO COMPLETO O que acontece quando a sua curiosidade te coloca em perigo? Quando o vendedor Miguel se hospedou num pequeno hotel à beira da rodovia, ele não imaginou que a sua curiosidade mudaria para sempre a sua vida. Este pequeno conto foi cont...