Nós, construímos o nosso destino. São as pessoas que o constroem. Para dizer a verdade, elas constroem tudo. Cada um de nós tem de construir tudo o que tem. Cada um constrói as suas relações, a sua carreira, a sua vida... E para isso tem de trabalhar e de se esforçar. Tem de dar o seu máximo. A construção do nosso destino leva anos. Anos de trabalho e esforço e num minuto, tudo pode ser arruinado.
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- Annie? - Ouvi a voz da minha mãe chamar do outro lado da porta.
- Sim mãe?
- Despache-se, senão vai chegar atrasada. - ela disse num tom reprovador.
- Claro, estou quase pronta. - respondi e olhei o meu reflexo no espelho. O meu cabelo encontrava-se preso num coque no cimo da minha cabeça. Vestia um maillot preto de alças e uns calções desportivos da mesma cor. Olhei-me uma última vez e suspirei agarrando na minha mala e saindo do quarto em seguida. Desci as escadas e ouvi passos apressados na minha direção. Olhei para trás e deparei-me com Grace, a nossa governata.
- Só queria desejar-lhe boa sorte menina. - Ouvi-a dizer baixinho.
- Obrigada Grace. - agradeci com um sorriso no rosto.
Ela sorriu-me também antes de voltar para a cozinha. Saí de casa e fui até ao carro onde os meus pais me esperavam impacientes. Ao entrar a minha mãe começou logo a reclamar.
- Parece que não se importa com isto. Vai fazer uma audição para a melhor escola de dança do país e parece que nem quer saber. Nós investimos tudo em si e a menina o que faz é chegar atrasada.
Argumentar não valia a pena então limitei-me a desculpar-me - Peço desculpa mãe, prometo que não voltará a acontecer.
Pus o cinto e senti o carro entrar em movimento. Estava a olhar pela janela sem prestar grande atenção ao caminho e de repente ouço a minha mãe gritar.
- GEORGE, CUIDADO!
Uma forte pancada fez com que batesse com a cabeça no vidro. Senti o carro dar voltas no ar, e quando embateu no chão novamente, ficou tudo preto.
Sentia a cabeça a latejar e alguma coisa a esmagar-me o peito, impedindo-me de respirar em condições. Mexi um dos meus braços e comsegui chegar ao meu telemóvel. Marquei o número de emergência.
- Boa tarde, qual é a emergência?
-Tivemos um acidente...
Foi tudo o que consegui murmurar antes de perder os sentidos.
(...)
Acordei numa cama de hospital. Estava ligada a vários tubos. Tentei sentar-me mas a dor no meu paito fez com que me voltasse a baixar e fechasse os olhos por uns segundos. Soltei um pequeno gemido de dor no preciso momento em que um médico entrou no meu quarto.
-Já está acordada!- o médico sorriu
-O que aconteceu? - perguntei confusa
-Bem, teve um acidente de carro.
Pensei nas palavras do médico e as imagens voltaram à minha cabeça, rebobinando até chegar a grito da minha mãe. Os meus pais... Queria perguntar-lhe mas sinceramente estava mais interessada em saber como eu estava.
- O que vai aconteceu comigo?
- Então, o capot do carrou esmagou a sua caixa torácica que já foi reconstruída e houve também uma fratura interna na costela. Teve muita sorte, foi por pouco que não ficou paraplégica.
- Isso quer dizer que posso voltar a dançar? - perguntei com um pequeno sorriso no rosto
- É algo que por agora não sabemos, mas receio que não.
Tudo o que havia construído desde os meus seis anos de vida fora destruído por este estúpido acidente. Por mais que soubesse que provavelmente a culpa não fora dele, não conseguia parar de culpar o meu pai pelo sucedido. voltei a lembrar-me dos meus pais e acabei por perguntar por eles.
- Os meus pais, onde estão?
O médico sentou-se na minha cama e percebi que as notícias não eram boas.
- O seu pai... - ele fez uma pequena pausa - faleceu ainda no local do acidente e a sua mãe ainda resistiu, mas acabou por falecer também há cerca de uma hora atrás.
Por mais que tentasse, não conseguia estar muito triste com isso. Tudo o que eles sempre fizeram foi ignorar-me. E quando não o faziam era para colocar imensa pressão sobre mim. Sempre exigiram uma filha perfeita e fizeram de tudo para tentarem consegui-lo. O médico retirou-se do quarto, deixando-me sozinha.
Só mais tarde, depois de refletir sobre o sucedido é que me apercebi.
Eu estava sozinha.