Epílogo

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Soltar a mão de Sasuke quando chegamos à Konoha, segundos antes da escuridão tomar o céu, doeu quase fisicamente. Ouvir quando o conselho propôs a pena de morte me fez literalmente perder a sanidade. Foi surpreendentemente mais fácil lidar com os Kages do que com o conselho de Konoha. Gaara tinha se colocado ao meu lado antes mesmo de eu pedir. Bee me ajudou a convencer o Raikage. Os outros dois tinham mais receios, mas já eram minoria. Assim, concordaram em abrir mão de punir Sasuke pelos crimes que ele havia cometido contra eles. Mas o conselho... Maldito preconceito contra os Uchihas.

O que era ainda mais desesperador era observar o olhar resignado de Sasuke, como se ele aceitasse qualquer que fosse a decisão. Mas eu não aceitava, jamais aceitaria. Assim não descansei até conseguir fazer eles mudarem de ideia. Contei como sem Sasuke teria sido literalmente impossível vencer aquela guerra. Implorei a Kakashi-sensei que fizesse pressão, o que ele me disse que já faria de todo jeito.

A decisão alternativa, embora ainda fosse dolorosa, foi um alívio. Exílio. Sasuke não poderia mais voltar a Konoha, mas deveria mandar relatórios constantes de sua posição e atividades. Se falhasse uma única vez seria caçado e não haveria piedade. Sasuke apenas concordava. Sua expressão era indecifrável. Ele deveria deixar Konoha na manhã seguinte. Embora meu coração pedisse por isso eu sabia que não poderia ir com ele. No ano em que levou para o julgamento de Sasuke ser concluído eu já havia começado a trilhar meu caminho até meu sonho. Era apenas questão de tempo até eu ser Hokage. Kakashi-sensei assumiu o posto quando Tsunade obaa-chan renunciou poucos meses após a guerra e tinha assumido o compromisso de me preparar. E eu sabia exatamente a primeira coisa que faria quando o momento chegasse. Então não podia falhar.

Me aproximei de Sasuke na entrada da vila para me despedir. Não me importei com a dúzia de ninjas de elite que o escoltavam para fora de Konoha e o puxei para um beijo desesperado. Parecia que fazia eras desde que o beijara pela última vez, mesmo que tenha sido a poucas horas. Não gostava nem de pensar em quanto tempo demoraria até poder beijá-lo de novo. Na noite anterior, que passei quase toda junto com ele em sua cela, não podendo ligar menos pro que os velhos do conselho pensariam sobre isso, Sasuke me fez prometer que não iria procura-lo.

— Você tem que se concentrar em tudo que precisa aprender e eu... bom, eu tenho que tentar me redimir pelo menos um pouco pra te merecer.

— Você não precisa me merecer Teme, eu já sou seu.

— E eu sou seu. E sempre vou ser, não importa que estejamos longe, não importa quanto tempo passe. Mas eu preciso desse tempo. Preciso ver o mundo com o novo olhar que tenho graças a você. Você me salvou Naruto, mais de uma vez. Eu não sei como mas você conseguiu me perdoar por tudo que fiz e ainda convencer os outros a fazerem o mesmo. Mas eu preciso me perdoar também, preciso dessa penitência pra isso. E você precisa estar aqui, cumprindo o papel que sempre foi destinado a você.

— Mas eu vou sentir sua falta...

— E eu também. Mas não é um adeus. E dessa vez eu não estou fugindo. Mesmo longe nós estaremos juntos porque eu jamais poderei me separar de você novamente.

Com essas palavras e um beijo casto ele me convenceu. E eu iria cumprir essa promessa. Então, surpreendentemente vê-lo se afastar em direção ao seu exílio foi menos doloroso do que imaginei. Porque sabia que pertencíamos um ao outro e que eu faria de tudo pra tê-lo por perto novamente, dessa vez com a certeza de que ele viria assim que pudesse.

Os meses passavam e eu treinava e estudava como um louco para me manter ocupado. Quanto mais rápido eu desenvolvesse as habilidades que precisava para se Hokage, melhor. A cada relatório de Sasuke meu coração se acelerava, só de ver o falcão se aproximar eu já ficava ao mesmo tempo mais ansioso e mais calmo. Sasuke aproveitava para mandar informações dos lugares pelos quais passava, falando como as vilas menores estavam reagindo no pós-guerra. Junto com os relatórios ele sempre mandava pequenos bilhetes para mim. Nunca falava de seus sentimentos, mas me contava como estava tentando ser alguém melhor. E eu respondia que também estava melhorando, por nós dois.

Embora eu mantivesse minha promessa de que não o procuraria era inevitável não ficar atento aos arredores quando saía em missão, procurando por seu chakra ou seu falcão por onde andava. Nos vimos uma única vez, sete meses após sua partida, num povoado perto da vila da Névoa. Nos amamos de maneira tórrida naquela noite e embora tenha me sentido vazio ao acordar e não ter Sasuke ao meu lado, seu cheiro em mim me dava a força necessária para continuar.

E continuei. Por um ano. Dois. Três anos inteiros se passaram desde a última vez que nos vimos. E finalmente a hora tinha chegado. Em uma semana eu assumiria o posto que almejei a vida inteira. Mas não teria o menor sentido se ele não estivesse comigo. Assim, pedi a Kakashi-sensei que mandasse uma missão a Sasuke num lugar específico, pra eu saber onde encontra-lo. Na manhã do dia de minha posse saí de Konoha rumo ao pequeno povoado que ficava a duas horas de distância. Não foi nada difícil encontrar o chakra que conhecia tão bem. Sasuke não pareceu alarmado com minha presença, mas estava sério.

— Você prometeu Naruto.

— Também senti sua falta.

Ele não pode disfarçar o sorriso que deu antes de nos abraçarmos fortemente. Porém, antes que nossas bocas se tocassem, me afastei.

— Como você está?

— Bem. E você? Vejo que aceitou ter o braço implantado...

— Sim, foi um pouco depois da última vez que nos vimos. Na verdade nem sei porque relutei tanto.

— Hm.

— Sasuke, como você está?

— Já disse que bem, Dobe.

— Não... eu me refiro a sua... situação. Você já viu o que precisava no mundo?

Agora sim Sasuke ficou surpreso.

— Eu vi... muitas coisas. Algumas horríveis, outras belas. Eu tenho me esforçado. Mas não sei se um dia de fato poderei me redimir por tudo o que fiz.

— Você já se redimiu há tempos Sasuke. Tem que se perdoar. Eu preciso de você.

— O que quer dizer?

Dessa vez o beijei com carinho, sentindo um arrepio de alívio no momento em que nossos lábios se tocaram, como se fosse oxigênio entrando em meus pulmões após estar há tempos submerso.

— Quero dizer: vamos pra casa.

— Naruto, sabe que...

— Chegou o dia Sasuke. Eu assumo hoje. Meu primeiro decreto assinado é a suspensão da sua pena e sua reintegração oficial entre os ninjas de Konoha. Eu preciso de você ao meu lado como Hokage e como homem. Eu preciso de você. Você vem? Você estará comigo?

Os olhos de Sasuke estavam arregalados, sua boca aberta em surpresa. Pareceu uma eternidade o tempo que ele passou me encarando antes de responder.

— Estarei sempre contigo Usuratonkachi. Vamos pra casa.

E foi naquela noite, após a festa de minha posse, com Sasuke adormecendo no meu colo sendo a única peça de roupa em nós a minha capa de Nanadaime Hokage jogada sobre seus ombros para protege-lo do vento que entrava pela janela, que eu conheci o verdadeiro sentido da palavra plenitude, tendo tudo o que sempre quis e mais do que poderia imaginar.

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