Capítulo 7: A dúvida

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"Incerto é o amor  se de negro véu, mantém o amante coberto"


A luz das recordações recentes, vivi em casa preocupada. Tentei ficar quieta, mas toda essa situação foi me deixando cada vez mais angustiada.

E então, mais uma vez perdi a cabeça e agi como uma miúda. Fui a cantina do colégio - o meu pior pesadelo! - e a dado momento resolvi falar com a rapariga a quem chamavam viuvá.

A cantina tinha uma grande janela de vidro dura como gelo. Cuja cor das bordas quase sangue, unidas a uma agradável vista das traseiras verdes, tornavam o edifício belo.  Era ali que ela e a Jéssica se sentavam e a visão era sublime. Dali, elas podiam ver tudo e todos, o que era quase um crime. Assim que me levantei do meu lugar, misto por lei, eu soube que elas tinham percebido que eu vinha. Jéssica comia puré de batata, mas não parecia ter fome, pois brincava, falando sozinha. 

Quando me viu, ela sorriu, largando o garfo.

- Bom dia, meu doce! _ cumprimentou ela com toda aquela irritante alegria no rosto.

  - Bom dia. _  respondi, sem interesse.

Era estranho falar com ela, já que ao que parece, não havia simpatia entre nós. Curiosamente, dois anos depois, continuava sem saber porque a chamavam "Duas Luas".

- Você quer um pudim? Tá muito magrinha! _ falou, com a sua esganiçada voz.

Eu acenei que não, ignorando o seu comentário de certa forma verdadeiro e os meus olhos viraram-se então para a viuvá. 

- Podemos conversar? _ disse eu. - Não pretendo demorar!

Ela sorriu. Parecia feliz, como da primeira vez que me viu.

- Do que se trata?

Antes que eu pudesse responder, Jéssica olhou para mim com atenção. Parecia que me estudava, como um lobo ou um leão.

-Tenho pensado bastante... _ disse eu. - sobre aquilo de há dois anos, na biblioteca.

Era visível a minha envergonha, lutava contra ela e contra a minha timidez e embora não estivesse preparada, queria saber as ideias dela, antes de se decidir se voltava a cave outra vez.

- O que te levou a dizer aquilo?

- Foi o "Olhar"! _ foi o que ela disse.

- O quê?! _ foi o que eu perguntei.

- O "Olhar"... Vocês partilharam esse olhar ao mesmo tempo, foi ai que eu percebi. _ disse ela.

- Oh, está bem. Mas não foi isso que aconteceu! _ eu falei sem certezas - quer dizer, isso é um cliché! só Acontece nos filmes, certo!.. certo?

  Jéssica riu, desdenhando de mim. Entregou-me o seu espelho de mão e eu pensei haver algo no meu rosto que a inspirava a "bramir".

- O que é isso? _ perguntei confusa.

- Isso... minha filha,  é o rosto corado de uma garota que não acredita em nada do que disse!

- Como te atreves! _ levantei-me fingindo fúria, quando na verdade sentia vergonha.

- Ele sentia o mesmo, Maia... _ revelou a Francisca. - Mas não sabia como te contar!

O meu rosto corado empalideceu, pois as palavras da ruiva pareciam a sentença mortal que me levaria as portas do sétimo céu.

Pequenos Contos de Paixão & Perigo: Ribeirinha MaiaOnde histórias criam vida. Descubra agora