Capítulo 2

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Caro leitor, se você chegou até aqui provavelmente deve ter ficado com algumas dúvidas em mente, então vamos aos poucos, eu explicarei tudo o que você quiser saber ao longo da nossa jornada até o momento atual.

Minha história é cheia de idas e voltas, presente, passado e futuro, por isso se você achar um pouco confuso, é normal, você não tem obrigação de entender é complicado mesmo.

Uma vez eu li uma interessante frase que dizia " Entre o que eu penso, o que quero dizer, o que eu digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que acha que entendeu há um abismo " embora eu tenha pesquisado, na época em que li, não encontrei uma fonte confiável, mas acredito que seja de Alejandro Jodorowsky.

Dali em diante eu comecei a acompanhar alguns trabalhos dele, algo que não contei a vocês ainda é que sou amante de diversos tipos de arte, principalmente artes plásticas. Acho que eu enlouqueceria se não pudesse desenhar ou pintar. Estou sempre com um papel e um lápis em mão , desenho a qualquer minuto em qualquer lugar , meu psiquiatra diz que é ansiedade, que é normal e que até é bom extravasar de forma "positiva" minhas emoções.

O que me fez lembrar: eu odeio médicos, odeio tudo neles, odeio os jalecos brancos e brilhantes demais. Odeio o falso sorriso de preocupação, odeio a falsa gentileza, odeio como são esnobes como " eu sou médico por tanto sou mais inteligente que qualquer um , quem é Einstein comparado a mim ? eu sou médico" odeio como são donos da razão e como nos tratam como cascas feitas de carne, nos furam, cutucam , costuram... tudo sem escrúpulos...

Não lembro exatamente quando, só lembro que era criança: a lembrança mais antiga que tenho de um médico. Acho que o nome dele era Matias , não sei se era clínico geral ou pediatra... primeiro erro...ao chegar lá, eu e minha mãe fomos falar com a secretária, ela estava caminhando de um lado para o outro arquivando exames, pegando amostras de remédios e cadastrando pacientes .

Eu me sentei em um sofá com caderno de desenhos e minha caixa de giz de cera para esperar minha vez. Minha mãe falava com a secretária para fazer o meu cadastro já que era a minha primeira vez naquele médico, um médico renomado e como meu pai ganhava bem como advogado , ele não se importava de pagar , era um "bom" pai afinal.

Comecei desenhando a sala de espera, paredes em tom de creme, elegantes poltronas pretas de couro, tapete marrom... haviam quadros abstratos em cores quentes espalhados pela sala, um deles estava entre duas poltronas na minha reta. Tinha também um senhor lendo jornal e balançando as pernas, as mãos dele tremiam posicionadas em uma das poltronas. Atrás de mim havia apenas a parede sem graça e a minha esquerda uma porta de madeira com uma de vidro em frente a ela escrito " Doutor Matias..." eu não consigo me lembrar o sobrenome dele e nem quero aliás Doutor Matias não possuía doutorado, mais uma mentira contada por um médico para elevar seu ego e intelecto.

Logo comecei a sentir muito frio , poderia ser apenas o ar condicionado talvez fosse, mas não era apenas isso , ao olhar para frente tudo sumiu, bom quase tudo, as paredes ainda estavam lá, o tapete, algumas poltronas também , mas o resto era vácuo. A porta havia sumido, os quadros, a pequena "sala" da secretária, as pessoas...

As paredes haviam envelhecido e perdido sua cor , agora eram brancas com limo verde musgo e mofo cobrindo-as em sua maior parte. Eu estava sozinha e assustada... eu me apressava em procurar uma saída.

Dei um pulo ao ouvir ruídos parecidos com... assobios agudos como de uma chaleira fervente estalando. Ao me virar vejo que o tapete havia se transformado em buraco retangular sem fim, eu, curiosa, me aproximo devagar das pontas.

Tentáculos enormes e gosmentos de polvo cheios de ventosas saem de dentro do buraco e me agarram me puxando para dentro do buraco. Aqueles tentáculos nojentos me apertavam e enrolavam, enquanto eu ia perdendo a consciência, estavamos submersos na água , eu não sei nadar e o polvo gigante me levava cada vez para o fundo. Eu me debatia em vão tentando me soltar até que desmaiei.

Não sei quanto tempo passou, mas minha mãe me acordou dizendo que eu estava babando no meu caderno de desenhos. Eu abri os olhos completamente transtornada procurando saber onde estava, quanto tempo havia passado, se havia sonhado ou estava sonhando. Eu estava de volta a sala de espera do médico, a secretária estava ao telefone, o homem estava lendo o jornal, os quadros estavam coloridos e no mesmo lugar e minha mãe estava impaciente ao meu lado pela vergonha que a fiz passar.

Eu me encolhi chorando e chamando baixinho por Mary.

Reflexo no EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora