A única coisa que sinto é frio. O corpo está no chão, rodeado de sangue. A pele está pálida e transmite a sensação de frio. É algo mórbido, e eu não me consigo mexer. Sinto-me colada ao chão, e parece que nem respirar sou capaz. Algo dentro de mim quer que eu me mexa, que me baixe e abrace o corpo ali caído, mas nada se move. Os meus olhos não deixam o chão, a enorme poça de sangue, os olhos ainda abertos, a posição fetal, a boca entreaberta, nem o local do ferimento. Estou em choque, petrificada. A minha cabeça move-se um pouco quando ouço barulho nas traseiras, incomodando-me, mas mesmo assim não me mexo. Fico ali uns segundos, que mais parecem horas, quando sinto umas mãos a tocarem-me e do nada desperto e volto à realidade.Começo por sentir algo quente a tocar na minha pele arrepiada que os meus olhos se arregalam, a minha garganta abre e começo a gritar a plenos pulmões. Baixo-me num reflexo, caindo de joelhos e levo as mãos à cara, desejando que as imagens desapareçam da minha mente. Grito. Grito sem parar com as lágrimas a escorrer-me pelos olhos abaixo. O toque não foi embora. O quente continua na minha pele. Sinto alguém a agarra-me por trás, abraçando-me, e eu apenas não quero acreditar naquilo que está à minha frente!