5º Comprimido

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Você fica pensando nele? – foi isso o que Alex perguntou, e parecia tão simples. Por que não pensaria? Diogo estava ali para cuidar dos pacientes, e Pie era bastante problemático para ele. Sim, claro que ficava pensando nele, e por falar nesse assunto, passara todo o restante do dia anterior sem ver o rapaz. Onde ele estaria? O homem passou a mão pelos cabelos escuros, baixando o rosto quase até chegar à mesa de seu consultório. Não conseguia entender o motivo de se sentir tão incomodado com aquilo. Havia hesitado em sua conversa com Alex, quando a moça perguntou se ele pensava em Pietro, como se fosse complicado demais para responder.

— Você vai ficar bem – uma voz saiu baixa por trás da porta.

Diogo ergueu o rosto, assustado com o que ouvira. Alguém o estava observando? De toda forma não falara nada, como alguém poderia escutar seus pensamentos inquietos e entende-lo? Mas então alguém bateu a porta, despertando-o de suas ideias. Diogo se apressou e foi atender, mais uma vez escutando o você vai ficar bem, logo antes de abrir a porta.

— Finalmente – Alex ergueu os olhos para o médico.

O homem prendeu-se a Pietro, curvado, seguro nos braços da jovem mulher, respirando com certa dificuldade.

— O que aconteceu? – balbuciou.

Alex revirou os olhos e o atropelou, entrando no consultório e levando o amigo para a cama ao lado da mesa. Diogo piscou algumas vezes e fechou a porta, seguindo-os com passos lentos, sem entender. O rapaz mantinha-se de olhos fechados, com a mão segura sobre o barriga e respirando por entre os lábios, como se tentasse reprimir grande dor. A garota levantou sua camisa, revelando um curativo malfeito com outras duas camisas. Mesmo com todo o pano, ainda era possível ver pequenas manchas de sangue começarem a aparecer na superfície. Alex o pressionou um pouco mais antes de retirar seu curativo. A garganta de Diogo fechou. Havia vários cortes no abdômen do rapaz. Um, que parecia ter sido feito com extrema raiva, era o maior e responsável pela grande quantidade de sangue.

— O que você está esperando? – Alex virou furiosa. – Faça alguma coisa.

Em um instante Diogo acordou, correndo como um louco para pegar os curativos no armário. Os colocou sobre uma bandeja, ao lado da cuba. Alex deu passagem para que se aproximasse com a mesa auxiliar. Começou a limpar, dar os pontos necessários no ferimento maior, para então pôr os curativos. Durante todo o processo, seus olhos nervosos pulavam do trabalho que fazia para o rosto de Pietro, que contorcia-se em dor, molhado. Com certeza havia chorado. O médico pregueou as sobrancelhas, não tremia, não poderia, era seu trabalho e deveria realiza-lo o mais calmamente possível. Deixaria para depois a dor que batia as portas de seu estômago. Já finalizando, tocando a pele do rapaz lentamente com a ajuda de uma pinça para segurar a gaze, Diogo falou baixo:

— Como?

— O remédio que você não quis dar – Alex respondeu, parada ao lado da cama com os braços cruzados. – O inibidor. Quando ele não toma esse remédio, e sobra apenas o outro, fica inquieto, e coisas assim podem acontecer.

— Que remédios ele toma?

— Antidepressivos.

— Na ficha dele não consta com exatidão que ele sofra com depressão. – Diogo contestou, virando-se para ela. – Se ele não têm ansiedade ou depressão, por que toma antidepressivos?

— Eu não sei – Alex deu de ombros. – Ele começou a tomar pouco depois de chegar aqui. Disseram que ajudaria a controlar instintos, ou qualquer idiotice assim.

— Sério? – Diogo levantou, jogando a gaze suja na bandeja. – Isso vai matar ele.

— Isso é só o começo, bonitão – Alex debruçou-se sobre o rapaz, que estava um pouco desacordado, cansado, anestesiado. Passou os dedos pelos cabelos castanhos de Pietro, acarinhando. – Esses remedinhos poderiam ser receitados fora daqui. Têm muito mais. Acredite, quando ele chegou aqui estava muito bem, mas esse lugar fez isso com ele. Pie provavelmente vai acabar afogado na depressão que receitaram pra ele.

DIP - Minha CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora