A chegada

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Harry On

É domingo e eu acabo de chegar em um pequeno vilarejo que nem é tão pequeno assim, mas que para mim, tão acostumado a viver em cidade grande como Nova Iorque, vê tal lugar como um vale encantado. Vim para cá em busca do meu passado. Na verdade, há uma herança deixada para mim, porém busco muito mais que isso. A herança é o de menos. Na verdade, não me importo muito com isso, quando na verdade, tenho uma avó que nunca pude conhecer, mas que sempre foi um mistério quando o assunto era tocado em casa.
Vou caminhando até chegar ao destino. Tava calor, mas ao mesmo tempo, batia uma brisa fresca, amenizando todo o ar quente que ali me envolvia.
enfim, tiro o endereço do bolso da mochila que carrego nas costas, confiro o número e continuo a buscar pela casa. 45. É essa. Um lugar simples, a casa fica na parte de cima. Na frente, apenas um portão cinza, paredes amarelas. Pela passagem que há no portão, pude ver as escadas. Tiro a chave do meu bolso esquerdo da calça. Entro.

Me deparo com uma sala seguida da cozinha logo ao lado. O ar da casa é típica coisa de vó, tudo bem simples, algumas coisas antigas como os móveis, ou objetos combinando. E claro, um longo corredor. Joguei a mochila no sofá e fui até o corredor. Havia 6 portas ali, cada uma em um lado. Adentrei a primeira porta a esquerda e pude ver algo parecido com um antiquário.

Fico encantado com o que acabo por ver, mas antes de explorar tal local, eu só queria sentir a água gelada de um chuveiro caindo diretamente sobre minhas costas. Saio do local de onde estou e vou até a outra porta ao lado do antiquário. O banheiro! O local me lembra algo bem rústico, tudo bem simples. Uma banheira... Não pensei duas vezes antes de ir até lá e deixa-la encher. Aproveitei o momento para ir até a sala buscar minha toalha e levar a mochila para o quarto. Hmm, vejamos. Primeira porta a direita. Apenas olho a cama e jogo a mochila lá e vou diretamente para o banheiro. Realmente, eu queria sim uma chuveirada daquelas, mas não pude resistir a banheira.

...

Após o banho, pego uma bermuda jeans que ali estava e a uso sem camisa, afinal, estava calor! Me sento na cama, esfrego a toalha sobre meus cabelos molhados e acabo vendo que havia fotos na parede e no criado mudo. A mesma mulher em todas as fotos, deduzo ser a minha avó. Em meio ao momento, me vejo pensando que... Eu queria ter a conhecido. Eu sinto que não vim até aqui atoa, deve haver algo...

Me jogo na cama e acabo por adormecer.

...

Sinto algo vibrar, pego o celular e ao me dar conta, são 8h da noite! Caramba! Dormi por 4h. Eu estava cansado, porém estou com fome. Minha mãe havia me ligado, mas meu celular estava com 2% de carga. Ponho o celular pra carregar e vou até o antiquário. Talvez minha curiosidade fosse maior que minha fome.

...

Passando os dedos sobre os objetos antigos que ali estavam, acabo parando em frente a uma estante de madeira. Havia uma caixa branca com detalhes rosas e Torre Eiffel. Não tinha como não perceber, era bem chamativa! Eu, tão curioso, não pude deixar de abri-lá! Acabo por ver algo que me parece uma... carta. Hmmm. Olho em volta e vou até uma poltrona marrom e de veludo que ficava ao lado de outra estante do outro lado do local. Ponho a caixa sobre minhas pernas e abro a carta.

"Querido Harry...

Sou interrompido por algumas batidas na porta. Mas quem será?

Louis On

Vim para esse pequeno vilarejo em busca de algo bom, em busca de esquecer toda a dor do passado, mas até quando? Prometi a Keith que cuidaria sim da casa dela, que abasteceria tudo, mas esse neto dela nunca aparece... Não que eu esteja reclamando, mas sim, estou achando um saco! Cala a boca, Louis. Talvez seja só saudades... Saudades da vida antiga ou apenas de conversar com a Keith toda a tarde. Comprei um bar aqui e as vezes acho que não foi a melhor escolha. Terminei minha faculdade, poderia estar fazendo algo melhor agora, mas eu sou fraco... Não consigo simplesmemte voltar para a minha cidade e enfrentar todas as minhas dores do passado, e que parece me atormentar de uma maneira que não vai passar tão cedo... Talvez a solidão já seja uma parte de mim. Tão dramático que eu sou, alguns diriam. Mas nenhum deles sabem o tamanho da minha dor.

Olho para a janela e vejo uma luz ser ligada, na parte do antiquário, na casa da senhora Keith... Um garoto tatuado, sem camisa, cabelos castanhos longos acaba de passar por ali... Deve ser o neto dela. Já estava na hora! Não aguentava mais abastecer a casa e nada... Apenas a sua espera. Espero mesmo é que ele não tenha vindo apenas em busca da herança de sua avó e que saiba amar todas as suas lembranças. Keith o amou mesmo sem nunca te-lo visto.

Novamente, ele aparece na janela, abre um pouco mais a cortina e dessa forma, posso ver sua tatuagem de borboleta abaixo do peito. Não posso negar que ele era... Louis, pare de pensar nessas coisas!
Acabo de sair de uma terrível ilusão e como se não fosse nada, já quer entrar em outra!
Fui um otário em não perceber que nunca houve amor entre mim e a Danielle... Ela sempre me tratava de forma tão fria, mas eu, tão cego, insisti. Era como se eu estivesse mergulhando sem saber nadar. Me afoguei. Ainda me lembro do dia em que abri o computador e pude vê-la com outro. Me senti humilhado. Mas isso não importa mais agora!
Não nego que queria ter alguém que eu pudesse chamar de minha ou meu, mas depois de todo o ocorrido, venho tentando ser menos romântico. Vir para cá tem me ajudado a ser um cara sério, que não liga muito pra essas coisas de relacionamento - não agora - e não é um cara alto, cabelos longos e castanhos caídos sobre seu rosto, um abdômen admirável que vai me fazer mudar de ideia... acho eu.

Vidas Traçadas - Que outro nome eu daria, senão "amor"?Onde histórias criam vida. Descubra agora