94 - Lembranças Doem

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  Me levantei do chão devagar, eu estava na floresta, a floresta onde cresci, mas não havia ninguém comigo, eu estava sozinha, perto de uma casa de madeira decrépita, sem cerca nem nada. E de lá vinham gritos, gritos de dor. Gritos da minha mãe. Por mais que eu não a conhece-se, eu sabia que era ela, alguma coisa no meu peito, fazia meu coração se apertar e lembrar dela enquanto eu escutava os gritos.
  Como se eu estivesse no piloto automático, meus pés começaram a guiar meu caminho, eu não sabia onde podia estar a porta daquela casa tão maltradata pelo tempo, mas isso não me impediu de ir para a primeira janela que apereceu no meu campo de visão.
  Eu só percebi que estava tremendo com a ansiedade quando meus dedos tocaram no parapeito da janela, a madeira estava gelada, assim como toda a casa, emanando uma camada grossa de frio através das frestas nas madeiras.
  Quando meus olhos olharam pra dentro, cinco pessoas apareceram no meu campo de visão, quatro homens em pé, diante de uma cadeira de ferro, onde se encontrava uma mulher alta, dos cabelos negros e a pele levemente machucada. E eu senti meu coração pular na garganta quando percebi a protuberância que estava na barriga dessa mulher. Eu, um bebê dentro da barriga daquela mulher, que era minha mãe. E ao redor deles, tomando todo o cômodo havia neve. Camadas e camadas espessas de neve cobrindo o chão de madeira.
  Primeiramente pensei em bater na janela, quem sabe chamar a atenção de alguém, mas tinha alguma coisa na janela, e na estrutura daquela casa, que parecia que me impediria de entrar no que estava acontecendo, como se uma parte do meu subconsciente me informasse que mesmo que eu tentasse, não conseguiria impedir nada que aconteceria ali. E isso me deixava com uma sensação gélida no peito, que parecia se infiltrar pelas minhas veias e atravessar o meu corpo, me anestesiando.
  Os homens ficavam se revezando para falar com a mulher, um deles, evidentemente era o líder, um homem alto e dos cabelos castanhos, ele era o único que não parecia ter medo da minha mãe, enquanto os outros três pareciam teme-la, se mantendo afastados e atentos a cada movimento dela.
  Eu não estava conseguindo ouvir sobre o que eles estavam falando pelo lado de dentro, mas algo indicava que era uma discussão, o jeito que pareciam nervosos, e que minha mãe machucada parecia esgotada demais para prestar atenção no que diziam me dava a entender isso.
  E por alguns instantes eu apenas fiquei calma, observando ela, e analisando como eu poderia me parecer com ela? Os cabelos negros um pouco abaixo dos ombros pareciam com os meus, mas não eram tão iguais. O jeito do rosto era rígido, mas parecia conter um certo mistério por trás dos olhos castanhos, algo perigoso e forte. Eu me parecia um pouco com ela, mas não tanto quanto meu pai. Eu tinha herdado muitas coisas do meu pai.
  Parei de analisar quando o homem de cabelos castanhos ameaçou se aproximar da minha mãe, ela gritou alto, evidentemente com dor, pondo suas mãos na barriga enquanto tentava respirar. Foi nesse momento que percebi o que estava acontecendo. Havia sangue pingando da cadeira de ferro, gota por gota e se chocando na neve, junto com um líquido que parecia água. A bolsa tinha estourado.

- Alícia on-

  Abri os olhos um pouco ensonada, eu queria continuar a dormir, abraçada com Mark, mas minha garganta estava seca. E por causa disso, mesmo contra vontade eu me soltei dos braços de Mark. Bem devagar para ele não perceber que eu estava saindo da cama, e em meio ao processo de tentar sair, por pouco não esmaguei o gatinho preto com a mão, ele estava deitado do meu lado, entre o meu corpo e o de Mark. Mas por sorte eu o avistei antes que acontecesse um acidente que poderia acordar, tanto o Mark quanto o BamBam. E eu realmente não queria acordar o BamBam, foi um sacrifício fazer ele parar de me encher e finalmente resolver ir dormir.
  Desci pelos pés da cama, mas como não achei a jarra de água que o BamBam sempre deixava no quarto, tive que sair do quarto.
  Tirando pelo fato de que eu estava morrendo de medo, a casa estava muito silenciosa, e estava tudo escuro, então tive que acender luz por luz até descer as escadas e depois ainda tive que ir até a cozinha, atravessando corredores que me deixaram apreensiva. Eu admito que amo casas grandes, porém não gosto nenhum pouco de andar sozinha por elas a noite, realmente dá medo.
  Depois de finalmente conseguir chegar até a cozinha e beber minha tão sofrida água. Eu voltei pro quarto meio que correndo, apagando as luzes pelo caminho e me mandando o mais rápido possível de volta pro quarto.
  Silenciosamente eu subi novamente no beliche, e fui engatinhando até meu lugar novamente, o gatinho havia mudado de lugar, agora não estava mais na frente do peito de Mark, agora estava em cima do meu travesseiro, encolhido num cantinho perto da parede, dormindo tranquilamente. Deitei a cabeça ao lado dele, e me ajeitei, e eu pretendia voltar a dormir, mas algo me impediu. Tinha algo de errado com o Mark.
  - Por favor, não me machuque... - Murmurava ele, com os olhos fechados enquanto lágrimas caiam.

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