7 Prêmio de Consolação

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Faltavam dez minutos para a largada, eu estava sentado na moto, olhando da rampa de descida até a primeira curva. Sabia que ali ia ser minha maior dificuldade, pelo menos na primeira volta.

Tio Vini parou ao meu lado — Você está bem, garoto?

Assenti. Estava tremendo, mas jamais deixaria ele perceber.

Ele colocou a mão no meu ombro. — Se liga nas frenagens das curvas, cai por dentro, só vai por fora se não tiver jeito mesmo. Depois da primeira curva tem três costelas, não esquenta em passar por elas, e aproveita seus saltos, você é bom nisso, vai te ajudar, sua brincadeirinha no Freestyle vai ser útil aqui.

— Tá, em que lugar tenho que ficar para passar no teste? – falei apertando o guidão.

— Não tem essa, Rick, colocação aqui não vai servir para nada. — ele apontou para a arquibancada — Está vendo aqueles velhos na primeira fila? A sua tarefa é impressioná-los.

Engoli seco. Nem tudo estava perdido então.

— Tá. Impressionar os velhos... Saquei.

Ele riu — Seus pais já estão na arquibancada também.

Sorri. — Fala para minha mãe que sou numero cinco. Talvez ela me veja.

— Beleza, boa sorte garoto. – ele tocou comigo.

Fui para a grade, coloquei o capacete e os óculos de proteção, olhei para o lado e os caras pareciam mesmo que sabiam o que estavam fazendo.

O locutor começou a anunciar os nomes, e um a um os pilotos erguiam os braços, e parte da arquibancada vibrava. Pais enlouquecidos, pareciam um bando de doidos ali.

— Numero cinco, Ricardo Vasconcelos Farrell. — ergui o braço e consegui ver tia Elise na arquibancada assoviando. — Numero vinte, Manuela Vicenza Crus.

Olhei para o lado assustado. Não podia ser, ela terminou de se apresentar e olhou para mim.

— Oi, Rick. – ela riu, e mesmo dentro do capacete, eu consegui ver o deboche daquele oi.

— Vicenza, não é o sobrenome do dono da equipe que eu devo impressionar? – falei quase rindo.

— Pode ser... – ela deu de ombros — Vasconcelos não é o sobrenome da campeã de rally, que por acaso é sua madrinha? – ela piscou para mim.

— Parece que nós dois temos segredinhos. – eu ri.

Vi a placa de quinze segundos para o alto, e tentei voltar minha atenção para a pista. A placa de cinco segundos subiu e acelerei.

— Vamos falar mais sobre isso depois. — a grade baixou, saltei e acelerei na descida. Tentei me colocar no canto para fazer a curva fechada, mas todos tiveram a mesma ideia, e de repente eu estava sendo esmagado. Tudo bem, eu tinha previsto isso.

Apoiei o pé no chão e acelerei, consegui velocidade, e entrei bem nas costelas. Na curva seguinte, eu já estava em terceiro, mantive as curvas fechadas e consegui mais velocidade nos meus saltos, o que me dava alguma vantagem sobre os outros.

Depois de três voltas, já estávamos bem espaçados, e era um alívio. Terminei em segundo. Atrás dela. A girl Power da bunda maravilhosa.

Parei ao lado dela. Tirei o capacete e a encarei. — Não basta ser dona da equipe, tem que humilhar os moleques...– eu ri.

Ela tirou seu capacete também — Não basta ter padrinhos fodas, você tem que mudar de máquina para tentar ser um foda diferente...

Fora das trilhas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora