Aquele em que ainda estava apaixonado

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Meus olhos não se fecharam, não aquela noite. Patrick dormia nos meus braços tranquilamente. E meu cérebro revivia todas as memórias daquela noite, todos os toques, todos os beijos, todo o carinho e todo o amor.
Nada no mundo se comparava ao alívio que eu senti ao finalmente poder toca-ló depois de tanto tempo.
Foi tão confortável, tão certo e tão especial. Nós éramos assim. Nossa relação era assim. Sabendo tudo um do outro, pontos fortes, pontos fracos.
A conexão que temos é única, e se encaixa perfeitamente.
Patrick era homem para mim, e eu estaria mentindo para mim mesmo se dissesse o contrário aqui.
Quando eu olho pra ele, eu vejo muito mais do que um cara bonito e educado. Eu consigo enxergar dentro dos olhos dele, consigo ver a alma dele e eu vejo que é igual a minha.
Um passado de decepções amorosas, de muita dor e muito caos.
Eu tive meu coração partido ainda muito jovem, e não achei que algum dia fosse encontrar alguém com quem eu realmente tivesse vontade de passar o resto da vida. Garotas nunca foram minha praia, e eu sofri muito por não saber como dar prazer a minha ex namorada. Existem muitas coisas ruins e dolorosas no mundo quando se trata de relacionamento, mas acho difícil algo chegar perto da traição.
Patrick passou por esse caminho também, só que pra ele foi ainda pior. Ele entregou o coração pra uma mulher, casou com ela e até teve um filho. Quando a criança estava com seus dois anos de idade, Patrick descobriu que na verdade, o menino não era dele.
Ele não era muito mais velho que eu quando tive minha decepção amorosa, quando tudo isso aconteceu tinha dezenove e estava começando a carreira de jornalista.
Então, desde o começo da nossa relação, nós nos entendemos. Entendemos as dores um dos outros. E de certa forma, serviu como consolo para ambos, saber que não estavam sozinhos.
Você passa a vida achando que não importa se você vai acabar sozinho ou não, porque talvez você só fique com aquela pessoa pra justamente não acabar sozinho.
Mas, o momento em que Patrick e eu começamos a conversar eu senti, senti que era diferente. Sentia que não era uma coisa comum, e que ia me mudar.
No final das contas, nós fomos amigos muito próximos durante quatro anos e depois começamos a namorar.
E isso já fazem oito anos. Oito anos desde que eu pedi a mão dele em namoro, e ele aceitou. Crescendo em mim a esperança de algo muito maior.
Então logo me entristeci, relembrando que eu nunca teria algo grandioso como eu queria com ele.
Era realmente tão difícil subir num altar e dizer 'Eu aceito', Patrick?
Mais tarde veio o desespero, junto com o arrependimento de ter apenas tornado tudo ainda mais difícil. Olhei para o Patrick que estava afundado em um sono profundo, e chorei.
Não sei em que momento eu pensei que não teria problema dormir com ele uma última vez. Talvez eu nem tenha pensado. Essa é a alternativa mais razoável.
Tive que levantar daquela cama, a atmosfera daquele ambiente estava me sufocando.
Tudo o que fizemos até agora, evitar encontros, separar o grupo de amigos, tudo pra não cedermos a vontade de ficar juntos, tudo em vão.
Meu coração não suportava aquele peso, e a dor se tornou ainda mais intensa. E o que antes parecia ser uma separação extremamente dolorosa,  era apenas um pequeno arranhão perto do que eu estava sentindo agora.
Eu o deixei lá, deitado no colchão sob os lençóis sozinho. E fugi, covardemente.
Porque é isso que você faz quando não aguenta o amargo sabor da realidade.
E essa realidade era que eu ainda estava louca e perdidamente apaixonado pelo meu ex namorado.

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