Olhei pela janela, o céu estava esclarecendo e o sol nascendo e iluminando o quarto. Se eu realmente fosse fazer isso, teria que ser agora.
Fui até o armário, que estava quase vazio, e vesti a primeira roupa que peguei, uma calça jeans azul e uma camiseta preta.
Por último, tinha uma peça naquele armário que eu não sabia se levava comigo, ou se deixava ali. Algo que tinha um significado importante pra mim, mas que eu sabia que ia me prender as memórias aqui.
Era uma caixa, que eu estava guardando desde que eu e Patrick terminamos. Dentro dela tinha um chaveiro de Verona, em formato de coração. Um presente que ele deu pra mim quando viajamos pra Europa, e escrevemos nossos nomes na parede da Casa da Julieta.
Eu a deixei ali, junto com todas as minhas lembranças do nosso relacionamento. Eu já não aguentava mais sofrer.
Assim que eu estava vestido, olhei mais uma vez para o homem que dormia na minha cama. Meu coração apertou e eu respirei fundo, não conseguiria me despedir de novo. Me convenci de que seria melhor assim, sem ter que me explicar. Se ele me visse saindo, iria tentar me fazer ficar, e me conhecendo, tenho certeza que eu aceitaria. Assim, eu saí do quarto, e isso seria o último que eu veria de Patrick Stump.
Passei pela sala de estar, onde estavam todas as caixas que seriam levadas mais tarde pelos caras da mudança. Não pude deixar de imaginar na minha cabeça como seria quando Patrick acordasse, passasse por ali me procurando e encontrando a casa vazia. O quão chateado e abalado ele ficaria ao notar que eu havia ido embora sem falar com ele.
Essa imagem me fez hesitar, e eu parei em frente à porta de entrada. Fechei os olhos, tentando reunir a coragem que precisava para sair dali.
Por que estava sendo tão difícil? Eu sei que não posso continuar vivendo assim, mas por que eu não consigo deixá-lo pra trás?
Meu celular apitou, indicando que o motorista já estava me aguardando em frente a minha casa. Só que nesse ponto, eu já não sabia se aquilo era a coisa certa a fazer, me questionei se realmente seria eficiente sair da cidade apenas para tentar seguir em frente.
Meus pensamentos foram interrompidos, pois em minhas mãos, o aparelho começou a tocar em volume alto, ecoando pela casa inteira. Atendi o mais rápido possível, mas tive uma sensação ruim do que estava por vir.
"Olá. Aqui é o seu motorista, já estou no endereço. Você vai vir ou não?"- perguntou, e eu hesitei em responder. Era hora de tomar uma decisão de uma vez por todas.
Meu coração disparou, ao ver uma movimentação no quarto. Ele havia acordado.
"Pete?"- me chamou, aquela voz rouca e doce que me derretia o coração. Não consegui me mover, ele parou na porta do quarto assim que me viu e nós trocamos olhares.
Seus olhos se perderam dos meus, e focaram na mala em minha mão, e depois nas caixas empacotadas pela sala.
Ele entendeu, tudo de uma vez só. E isso foi mais do que ele podia aguentar.
Enquanto isso eu pude ver, do outro lado da casa, ele desabando ao chão e chorando em silêncio.
Aquela figura quase que fantasmagórica, encolhida, e parecendo completamente destruída.
Eu fiz isso com ele, e agora eu iria apenas virar as costas e deixá-lo?
Doeu, no fundo do meu coração, eu senti a pontada.
Mas, enquanto eu tentava andar pra frente, ele me puxava pra três. E se eu ficar, eventualmente eu irei ceder a vontade dele de novo, como eu fiz ontem à noite. Isso vai me levar a viver uma vida infeliz, porque apesar de estar com ele, não vai ser do jeito que eu sonhei.
Sem pronunciar nenhuma palavra, eu me virei e sai pela porta. Segurando as lágrimas que pesavam em meus olhos. Entrei no carro, me desculpei pela demora, e então comecei a chorar em silêncio.
Minhas mãos tremiam, e quando eu parei pra nota-las, vi que ainda usava a aliança.
Meu celular começou a tocar na mesma hora, o identificador mostrando o contato do Patrick. Não pensei muito antes de recusar a chamada.
"O Sr. ta bem?"- o motorista do aplicativo perguntou, parecendo genuinamente preocupado.
Levantei meus olhos para vê-lo melhor, era um menino bem novo. Cabelo cacheado e pele escura, bem bonito.
"Sim, obrigado"- agradeci a preocupação.
O celular tocou novamente, e novamente eu recusei a chamada.
Se eu ouvisse a voz dele, iria por água abaixo.
Agora o celular vibrou, dez vezes seguidas, dez mensagens dele.
Trick💛: pete, por favor
Trick💛: volta, pelo amor de Deus
Trick💛: eu não consigo sem você
Trick💛: eu te amo
Trick💛: por favor meu amor
Trick💛: achei que ontem tivesse significado alguma coisa
Trick💛: como você pode?
Trick💛: você ia embora e me largar?
Trick💛: petey...
Trick💛: eu posso fazer você feliz
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Down The Hill
General FictionNós éramos tudo que todos queriam. Nós tínhamos toda a intimidade. Nós tínhamos todo o carinho. Nós tínhamos todo o amor. Mas, tudo foi ladeira abaixo.