Capítulo Único

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Talvez você já tenha ouvido histórias como essa. Talvez você pense que tudo isso o que irei lhe contar não passa de uma grande mentira, ou talvez uma ilusão, causada por uma mente cansada e desesperada. E eu realmente não posso lhe forçar à acreditar, ou lhe dar qualquer garantia de que o que vou falar seja de fato real. Mas meu amigo, eu posso lhe jurar, que se você decidir acreditar, que o que irei lhe falar de fato aconteceu. E foi sem dúvidas a melhor coisa que aconteceu em minha vida. 

E se caso você esteja se perguntando quem sou, meu nome é Thor, e eu um dia fui um príncipe, em um reino distante, e rico. E se me perguntar se eu era feliz, sim, eu era. Eu vivi minha adolescência e o início da minha vida adulta conhecendo novos reinos, atravessando os mares, e rindo de cada história que me contavam sobre sereias, ou sobre deuses do mar.

Mas essa não é a história de um príncipe, e sim a de um homem, que por um infortúnio do destino se apaixonou por alguém além de seu alcance, e fora de seu mundo. 

É a história de um amor que não deveria ter nascido, mas que nasceu, e ao qual eu sempre irei alimentar, até o meu último suspiro. 

Toda a minha falta de crença, e minha ignorância mudaram na noite em que o conheci.

Já estávamos próximos de nosso reino quando uma tempestade forte começou, derivada de um furacão não muito longe de nós. 

O navio começou a perder o controle, o céu se iluminava de raios. Não sei ao certo o que ocorreu, ou quando, eu só sei que eu era o único que estava no navio quando me dei por mim, não por ter sido deixado para trás, mas por ter voltado para salvar meu cachorro. 

Pulei do navio no exato momento em que ele explodiu, e então tudo se apagou.

Eu estava em um mar de escuridão quando uma bela voz começou me chamar de volta à consciência. Ela cantava em uma língua desconhecida, e eu podia sentir mãos macias afagando meu rosto. Nesse instante eu sabia que o ser que ali cantava para mim havia sido meu salvador.

Todavia quando comecei a abrir meus olhos, ele se foi. Tudo o que consegui ver foram os longos cabelos negros. Me sentei o mais depressa que pude e vi uma calda, assim como a de um peixe extremamente grande, verde como musgo, batendo na água antes de se submergir. 

Depois daquele dia fui levado de volta ao castelo, e lá tive de ficar por semanas, até todos terem à certeza de que eu estava bem de fato. 

Contei para meus pais e para os criados da dama que eu havia visto, e de como ela havia me salvado. Todavia para todos não passava de delírios de alguém à beira da morte. 

Mas se achas que desisti, é porque não me conheces, meu amigo. 

A ilha na qual eu havia acordado não ficava à mais de uma hora do porto de Asgard, e eu remei até lá em um pequeno barco, assim que todas as atenções do reino não eram mais destinadas à mim.  

A ilha era realmente pequena, e só fazia praia de um lado, dos outros eram altos precipícios rochosos, de uma beleza mortal. 

Devo confessar de que perdi a conta das vezes em que me sentei nessa praia, e as vezes até mesmo nas rochas sobre o mar, enquanto cantarolava a canção tão bela que me cantastes aquela noite. 

Eu podia sentir sua presença em algumas das vezes. Podia até mesmo ver seus cabelos negros se afundarem na água sempre que eu descobria seu esconderijo. E foi em uma dessas vezes, em que pude ver ao longe, atrás de uma rocha, seus cabelos negros como uma ônix e seus olhos verdes como esmeralda me observando, que tomei coragem e comecei a lhe falar diretamente. 

Little TritonOnde histórias criam vida. Descubra agora