Capítulo Único - Ausência

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Silêncio.

Era isso que reinava sobre a família Sabaku naquele almoço em família, nem o som dos talheres batendo contra a porcelana dos pratos era ouvido, os três mais velhos olhavam para o mais novo que, de tão perdido em pensamentos, não notará que era alvo de tamanha admiração.

Rasa, o mais velho e o progenitor dos outros três sentados à mesa, sabia que era um pai ausente, principalmente na vida do seu caçula e vê-lo tão mergulhado na tristeza e não poder fazer nada para dissipar toda a amargura dos olhos do filho, o feria tanto que chegava a doer fisicamente. Queria tanto que Karura estivesse ali, ela saberia o que fazer para aliviar a dor de Gaara, ele nunca teve jeito para consolar uma pessoa triste e tudo se tornava mais complicado quando esse alguém era o mais novo dos Sabaku.

Não tinham um bom relacionamento, o mais velho sabia que isso era sua culpa e da rejeição que teve pelo filho caçula, se sentia a pessoa mais horrível da face da terra por ter passado anos culpando o mais novo pela morte de sua amada esposa e mesmo que as coisas entre eles tenham melhorado consideravelmente, sabia que filho ainda não confiava em si o suficiente para se abrir e falar sobre seus sentimentos, ter plena certeza disso era como se alguém desse um soco na boca do seu estômago.

Sabia de tudo que o filho tinha passado, sabia que Gaara estava sofrendo - mesmo ele se esforçando para manter isso somente para si e escondendo seus sentimentos sobre uma máscara de indiferença - era visível toda a dor que tinha em seu coração, mas seu filho não dividia consigo a sua tristeza e não pedia ajuda.

Olhou para seus filhos mais velhos, Temari e Kankuro, e conseguiu enxergar que eles sentiam a mesma impotência que o assolava. Os três estavam sofrendo, e como doía assistir a isso e não saber o que fazer, esperava que a mudança para Konoha os ajudasse a deixar as tristezas para trás.

- Gaara?

O ruivo foi tirado dos seus pensamentos pelo chamado hesitante do pai, só aí se deu conta que nenhum dos quatro tinham tocado na comida servida. Tivera um pesadelo com tudo o que aconteceu, lembrava-se nitidamente dos gritos, Lee, os tiros, sangue, morte; aquelas lembranças nunca o abandonariam, não se sentia disposto para fingir que estava tudo bem, tudo o que desejava era ficar em seu quarto e chorar, mas não queria fazer isso com todos em casa, não queria que eles vissem o seu desalento.

- Vou visitar a Torre do Fogo, você quer vir comigo? - Rasa perguntou e tentou sorrir ternamente.

- Não - respondeu simples.

Gaara notou que os olhares dos demais integrantes da família estavam direcionados a ele, o mais novo dos Sabaku estava incomodado com toda essa atenção que recebia, não sabia lidar com ela, não era acostumado com isso.

- Vou me retirar.

Não esperou resposta, simplesmente rumou para seu quarto, não queria mais vê os olhares piedosos de seus irmãos, todos estavam lhe tratando como se fosse quebrar a qualquer momento. Talvez fosse verdade, mas será que eles não viam que isso o irritava?

Chegando ao seu quarto, deitou-se na cama e passou a olhar para o teto, uma enxurrada de lembranças veio a sua mente, lembranças dolorosas e trágicas. Já tinha se passado um ano e dois meses desde aquele fatídico dia, entretanto, a dor não diminuiu, seu coração estava em pedaços e não sabia se um dia voltaria a ficar inteiro novamente.

Suspirou fundo quando as lembranças eram fortes demais e doíam, uma dor latente em seu coração, pulsava como se estivesse abrindo um buraco e o deixando oco. Se fechasse os olhos conseguia recordar perfeitamente daquele dia.

Gaara nunca foi uma pessoa fácil, era encrenqueiro e sempre fechado em seu próprio mundo. Tinha sido expulso de três escolas em dois anos, aquela era a sua última chance, se fosse expulso novamente, iria ser mandado para escola militar - uma maneira que seu pai encontrou de dizer que lhe mandaria para um reformatório, era isso que o ruivo pensava -, estão iria ficar na dele e suportaria aquela escola esnobe e aquele bando de riquinhos mimados.

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