Era 23 de setembro de 2013, quando marcava 3:20 da tarde no mostrador digital do Mercedes do conceituado advogado Augusto Nobre, quando ele deu partida para seguir com sua pequena viagem solo de férias. Sua esposa, Érica Nobre, socialite, nascida em berço de ouro, e seu filho, Eduardo Nobre, que estava no último ano do ensino médio, não foram, pois Eduardo iria prestar um vestibular para medicina em novembro e estava bem focado em tentar passar de primeira. Augusto fez sua mala e colocou no carro que tinha como destino Porto Seguro – Bahia. Ele já havia se despedido de Eduardo (que voltaria para a escola) e de Érica (que teria um chá com algumas amigas) na hora do almoço. Augusto e sua família viviam em Vitória – Espírito Santo, e já esteve na Bahia algumas outras vezes a negócios e poucas a passeio. Resolveu ir a Porto por causa de uma pequena homenagem que Dudu (carinhosamente assim o chamava) fez em seu aniversário de 42 anos:
- Quero aqui na presença de todos vocês da família e amigos dizer o quanto especial é para mim o meu Pai. Uma pessoa séria, honesta, que puxa minha orelha quando eu apronto - arrancou risos de todos os convidados - uma pessoa que se dedica ao seu trabalho e acima de tudo a sua família. Quero dizer pra você, meu pai, que você é o meu porto seguro e que se a gente pudesse escolher nosso pai antes do nosso nascimento, tenha certeza de que seria você quem eu escolheria ou o Tio Carlos, que sempre me deu jujuba escondido de vocês - arrancando mais risos dos convidados, dando logo em seguida um abraço bem forte em Augusto, que lhe falou em seu ouvido:
– Você me deu uma grande ideia. Assim que eu tiver uma folguinha vou a Porto Seguro passear, já que você e sua mãe foram ano passado e nem me chamaram para ir. Vou sozinho também para vocês ficarem na vontade.
Colocou o pen drive no rádio, com sua playlist nova, e escolheu "More Than Words", que começou a tocar enquanto o portão automático era aberto. Gostava muito de Extreme, Aerosmith, The Doors e outras bandas dos anos de ouro. Retirou o carro da garagem e só saiu de lá quando o portão se fechou todo (era muito cuidadoso com as coisas). Seguiu estrada pela BR 101 sem nenhum problema. No meio do caminho ficou pensando sobre dois casos de maior relevância nos quais que ele estava trabalhando: um era sobre um pai que havia levado o filho para passear na Itália e não o deixou voltar para a mãe (que possuía a guarda); o outro era sobre a invasão de vizinhos na propriedade de um cliente, gerando um certo conflito na comunidade. Pensou também na possibilidade de expandir seus negócios e formar uma parceria com um grupo educacional e assim virar sócio em uma faculdade. Chegando a Linhares, resolveu dar uma paradinha para comprar água, esticar as pernas e ir ao banheiro.
Augusto era uma pessoa bem centrada, eloquente (e por isso escolheu se tornar advogado), além de ser bem ponderado. Não tinha vícios. Enxergava o mundo fora de sua casa como negócios e apenas negócios. Talvez seu único vício fosse achar formas de lucrar e aumentar seu patrimônio. Não pensava muito em equidade social e achava que as pessoas deveriam crescer por seus métodos. Em casa, a família vinha em primeiro lugar, a não ser quando recebia telefonemas de clientes considerados importantes ou quando passava horas em videoconferências. Muitas vezes perdia os eventos do Eduardo e de sua esposa, justamente porque levava seu trabalho muito a sério.
Sua esposa entendia e aceitava e nunca reclamava embora estivesse a um passo disso. Como nasceu em berço de ouro, era sempre mimada e recebia tudo o que queria de seus pais. Casou-se por amor. O pai dela, à beira da falência, resolveu fazer um acordo com os funcionários (incluindo Augusto, que era estagiário na época) para tentar fazer as atividades prosperarem.
E conseguiu, através da liderança de Augusto. Isso fez com que este se aproximasse da filha do Sr. Henrique a ponto de começar um romance. Ele sempre foi encantado por ela, que só começou a enxergá-lo depois de um discurso inspirador que fez junto aos sócios da empresa na tentativa de recuperar os lucros e a posição da empresa. Desde então passaram a se encontrar às escondidas, até que Erica engravidou de Eduardo e resolveram contar para o Sr. Henrique, que aprovou de imediato o casamento.
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3:20 (Três e Vinte)
Romance3:20, romance de estreia do escritor capixaba J. Wilson, mostra a trajetória da família Nobre, tradicional e conservadora, que tem sua história alterada após um encontro romântico entre um de seus membros e um homem misterioso. A partir deste moment...