Estive pensando nisso dia e noite.
Lu, a branquela dos olhos azuis. Que sorriso perfeito. E aquele seu belo olhar impressionante que hipnotiza sem querer, apaixona. Os anjos abandonam seus protegidos só para observá-la sorrir. Até a personalidade dela é cativante. Defeito? Não há. É Divino. Divino mesmo. Aliás, a divindade não só estava inspirada, mas perdidamente apaixonada quando a fez. Impressionantemente bela. Suas formas moldadas com tamanha perfeição e dedicação me deixam sem palavras. Não posso nem ameaçar pensar nela que meu coração acelera muito forte. Um efeito supremo desses que nunca antes senti... É amor, tenho certeza.
Então eu precisei conhecê-la. Sabe como é. Esse sentimento me move dessa forma. Mas ela nem me nota. Precisava muito mudar isso, ou meu coração não deixaria de me arranhar, me corroer, me adoecer. E ela mora do outro lado da rua. Nem assim sabe quem sou eu. Tinha mesmo que conhecê-la, ou melhor, ela que tinha que me conhecer, afinal, eu já a conhecia muito bem. Sabia tudo sobre ela. O que fazia nas horas vagas, amigos, hobbies.
Descobri que ela andava com os skatistas do bairro. Já foi até namorada de um deles. Mas que sortudo. Daria tudo que tenho para ser, por um minuto, esse cara enquanto a namorava. Economizei a mesada que papai me dava por três meses para comprar um bom skate. Aprendi as manobras. Esforcei-me de modo supremo, pensando nela o tempo todo. Tudo calculado. Assim ela me notaria. Fiz amizade com alguns deles. Os mais legais skatistas que já vi com ela. Não iriam me zoar por ser um iniciante. De fato estive muito perto dela diversas vezes de um jeito que nunca havia estado antes. Mas incrivelmente ela continuava a não me notar. Não era possível, tinha algo errado.
Então descobri que ela iria a uma festa com os amigos do primo de um amigo meu. Imediatamente acessei o Facebook do meu amigo e adicionei o primo dele que só conhecia de vista. Tinha uma semana para fazer amizade com ele. Nos entendemos. No início pensou que eu era gay, mas depois viu que eu só era louco. Não contei meus reais interesses. Ele, enfim, me falou da festa no dia da véspera. Convidei-me na cara de pau e ele ficou feliz com isso, pois era o meu novo amigo. Cheguei na festa. O primo do meu amigo, que agora também era meu amigo, e seu círculo social. E ela estava lá. Linda. Perfeita. Divina. Peço ajuda, em vão, para me curar dessa paixão. Eu não deveria ter ido à festa. Estava tão bela. Acho que todos a olhavam, até as mulheres. Muito perfeita de se ver. Natural já era incrível, arrumada e bem produzida, então... Todas as palavras desse mundo não descrevem o suficiente. Sofri ali ao lado da minha branquela. E ela é tão divertida e interessante. Uma personalidade muito carismática, que me conquista por completo. Mas o incrível é que ela mais uma vez não me notou.
Estava sofrendo e perdendo as esperanças. Tentei ser alguém para ela o tempo todo, mas tudo que fiz não funcionou. O que há de errado comigo? Eu sou tão feio assim? Sei que não sou o bastante para ela, mas poxa, que sacanagem. Não mereço isso. Estou sofrendo.
Éramos da mesma escola e por muita sorte acabamos, no sorteio, ficando no mesmo grupo para o trabalho de Física. Fiquei feliz. Enfim, teríamos que interagir, nos conhecer, nos apaixonar (essa última parte é sonho meu, desculpem). Já estava imaginando nós dois juntos deitados olhando as belas e brilhantes estrelas e rindo um para o outro ao conversar sobre o cosmos, de mãos dadas. Um trabalho sobre sistema solar daria nisso. Chegamos à casa de um amigo em comum para fazer o trabalho. Foi perfeito, o trabalho. Não minha interação com ela, que mais uma vez não me notou. Nem conversou comigo. Não faz sentido.
Acostumei-me com a dor do sofrimento. Um incômodo que perduraria pela minha vida, mas estava bem com isso. Fazia parte de mim já. Procurava não pensar nisso mais.
Um dia acordei com o barulho do meu SMS. Era uma mensagem anônima. Não conhecia esse número. Dizia:
Desculpe, eu sou uma pessoa tímida e não sei se você me notava, mas parecia que não. Saiba que eu sempre vou te amar. Desculpe nunca ter tido coragem de me aproximar. Morrerei precisando de um OI seu.
Fiquei confuso e então minha atenção voltou-se aos barulhos de sirene na rua. A casa da frente. A casa dela. Da Lu, minha branquela. Suicidou-se, eles diziam. Fiquei sem entender até conseguir processar a confusão e me dar conta. O número era dela.
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Contos Diversos e Universos Paralelos
KurzgeschichtenMini contos diversos e aleatórios feitos de forma independente, podendo ser lidos em qualquer ordem.