Prólogo

50 7 7
                                    

Todos nós temos um passado que gostaríamos de esconder. Eu não me orgulho dos meus dias de ensino médio, sabendo que eu poderia ter feito tudo diferente. Mas o tempo passa e hoje eu vou contar para vocês a história de como a minha vida mudou.
Voltando um pouco no tempo para o tempo das festas, baladas. Onde a vida se resumia em ser popular e ficar com o cara mais gato da escola. Bom, naquela época eu tirei a sorte a grande. Todas queriam ser eu, Brooke Summers, e todas queriam namorar ele, Tyler Meyer, éramos o casal perfeito! Mas nem todo conto de fadas é perfeito. Essa é a vida real e às vezes o pó encantado para de fazer efeito.

Já estávamos no último ano e faltava poucos meses para o baile de formatura. Ah, o baile de formatura, meu sonho de consumo desde quando eu era uma simples caloura e vi minha irmã mais velha sendo coroada rainha do baile. Todos admiravam a Beatrice, a respeitavam, e faziam questão de demonstrar que comigo era totalmente o contrário. Comigo era o mais completo e puro terror. Quando eu chegava nos corredores principais do colégio eu parecia o ditador da Coréia do Norte de tão reverenciada, mas eu não pedi para ser assim.
Eu tentei ser como a Beatrice. Eu tentei. Mas eu não sou a Beatrice. Eu não sou ela. E eu coloquei na cabeça que se era para eu ser uma tirana para conseguir as coisas era melhor eu treinar no ensino médio mesmo, já que no mundo real não teria todo esse "tempo" disponível. Mas o destino prega peças e às vezes nós demoramos para entender o que ele quer dizer para nós.

Naquele dia, eu me lembro que acordei enjoada e tonta. Até pensei na possibilidade de faltar a aula, mas eu queria muito entrar numa faculdade de direito então eu fui mesmo assim. Era o primeiro ano de Pietro, um dos meus irmãos novos, então eu era meio que obrigada a ir para a escola com ele. Amaya era a única das minhas amigas que dirigia, ela pegava Lena primeiro e depois parava na porta de casa. Nós parávamos umas duas quadras da escola para Pietro descer, porque não queríamos nossa imagem associada com nenhum nerd do primeiro ano. E naquele dia não foi diferente.
Paramos na mesma vaga de sempre — onde colocamos uma placa com os dizeres: "Exclusivo para lindas, populares e talentosas. Sujeito a guincho." — e ficamos de bobeira até os garotos aparecem. Amaya ligou o rádio e pulou em cima do capô do carro. Ela soltou seu rabo de cavalo deixando seus cabelos pretos e ondulados caírem em cima de seu ombro esquerdo. Lena se juntou a mim atrás do carro. Ela usava um delineador que destacava seus traços asiáticos. De repente um cheiro de comida gordurosa me embrulhou o estômago e senti uma ânsia.

— Você está bem, Brooke? — perguntou Lena repousando sua mão em meu ombro.

— Sim, estou. — respondi passando levemente a mão no nariz para impedir um pouco do cheiro.

Eu não via a hora de Tyler chegar. Eu queria contar sobre a confusão onde nós dois nos enfiamos. Eu queria bater nele. Eu queria abraçar ele. Eu queria beijar ele. Eu queria fazer tanta coisa naquele momento e nada envolvia ficar ali ouvindo música barata esperando os meninos chegarem. Eu queria... Fazer tudo aquilo de novo.
De repente o estacionamento foi invadido pelo barulho da caminhonete escandalosa do Bob Garanhão anunciando que o time de basquete havia chegado e num piscar de olhos lotou de meninas em volta de Erick Manley, o paquera de Lena.

— Como o esperado. — bufou Lena.

— Não sei porque você ainda se surpreende, Lena. — disse Amaya.

— Ele falou que só tinha olhos para mim. — choramingou Lena.

Pude ver Tyler ao longe. Ele parecia meio distraído. Tentei chamar sua atenção, mas ele parecia olhar para outro lugar. Olhei para o chão de nervoso. Precisava descontar em alguma coisa para me acalmar, afinal eu ainda era a rainha do ensino médio, Brooke Summers.

— Meninas. — chamei minhas amigas.

— Sim, Brooke? — Lena respondeu de imediato.

— Sim, Brooke? — Amaya respondeu um pouco depois.

— Qual é o protesto nerd que a gente pode frustrar hoje?

Não era grande coisa, mas para Emily e Penny sim. Um protesto contra o uso da maquiagem na escola. Esse era o tipo de protesto que eu acabei e com prazer.

— Oi Emily. Oi Penny. — disse em um tom falso de simpatia.

— É Emília e Pam, mas não que você saiba, Brooke, já que você se preocupa mais com seu reinado de terror do que com os nomes das pessoas. — disse uma delas.

— Adorei o discurso, mas sabe essa escola tem política zero contra protestos e olha isso não são cartazes de protestos. — Sorri amargamente para as duas.

— É protesto importante! Para salvar as baleias! — disse a outra.

— Vão salvar as baleias em outro lugar, mas não aqui, capiche? — Virei-me bruscamente e deixei as duas falando sozinhas.

No fim da tarde, Amaya tinha dito que não poderia nos levar de volta para casa, pois tinha trabalho para fazer na biblioteca, então eu e Lena pegamos carona com Petre Obawsky, um estudante de intercâmbio da Polônia. Lena ficou na minha casa até anoitecer para "estudarmos" juntas e eu aproveitei e contei a ela meu segredo.

— Você está grávida!? — indagou Lena meio alto.

— Mais baixo! — disse em tom repreensivo.

— Desculpe! É que é meio estranho... Nunca pensei... Quer dizer... Nessa idade... — Lena se enroscava nas palavras.

— Tudo bem. Eu entendo. A minha reação quando eu descobri foi a mesma sua, mas promete que não vai falar nada pra ninguém? — perguntei esticando o dedinho.

— Prometo. — Ela falou enroscando o dedinho no meu. — Só eu sei, por enquanto?

— Vou contar para Beatrice quando ela chegar, mas por enquanto... Só. — Quando eu pronunciei a última palavra Lena abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Ai amiga! Obrigada! Obrigada! — Ela pulou em cima de mim, mas depois se afastou. — E a Amaya.

— Eu ando desconfiando dela ultimamente... Achei melhor não falar nada, por enquanto. — disse e Lena assentiu com a cabeça.

Era de noite quando Beatrice chegou. Eu corri escada abaixo e dei-lhe um abraço apertado. Depois esperei-a cumprimentar o resto da família e puxei-a pelo braço até nosso antigo quarto. Ela ria. Eu ria. Parecíamos duas tontas. Nossa irmã mais nova, Bianca, estava dormindo e uma tentava silenciar a outra com travesseiro na cara.

— Conta tudo. T-U-D-O. — falei super animada e ofegante.

— Tudo bem. — Ela disse sentando no meu lado na cama..

Ela começou a contar sobre a faculdade. Sobre o campus. Sobre as festas. Sobre os caras. Sobre os caras que ela conheceu nas festas. Sobre a comida. Sobre o céu a noite. Sobre as amizades. Sobre os dormitórios. Sobre tudo.

— Uau, é bem legal. — falei meio desanimada. — Pena que talvez eu não consiga ir.

— Como assim? — perguntou Beatrice preocupada.

— Eu estou grávida. — falei.

— E a mamãe sabe? — perguntou.

— Não, não tive coragem. — falei com um nó da garganta lembrando que uma hora vou ter que contar para a minha mãe.

— Tudo bem. Eu estou aqui. — Beatrice me abraçou forte.

No outro dia, na escola eu estava decida a contar para o Tyler. Não importa o que acontecesse eu iria contar. Eu só não estava esperando o que iria acontecer. No final da aula, juntando toda coragem que eu tinha e indo até a quadra até que eu escuto as vozes deles, Amaya e Tyler. na direção das arquibancadas. Eu me aproximação e vi uma cena lamentável. Amaya só de calcinha e sutiã se esfregando em Tyler sem camisa. Algumas lágrimas começaram a rolar no meu rosto e eu comecei a correr, mas Tyler me viu e correu atrás de mim.

— Brooke! — gritou ele. — Brooke! Brooke!

Tyler me alcançou e agarrou meu pulso.

— Não é... O que...

— Ah, me poupe do showzinho! — Eu o interrompi. — Não é o que eu estou pensando? Então me diga, Tyler? O que é? Porque eu acabei de ver o MEU namorado ali só nas carícias e beijos com a MINHA amiga.

— O mundo não gira só ao seu redor, Brooke! — falou Tyler.

— Tá me dizendo que isso foi uma lição? — rosnei. — Quer saber? Vou te dar uma também! Que tal saber que está proibido de ver seu filho, hein?

— O quê!? — indagou Tyler.

— É isso mesmo. Eu estou grávida. E pode deixar vou criar ele sozinho e vou fazer um maravilhoso trabalho que você está proibido de ver. — Naquele exato momento eu me senti a Beyoncé grávida, nada poderia tirar meu brilho, a não ser um café da manhã mal digerido — que por acaso acabou indo parar no pé do Tyler.

É uma nova era. Uma nova Brooke. Uma nova fase. E o dia agora começa com o doce chamado do meu filho.

— Mãe!

100 Maneiras de Dizer Eu Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora