O sinal toca ao longe simbolizando o fim do expediente de trabalho. Todos os funcionários estão se dirigindo ao portão principal junto comigo, rostos exaustos e sem expressões vagando para suas casas, eu não sou diferente deles. Na saída, perto do portão, vejo meu amigo Bobby, ele acena para mim e eu retribuo o gesto, logo em seguida ele segue seu rumo para casa. Minhas pernas estão pesadas, andar está se tornando um ato muito difícil. Não são só as minhas pernas: meus ombros pesam, minhas costas pesam, meu corpo inteiro pesa. Eu preciso muito dormir. Não, você não pode!
Sigo para minha casa atravessando a praça central de frente à empresa. Já está escurecendo, quase não se ver pessoas aqui a essa hora. Continuo andando sem dar importância para a paisagem repleta de árvores do parque, elas não me interessam tanto quanto interessavam no início quando foram plantadas.
Minhas pernas fraquejam sem energia. Realmente preciso dormir. Não feche os olhos.
Após uma curta caminhada chego a minha velha casa, com suas portas e janelas de madeira, ela tem sido um bom abrigo para mim durante esses ultimo trinta anos. Minha mão encosta na maçaneta e hesito em girala. Ele pode estar lá. Ele está me esperando. Não, eu não posso girar a maçaneta. Minhas mãos gelam, meus músculos estão tremendo por algum motivo. Calma Willi, é apenas a sua imaginação, não tem nada lá dentro.
Respiro fundo e abro a porta, ela range ao ser empurrada. Acendo rápido a luz da sala e começo a olhar para todos os lados. Onde está? Onde está? Nada encontro. Talvez tenha realmente sido minha imaginação, sim, só pode ter sido isso. Não há outra explicação. Sim, há outra e você sabe qual é.
Entro e fecho a porta, estou feliz por estar em casa, mas não sei se deveria. Vou até meu sofá e me jogo sobre ele, meu sono faz com que meu corpo caia como uma pedra.
Me encolho no sofá e fecho os olhos por um instante, minhas pálpebras estão pesadas, mas não posso dormir, não agora. Forço-me a olhar para o relógio na parede e percebo que os poucos instantes em que descansei meus olhos foram na verdade horas. Eu dormi?! Quando?! Já passa da meia noite, minha visão já está ficando embaraçada. Faz meses que não durmo direito. Sinto saudades de quando eu podia dormir a noite inteira sem preocupações.
Levanto-me do sofá e me dirijo ao meu quarto. Essa deveria ser a melhor parte do meu dia, mas é um pesadelo. A porta do quarto está aberta, faz tempo desde a última vez em que eu a fechei. Olho para o interior do quarto, a luz está acesa, não vejo nada além da minha cama encostada na parede e do meu guarda-roupas no outro lado do quarto.
Entro devagar, meus dedos estão tremendo. Sento-me em minha cama, ela está tão macia e confortável quanto dá última vez em que me deitei nela.
Meu corpo parece ter tido toda a sua energia drenada de repente pela cama. Tento ficar sentado, sei que não posso dormir, mas meu corpo age sozinho e acaba se deitando. Sinto-me afundar nos lençóis. Minhas pálpebras se fecham mais uma vez e durmo. Não!
Acordo rápido acometido por uma sensação súbita de terror. Meu corpo está gelado, meus olhos fitam a parede ao lado da cama. Tento me mexer, mas meu corpo não me obedece, todos os meus músculos parecem paralisados. Não, de novo não! Tento gritar, mas minha boca não abre, tento me jogar da cama, mas nada acontece. Sinto a minha garganta seca quase rasgar em meio a gritos silenciosos. Não adianta, ninguém vai te escutar.
O medo toma conta de mim, meus olhos arregalados começam a derramar lágrimas que escorrem de um pro outro molhando a cama. Por quê? Por quê? Eu não devia ter dormido. Alguém me ajude por favor. Ninguém pode me escutar, eu estou sozinho.
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