Viva a Independencia

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"Guto, eu estou com medo" diz Benê encostada nos bancos cinzas do carro de Guto. Seus pais haviam o dado para que ficasse mais fácil fazer a viagem de volta para casa em todos os finais de semana.
"Com medo de que, Benê? Vai dar tudo certo, vai ser lindo em Campinas" o moreno diz sorrindo, mostrando suas covinhas, sem tirar os olhos da estrada.
"Você também não está com medo? Nervoso? Guto, você pode abrir essa janela? Eu não to conseguindo respirar direito"
O menino, agora preocupado, abre as janelas e passa a falar em um tom ainda mais calmo.
"Claro que eu estou nervoso. É uma nova vida, uma nova rotina, um novo lugar. Mas saber que estamos juntos nessa me acalma"
"É, isso é verdade" diz Benê o encarando, mas logo desvia o olhar para a estrada, escura. "Mas quem me garante que obedecerão minhas regras? Tem apenas 45% de chances disso acontecer, as pessoas não costumam seguir regras. E se eu não me acostumar com a cidade? Não conseguir ficar longe da minha família? Da Tina, da Keyla e do Tonico? E se a internet de lá não for tão boa e eu não conseguir me comunicar com elas e com a Ellen e a Lica?" Ela diz se desesperando
"Calma Benê, vai dar tudo certo. Lá tem internet sim, eu mesmo contratei. A república para qual vamos só tem estudantes de música e algum deles eu já conhecia, então, mesmo que eles não queiram seguir suas regras, eu os farei seguir, prometo" diz o rapaz colocando a mão na testa, como se batesse continência, fazendo a menina rir "vai dar tudo certo Benê, eu prometo"
"Tudo bem, eu ficarei mais calma. Ou melhor, tentarei. Não posso prometer nada"
Eles foram o resto do caminho rindo, conversando. Ao chegar na porta da república, Benê trava no carro, sem querer descer.
"Eu não gosto de mudanças" disse a garota, de cabeça baixa.
"Essa é uma mudança boa, Benê. Vamos descer, eu levo sua mala"
A menina assente, calada, mas inquieta. Ela adentra o local, vendo que tudo estava da forma que ela havia imaginado e planejado, fazendo-a sorrir. Guto, vendo essa expressão em seu rosto sorriu de volta, tirando cuidadosamente o celular de seu bolso, tira uma foto daquele momento, que para ele, era ainda mais bonito que o da praia.
"Outro momento que guardarei pra sempre."
"O que, nossa chegada a república? Tá igualzinho ao que imaginei."
"Também, mas especialmente ao começo de nossas novas vidas."
"Guto" a garota o encara seria "não tem como ser o começo de nossas vidas, já que nossas vidas começam quando nascemos. O correto seria falar o começo da nossa vida adulta, ou melhor, da nossa independência. Como diriam as meninas, viva a independência"
Guto ri da afirmação da amada e segue pro quarto.
"Bom, esse é seu quarto, como já sabe, e esse é o meu. Me desculpe Benê, mas já vou me deitar. Essa viagem e a estrada me cansaram, não estou acostumado a dirigir. Boa noite, viu? Qualquer coisa me chama, a porta ficará aberta"
"Tudo bem" diz a menina receosa, pegando a mochila das mãos do garoto e entrando em seu quarto.
Tudo estava lá, suas 5 bonecas preferidas, e mais algumas coisas que trouxera de casa. A menina troca-se, e deita-se em sua cama. Fica ali, assim, durante minutos. Depois de certo tempo, levanta-se e vai ao quarto de Guto.
"Guto, será que você pode dormir comigo hoje? Eu não estou acostumada a dormir em um quarto sozinha"
"Claro Benê!" O menino prontamente responde, levantando-se e pegando sua coberta e travesseiro.
Ao chegar no quarto da garota, o rapaz prontamente estende seu cobertor no chão e deita-se.
"Você vai dormir aí? Sabia que você tem altas chances de contrair uma doença? Pneumonia, por exemplo"
"E onde eu dormiria?" O músico fala, confuso
"Essa cama é bem grande, cabe nós dois, com espaço"
O menino, sem dizer nada, mas com um sorriso no rosto, deita-se na cama. Benê deita-se do outro lado, encarando o teto.
"Imagina se eu não tivesse tocado piano naquele dia, no dia do seu aniversário, lá no grupo? Você não teria se interessado por piano, não teríamos nunca nos falado e, assim, não teríamos namorado e muito menos vindo parar aqui"
"É" ela concorda balançando a cabeça "quer dizer, se não fosse pelo parto no metrô, nada disso teria acontecido. Eu provavelmente nunca teria visto os lagostins tocar"
"Que bom que isso aconteceu. Eu, hoje em dia, não sei como seria minha vida sem você"
O músico logo em seguida para, percebe que falou de mais.
"A Keyla me disse, no dia que decidimos fazer a última balada, que algumas mudanças são boas. Eu acho que essa mudança será muito boa, e como você disse, estamos juntos, e como no Rio de Janeiro, isso me acalma. A mudança de ter te conhecido, aprendido piano, foi muito boa pra mim também. Eu gosto de estar com você."
Ambos sorriem e ficam um bom tempo calados. A menina tenta dormir, mas não consegue. Ela tira sua mão da mão de Guto e passa pelo rosto, depois pausando na sua barriga. Levanta-se da cama, que alarma Guto de que algo está errado.
"Tá tudo bem, Benê?"
"Não" a menina diz nervosa "eu não gosto de dormir longe da minha cama"
"Calma, deite-se aqui. Que tal fazermos nossa meditação?"
A menina assente, deitando-se ao seu lado
"Imagine um pedra de gelo. Eu estou nela, eu e você"
"Ela é bem grande, para que demore a derreter"
A menina finaliza com um sorriso no rosto e , em como em todas as outras vezes que meditaram juntos, segura a mão de Guto.
"Dessa vez, espero que essa pedra de gelo demore mesmo a derreter, Guto".

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2018 ⏰

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