Eu não gosto quando as pessoas dizem que eu parti o coração delas. Acho injusto comigo quando dizem isso, afinal, eu nunca quero o coração delas. Nunca quis, de ninguém. Também não sairia por aí quebrando corações simplesmente porque quero, se eu fizesse isso. O que, é claro, eu não faço.
O meu problema, dessa vez, é que eu não ouvi isso em nenhum momento, mas consigo sentir. E por mais injusto que seja me dizerem isso, é a deixa para que eu procure outra pessoa para me entreter – e entreter a pessoa também, porque eu não sou tão egoísta assim; não sou de modo algum, na verdade – porque aquela que se despede já está cansada do meu modo de encarar a relação que temos e sairá machucada de alguma forma. E quando eu digo relação, quero me referir ao fato de sermos pessoas presentes um no dia a dia do outro, não de sermos um casal ou algo do tipo.
— Se não queria nada sério, por que não avisou? — eu ouvia da maioria deles. Se fosse uma garota, os gritos eram acompanhados por tapas e um olhar de ódio mortal. Se fosse um garoto, eu teria que escutar os gritos contra uma parede.
Eu realmente não gostava daquelas atitudes, mas o que eu queria que entendessem era que em momento nenhum eu tinha dito que tínhamos algo que poderia progredir para “sério”com elas ou eles.
Mas, mais uma vez, o problema que eu tinha em mente era que eu não tinha ouvido isso até agora, mas podia sentir o "você partiu meu coração" em tudo. No modo que agiam perto de mim, em como me olhavam – com aqueles olhos de cachorro pidão que ninguém resistia, mas eu não sabia a que exatamente eu tinha que resistir –, em como falavam quando estavam perto de mim, tudo. Não houve distanciamento, eu continuava conversando e fazendo os mesmos programas de sempre com eles, mas eu podia sentir. E eu não podia procurar outras pessoas se não tinha ouvido deles que eles não queriam mais me ver em suas frentes porque eu era um grandíssissimo idiota que estava vacilando com eles.
Os dois andavam sempre juntos. Melhores amigos, todo mundo dizia. Eu achava que não, eles tinham uma relação (como aquela que as pessoas aparentemente queriam ter comigo) diferente, mais forte ainda que melhores amigos, mesmo que nem eles percebessem. Mas como era só "achismo" meu, não tinha confirmação nenhuma, não dei importância para aqueles pensamentos quando um deles veio até mim.
Adachi Yuto era um docinho. Costumava pensar, quando o conheci, que caso um dia eu namorasse, seria com um Yuto da vida. Amava abraçar, e isso era a melhor coisa do mundo pra mim já que ele era mais alto que eu, mesmo não sendo uma diferença estrondosa. Começamos a passar mais tempo juntos e a nos aproximar quando ele começou a me ensinar japonês – o que era claramente uma desculpa minha, mas como ele parecia não perceber isso, nós continuamos com as aulas particulares e eu acabei aprendendo mais do que esperava, que era nada.
Um tempo depois o outro garoto, Jung Wooseok, apareceu na minha vida e eu tinha certeza que tudo que ele queria era me quebrar no meio. No sentido de me odiar, claro, porque o que se falava era que eu tinha roubado o melhor amigo dele. Eu não tinha, não na minha concepção, mas não tinha nada mais forte que o poder de persuasão dos linguarudos daquela escola. Acontece que ele se empolgou comigo, e eu com ele. E eu gostava da presença dele, então o tempo que eu não estava com Yuto, ou eles dois juntos, eu passava jogando coisas com ele, ou fazendo qualquer coisa que a criança dentro dele achasse legal.
Parece que simultaneamente os dois perceberam que eu estava confortável com ambos e começaram a querer fazer tudo em trio. Tudo. Mas eu não podia dizer que era ruim fingir que assistia com eles enquanto estava só observando os dois, extremamente animados, e aproveitando quando, nas melhores das oportunidades, acabávamos dormindo juntos depois de maratonar animes o dia inteiro. Ou acompanhar os dois, no nosso tempo livre, escrevendo rap e tentando rimar.
Mais uma vez, os dois simultaneamente mudaram de comportamento juntos. Foi aí que comecei a sentir o olhar acusador de que eu tinha partido o coração dos dois. E no fundo do meu coração eu comecei a sentir um leve ódio dos dois por me fazer sentir como se eu estivesse sendo cruel com eles. Então, no fatídico dia que eu os vi juntos, sem mim (por serem de outra turma), fazendo todas aquelas coisas que já faziam antes, mas antes de eu “aparecer”, eu percebi que não parecia ser certo.
Acho que foi a primeira vez que senti o famigerado ciúmes, mas não conseguia ter certeza de quem.
Foi aí que percebi que, por mais que eu não quisesse o coração deles, talvez o meu coração quisesse muito os dois.
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eu nunca quis seu coração ♡ wooyuki
Fanfiction"Eu não gosto quando as pessoas dizem que eu parti o coração delas. Acho injusto comigo quando dizem isso, afinal, eu nunca quero o coração delas."