Capítulo Único.

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Me sinto sozinha em meio a essa multidão. 

Há muitas pessoas fora de casa nessa tarde de inverno. Está frio. Um frio que me contamina pouco a pouco, mesmo estando agasalhada. Tento achar um lugar menos tumultuado para tentar organizar meus pensamentos, mas a ventania me impede de abrir totalmente os olhos.  

Vejo tudo, mas não vejo nada.  

Encontro uma mesa vazia dentro da cafeteria de esquina. Depois de pedir um chocolate quente, como costumo a fazer, me sento em uma das cadeiras. Agradeço mentalmente pelo ar quente estar ligado, o frio já não é um problema.  

Vejo uma mulher acenando para um homem, que está em uma mesa quase perto da minha. Só há uma cadeira, a dele. Todas as outras estão ocupadas. A mulher passa os olhos rapidamente pelo local e seus olhos detectaram uma única cadeira vazia. 

Na minha mesa.  

- Com licença, posso pegar essa cadeira? – ela sorriu de um jeito simpático, assenti com a cabeça e tentei sorrir também.  

Agora todas as cadeiras estão ocupadas e todas as mesas estão completas.  

Menos a minha.  

Estou confusa. Quebrada. Sozinha.

Inspiro e expiro repetidas vezes. Não adianta surtar agora. Já passou, certo? Já faz um mês. Não há como voltar atrás.  Pego meu celular e entro na minha galeria de músicas, onde há noventa e nove, ao total. Vejo minha lista de filmes e séries para assistir quando estiver com tempo livre, há noventa e nove, ao total. Checo minha lista de contatos.  

Sem o dele, há noventa e nove números vazios.  

Observo a mesa ao lado: a mulher está contando sobre seu dia e o homem, agora ao seu lado, sorri e concorda diversas vezes. Eles trocam alguns olhares e vejo a bochecha dela ganhar um tom rosado logo depois que eles entrelaçaram as mãos.  

Sou culpada por parte da minha tristeza. Tinha que entregar minha felicidade assim: de braços abertos? Tinha que confiar tanto nele?  

Eu concordo que não é fácil conviver com a minha pessoa. Uma hora, estou dançando pela casa com o rádio ligado. Outra, estou chorando no chão, encostada na porta do meu quarto. Às vezes, posso ser rude, bipolar, confusa. Posso me esforçar para fazer algo, mas também posso ser nada persistente. Posso ser um pouco louca também, eu confesso. 

Sim, eu sou uma bagunça.  

E ele não vai querer arrumar.   

Mas isso não justifica o que aconteceu. Ele dizia que eu era importante. Sim, eu era importante. Ele dizia isso. Ele me disse aquelas três malditas palavras vazias que eu tanto odeio. Por quê? 

Ele me prometeu o hoje, mas se esqueceu do amanhã.   

Ele disse que também estava machucado, mas não encontrei nenhuma cicatriz.  

Eu dei tudo de mim. Desde um sorriso sincero até minhas lágrimas. Juntei todas as minhas forças para impedir que ele escapasse. Mas, aconteceu. Nem sempre a roda gigante fica parada lá em cima. Uma hora, ela tem que descer e, quando isso acontece, dói.  

Está doendo.  

Ele me disse para esperar, eu concordei.  

O problema é que, quanto mais eu esperava, mais vazia eu ficava.  

Bebo mais um gole do meu chocolate quente e, depois de um tempo organizando todos os meus pensamentos, a ficha caí. Não vou mais receber nenhuma mensagem dele quando acordar pela manhã, não vamos passar horas conversando sobre assuntos aleatórios, ele não vai me ligar de madrugada para me acalmar das minhas crises de ansiedade. Não vou sentir o seu perfume novamente, nem usar o seu moletom, nem me sentir segura em seus braços. 

Porque acabou.  

Mas eu ainda tenho perguntas a fazer.  

Porque largou tudo e me deixou sozinha? Eu não era importante pra você? Você não se importa? Você disse que se importava. Eu estava lá quando não havia ninguém, agora você se foi. 

E eu ainda estou aqui. 

Você se foi e levou junto a porcentagem que preciso para ser completa. Sem você, não consigo achar a centésima música para a minha playlist, nem o meu centésimo filme para a minha lista. 

Você é o mísero um por cento que me falta.

"Como eu conserto isso?" "Podemos conversar?" "Eu sinto a sua falta."

Repito essas mensagens repetidas vezes na minha cabeça. 

Evito ao máximo que as lágrimas saiam sem a minha permissão. O choro está preso em minha garganta. Mais um pensamento sobre esse assunto e eu desabo como uma avalanche.  

Respiro fundo.  

Não devia ter deixado ele ir. 

Estou quebrada. 

Ele também está.  

Afinal, dois corações quebrados não se completam?

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⏰ Última atualização: May 04, 2018 ⏰

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