Capítulo XV - Ao Acaso

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[Em Pinoa]

Seu coração, depois do encontro que teve com o amigo na clínica, batia calmamente. Era a certeza assegurada de que Gabriel estava bem, e isso era ótimo. Mas, as surpresas não pararam por aí, ainda estava digerindo o fato de que, coincidentemente, Tyler, melhor amigo de Yan, estava na ilha, no mesmo quarto que Gabriel, melhor amigo de Jake. Aquela espécie de quadrado afetivo o deixava boquiaberto com tamanha relação com o acaso.

E foi pensando nisso que havia marcado de se encontrar com Yan no parque, naquele mesmo banco onde se encontraram enquanto estavam desolados, agora iria ser o lugar onde seus corações se apaziguariam. Ainda vestia o uniforme da escola. Embora houvessem se passado três dias, a sensação de algo novo ainda perpassava por sua mente, o deixando num misto de emoções e sensações. Gabriel estava bem, afinal.

— Eu tenho um recado pra você... — declarou, meio incerto.

— Ué, recado de quem? — aproximou as sobrancelhas cobreadas, em dúvida.

— Do Tyler...

Ao ouvir aquele nome, seus pelos se arrepiaram, era inacreditável. Não sabia se era uma brincadeira de mau gosto, uma peça de sua mente ou um pesadelo. Seus olhos instantaneamente encontraram os de Jake, brilhantes, ansiando por respostas e compreensão. Estava se esforçando muito para conviver sem o amigo, e aquele simples nome destruiu todos os avanços tomados. Laços fortes de amizade eram algo culturalmente comum em Pinoa, sendo incentivados desde a primeira infância, de modo geral.

— Como? — incrédulo, conseguiu questionar.

Jake ajeitou-se no banco, respirando fundo e apertando a própria calça. Ele tinha empatia o suficiente para entender como o garoto ao seu lado se sentia, afinal, ele estava assim pouco antes de ter conseguido se encontrar com Gabriel.

Virando o rosto para encará-lo, Jake iniciou seu monólogo. Contando a ele toda a situação de Tyler descrita por Gabriel. Ambos estavam bem, dividindo um mesmo quarto, Tyler estava bem, havia aceitado seu fardo sem mais reclamações; deixando de ser uma boca a mais para seus pais sustentarem, reduzindo assim, os gastos em casa. Era assim que ele pensava, e mais, poderia desenvolver seus pensamentos sem preocupar-se em incomodar os pais, já que os mesmos não estavam por perto. Ele estava se aceitando, enfim. esta última parte dizia respeito apenas ao que Tyler sentia e divagava, sem fazer parte da fala de Jake em seu monólogo. Após o garoto dizer que estava tudo bem e que Tyler pediu para Yan dizer isso à sua mãe, veio a parte final daquele diálogo:

— E ele perguntou se você pagou o carinha... — disse incerto, sem saber ao certo quem era a pessoa ou o que aquilo significava.

Era estranho a pergunta, até porque não havia como enviar a resposta para Tyler, porém, o plano inicial era Gabriel ver Jake novamente em sua próxima consulta. Ele sabia que estava se arriscando, que poderia afetar o amigo, mas ambos não conseguiam pensar nas consequências de maneira tão clara e explícita como de fato eram, já que seus pensamentos e prioridades resumiam-se em um ver o outro.

Os olhos do ruivo vacilaram, era muito desconfortável falar daquele assunto com outra pessoa; mas sim, ele havia pagado o garoto. Além de ter que dar vinte e cinco lunas do seu próprio bolso, foi ameaçado: o carinha havia dito que não era pro Tyler ter mandado outra pessoa senão ele; mas, no fim, tudo se ajeitou. Ainda bem.

Deixando todos os pensamentos mais distantes de lado, se encarando. Ambos sorriram. Sorriram por saberem que as pessoas queridas para eles estavam bem, embora distantes, cuidando-se uma das outras. E, como antes pensado, aquele mesmo banco de outrora desolação, os trouxe uma efêmera tranquilidade. Lenitiva.

Delitos (Romance Gay)Where stories live. Discover now