Serendipity

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 Já era tarde da noite, em plena madrugada de sexta-feira, o garoto  de cabelos de cor menta levemente bagunçados, arrastava-se pelas ruas pouco iluminadas da cidade. Bebida em seu fígado e mente, e cacos de vidro em seu peito, era isso o que o garoto sentia no momento, seu coração fora partido por alguém que nem se quer pode ter. A vista embaçada dificultava a chegada até a residência próxima dali, o perigo de estar sozinho na rua de madrugada não estava na mente do menino nesse momento, a única coisa que queria era chegar em casa e dormir em qualquer canto, como sempre fazia desde o momento em que se pegou apaixonado pelo melhor amigo. Em meio a tropeços o garoto conseguiu avistar a rua iluminada por letreiros em neon de cores rosa e azul que iluminavam o caminho até seu prédio, de subto o menino viu alguém caminhar em sua direção, a mesma deu alguns passos para o lado tropeçando no meio-fio, caindo de lado no meio da rua, ouviu o som abafado de buzina vendo sua sombra no asfalto em seguida, sua visão ficou turva fazendo o garoto apagar.
Remexendo-se na cama, acabou por bater a mão no criado-mudo de madeira ao lado da cama de lençóis brancos, sentou-se rapidamente beijando a mão machucada, os olhos ainda fechados pesavam pelo despertar repentino. Com dificuldade o garoto abriu os olhos os sentindo arder pela luz que entrava através da janela, coçou os olhos e a cabeça antes de levantar e fechar as cortinas. O cheiro de bacon entrou em suas narinas fazendo o menino suspirar, estava com fome. Sua mente ficou clara fazendo o garoto  correr até a cama e puxar um canivete borboleta de debaixo do colchão, olhou para seu corpo vendo que estava com as mesmas roupas do dia anterior, suspirou de alívio, mas logo foi até a porta branca do quarto abrindo a mesma em quase silêncio, pode ouvir uma voz masculina vindo de sua cozinha. O garoto prepara o canivete indo em passos lentos ao encontro do sujeito que invadiu sua casa. Ao chegar no pequeno cômodo viu uma cabeleira avermelhada de tamanho médio virado de costas pra si, devagar e com cuidado chegou atrás do homem o segurando pelos ombros fazendo o homem se desequilibrar, o garoto passou o braço pelo pescoço do rapaz apontando o canivete para o maxilar do mesmo sentindo o ruivo ofegar.
— Quem é você e o que está fazendo aqui?
— Por favori fica calmo!
— Eu não vou repetir as perguntas!
— Meu nome é Taehyung, Kim Taehyung! Eu te salvei ontem! Você caiu na estrada e desmaiou!— O homem diz rapidamente, o garoto o solta calmamente, já guardando o canivete no bolso da calça jeans preta. Observou o local vendo uma frigideira com bacon em cima do fogão embutido no balcão.
— Por que está aqui?— Perguntou sentando-se no banco alto atrás do balcão de frente para o Taehyung.
— Não sei se te expliquei, mas eu te ajudei, você ia ou ser atropelado, ou coisa pior. Eu te trouxe pra sua casa, o atendente da loja de conveniência te conhece, ele me disse onde você mora, eu espero que não se importe, mas dormi no sofá.
— Ah tá... obrigado, eu acho. Por que me ajudou?
— Por que não ajudaria?
— Talvez eu não quisesse ser ajudado
— Por que não?
— Não te conheço, não vou me abrir pra você!— O menino respondeu ríspido encarando o rapaz a sua frente, o homem era bonito, os olhos puxados mostravam claramente sua descendência do país, o maxilar em forma de V perfeitamente marcado o deixava mais bonito ainda, as bochechas levemente cheias lhe tornavam fofo, e os cabelos vermelhos lisos faziam-lhe parecer uma criança.— Hey, Taehyung, quantos anos você tem?— Perguntou novamente, fazendo o ruivo virar-se para lhe encarar.
— 19, e você?
— Também.
— Legal! Ah, qual o seu nome?
— Yoongi.
— Yoongi do que?
— É só o "Yoongi" que você precisa saber, garoto!
— Tá bom, me desculpa, o bacon está pronto, quer?
— Não botou veneno ai, não é?
— Por que eu faria isso?
— Eu não sei, você é um estranho!
— Posso me tornar menos estranho!
— Fica na tua.
— Okay!— Taehyung diz em meio a risadas fazendo o esverdeado sorrir minimamente, o garoto colocou a comida em dois pratos, entregando um para Yoongi que lhe encarou o tempo todo.— Está com medo de mim, não é?— Perguntou o ruivo.
— Não, mas eu não te conheço, então preciso ficar atento.
— Desculpa, se quiser eu vou embora depois de comer.
— Não querendo ser grosso, mas... acho que isso seria bom, eu preciso de um tempo sozinho.
— Para que? Para sair a noite outra vez, ir para festa, encher a cara e quase ser atropelado no caminho de volta para casa?
— Você não tem nada a ver com isso!
— Eu só estou querendo ajudar!
— Eu não preciso de ajuda.
— Não foi o que eu vi de madrugada.
— Tá legal o bonzão, o que foi que você viu de madrugada?
— Meio óbvio, você alterado, andando pela rua, caindo no meio da rua e desmaiando. Quer que eu fale mais?
— Não. Me desculpa por ser grosso e obrigado por me ajudar.
— Olha ele, sabe ser educado!
— Não enche!— O garoto diz antes de colocar um pedaço de bacon na boca soltando um suspiro.— Você cozinha bem.
— Obrigado, meu pai me ensinou a cozinhar.— O loiro agradeceu depois de comer o bacon em sua mão.
Assim que terminou de comer, o loiro levantou rapidamente, logo lavando o prato e pegando suas coisas em cima do balcão.
— Eu vou embora, anotei meu número na agenda ao lado da televisão. Espero que fique bem, quando pensar em fazer aquilo outra vez, me chama.— Falou o garoto antes de abrir a porta principal e passar pela mesma a fechando em seguida. A tarde do garoto se resumiu em chorar e escrever poesias, usava aquilo para "desabafar", não tinha muitos amigos, o melhor amigo, acabou se apaixonando, como alguém pode ter tanto azar? Ele não sabia, mas tinha. De subto viu a tela do seu celular acender e o toque do aparelho entrou em seus ouvidos, olhou para a tela lendo "Taehyung", um suspiro de cansaço foi solto pelo esverdeado que atendeu o aparelho se jogando na cama.
— Alô?
— Quer sair comigo?
— Por que eu faria isso?
— Não sei, talvez porque a sua voz está embargada e você provavelmente está pensando em sair para beber?
— Instalou câmeras na minha casa?
— Não, eu só chutei, mas então... quer sair?
— Qual o lugar?
— Um em que não vendem bebida para menores de idade!
— Não grita!
— Me desculpa, se arruma que estou indo te buscar.
Já passava das oito horas e os dois adolescentes estavam sentados nos sofás vermelhos em volta de uma mesa retangular, uma pequena lâmpada se encontrava pendurada em cima dos dois q se encaravam enquanto os pedidos não chegavam.
— Quer escolher uma música— Perguntou Taehyung, tirando algumas moedas de dentro do bolso do casaco jeans de cor clara.
— Pode ser.
— Pega uma ficha lá!— Disse entregando algumas moedas para o esverdeado. O menino se dirigiu até o balcão pedindo uma ficha que lhe foi entregue por um atendente que Taehyung dizia ser seu amigo. Dirigiu-se até a Jungle Box encostada na parede na entrada da lanchonete, leu e releu os discos que haviam ali, escolhendo o seu favorito. Sentou-se novamente no sofá de frente para Taehyung, encarou a comida a sua frente sentindo seu estômago se revirar, a música já conhecida invadiu os ouvidos do garoto, Taehyung abriu um sorriso quando viu o menino comer o hambúrguer q foi pedido.— Gosta de Nirvana?
— Se não gostasse, não teria escolhido.— O esverdeado respondeu de boca cheia.
— Nossa, grosso, foi só uma pergunta!
— Desculpa, não controlo.
— Okay, qual sua música favorita?
— In Bloom, e a sua?
— Heart-Shaped box
— Gosto dessa também
— É legal. Yoongi, quer contar o motivo de ter feito aquilo ontem à noite?
— Por que insiste tanto nisso?
— Por que eu quero te conhecer?
— Por quê?
—Não sei, sinto que preciso fazer isso.
— Ui ui, ele sente. Okay, eu conto.
— Finalmente!
— Eu gosto do minha melhor amigo, mas ele não sabe o que sente por mim, isso me deixa mal porque nós nunca ficamos, ele sempre fala que sente algo por mim, mas nunca fala o que sente, sempre me chama de amigo, mas quando pergunto sobre nós, ele me pede desculpas por fazer aquilo comigo, me pede desculpas por não poder ficar comigo mesmo querendo. Eu não entendo o que prende ele, não sei de mais nada.— Falou o garoto antes de dar a última mordida em sua comida.
— Nada prende ele.
— Como assim?
— Isso é abusivo, ele está te usando.
— Mas o quê?
— Ego, é isso o que "prende" ele.— Falou Taehyung, antes de dar um gole no refrigerante de laranja, o loiro encarou o garoto que o observava com os olhos arregalados.— O quê? É a verdade! Ele está te prendendo porque você sempre corre atrás delas, é isso o que ele quer, alguém que corra atrás dele. E está conseguindo.
— Eu sou muito idiota.
— Não, ele é muito idiota, qual o nome dele?
— Hoseok.
— Loiro? Que canta em batalhas de rap?
— Sim.
— Acho que conheço, é amigo do Jimin.
— Ah, seu amigo?
— Meu irmão.
— Ah tá.
— Já passei por uma história parecida, mas eu ficava com a garota. Eu era o estepe dela, ela ficava com alguns caras, namorava outros, mas quando se sentia sozinha ou triste, vinha para mim. Até que eu comecei a me apaixonar por ela, e aquilo começou a doer. Saber que eu só servia para aquilo, que ela nunca sentiu nada por mim, começou a me matar. Eu parei de falar com ela, foi difícil, mas parei.
— Queria fazer como você.
— Eu fiz a mesma coisa que você fez. Eu sai durante dias para beber, tudo para esquecer ela, ai um dia eu simplesmente parei. Foi estranho.
— Ah, não imagino você bebendo.
— Eu viro outra pessoa, não queira ver.
— Não quero!— O garoto falou em meio a pequenos risos, olhou para o avermelhado que sorria lhe observando.
— Acredita em destino?
— Por que isso de repente?
— Não sei, estou sentindo que talvez isso fosse.
— O que, exatamente?
— Nós.
— Não existe "nós".
— Ainda não. Já parou pra pensar que se você nãos tivesse bebido ontem, você mão estaria aqui? Não estaria comigo, ouvindo "Smells Like Teen Spirit"? Não acho que aquilo aconteceu por acaso.
— Não, não pensei, não tive tempo, gastei todo ele escrevendo poesias tristes sobre amores perdidos e corações partidos.
— Posso ver?
— Por quê?
— Quero te conhecer, sinto que preciso fazer isso.
— Taehyung, o que você está querendo dizer?
— Para falar a verdade, nem eu sei!— Falou o loiro enquanto observava o esverdeado confuso à sua frente.
Três meses se passaram desde o dia em que Yoongi e Taehyung se conheceram. Os olhos ardiam por conta da luz que entrava através da janela, procurou seu celular no criado-mudo ao seu lado, viu as horas, era muito cedo, sete horas da manhã de sábado. Sentiu braços ao redor de sua cintura, o que o fez mudar de posição, Taehyung dormia serenamente, os cabelos loiros jogados na testa, quase tapando os olhos, o rosto inchado, a boca entreaberta indicavam o sono profundo. De repente tudo o que Taehyung lhe dissera no dia em que se conheceram veio na mente do garoto, ele estava certo, não se conheceram por acaso, nada foi por acaso, lembrou-se que nem mesmo havia pensado em sair de casa naquele dia, fora arrastado por seus amigos até aquela festa. Se seus amigos não a tivessem o obrigado, se ele não tivesse bebido, se Hoseok não tivesse partido seu coração em mais de mil pedaços, Taehyung não poderia ter colado todos eles, não teria lhe ajudado, não estaria ali com ele, dormindo ao seu lado enquanto a neve caía pelas ruas de Seoul. Desde a criação do Universo, tudo foi destinado.





Desculpa qualquer erro! Isso foi escrito para meu trabalho de português <3

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