Prólogo

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Winchester, 1076

Aquela noite também estava resultando difícil conciliar o sonho. Convexo sobre a cama e com a bochecha apoiada na palha escutava os roncos de vários soldados que tinha ao seu redor e as risadas e conversações dos bêbados da sala abaixo.

Só levava três semanas na corte, e não tinha bastado esse tempo para que esquecesse seu lar e deixasse de desejar os amplos campos de Northumberland a alegre calidez do grande salão de Aelfgar.

O pequeno estremeceu, estavam no final do inverno e fazia frio. Tentando procurar um pouco de calor, se aconchegou ainda mais entre a palha e a fina manta de lã que tinham lhe dado. Não queria pensar em Aelfgar, porque então pensaria também em seus pais e em seus irmãos. Sentia terrivelmente a falta deles. Se ao menos pudesse esquecer a última vez que viu sua mãe... Lady Cecília despedia dele com a mão ao vê-lo afastar-se entre os cavalheiros do rei, enquanto um sorriso valente, mas forçado, aparecia em seus lábios e lágrimas silenciosa caíam por suas bochechas. Alfonso engoliu saliva. Agora, igual a então, aquela imagem ameaçava afundá-lo.

— Os homens não choram — havia dito seu pai com seriedade, levando-o a um à parte no dia que saiu para Winchester. — É uma grande honra ser o protegido do rei, Stephen, uma grande honra. Sei que cumprirá com seu dever como fazem os homens de verdade e que fará com que me sinta orgulhoso de ti.

— Prometo isso, milorde — disse Alfonso com voz firme.

Seu pai sorriu e o agarrou pelo ombro, embora aquele sorriso não alcançasse seus brilhantes olhos azuis, que estavam inexplicavelmente tristes.

Mas o pequeno não tinha contado com a solidão. Não tinha compreendido o que significava se separar de tudo o que tinha conhecido e de sua família. Nunca imaginou que chegaria a sentir tantas saudades de seu lar.

Entretanto, ainda não tinha chorado. E não o faria. Os homens não choravam.

Algum dia retornaria para reclamar seu patrimônio convertido em um adulto, um cavalheiro que teria ganhado suas esporas com honra, e seus pais estariam orgulhosos dele.

— Levanta, pirralho.

Alfonso ficou tenso. William, outro dos protegidos do rei, estava inclinado sobre ele. Tinha uns poucos anos mais que ele e suas circunstâncias eram bem mais penosas. Porque William não só estava sob o cuidado do rei, mas também, além disso, era seu refém. Era filho do primeiro matrimônio de Luiz Canmore, rei da Escócia. E, em teoria, seu pai abandonaria a guerra que mantinha contra Inglaterra agora que o rei Leon tinha em suas garras seu filho mais velho.

Alfonso sentia lástima pelo escocês, mas o moço era tão desagradável que não podia cair bem. Receoso, levantou-se apartando as palhas da bochecha. — O príncipe quer vê-lo — disse William. — Estiveste chorando? — Mofou ele com desprezo.

Alfonso ficou rígido.

— Sou muito grande para chorar — assegurou embora só tivesse seis anos. — O que quer o príncipe? — Perguntou com curiosidade. — Não sei — respondeu o escocês. Mas seu sorriso afetado e seu tom de voz contradiziam suas palavras.

Alfonso sentiu certo desconforto, embora não havia razão para isso. Não importava que o príncipe requeresse sua presença. Cristian tinha se convertido em seu amigo quase no instante em que chegou, era o único amigo que tinha entre todos os moços que viviam no castelo. Como era o menor e tinha sido o último a chegar, outros o ignoravam ou burlavam dele.

Tinha aprendido com rapidez quando lutar e quando se retirar, mas agora estava desconcertado. Cristian nunca tinha mandado chamá-lo de noite. Alfonso apertou o passo para seguir o ritmo de William quando abandonaram o salão e saíram ao pátio. Perguntou-se aonde iriam, mas não fez perguntas. Antes de partir de seu lar, seu pai o tinha advertido que vigiasse atentamente, escutasse e não desse a conhecer o que pensava nem o que sentia. Também tinha aconselhado que não confiasse em ninguém mais que em si mesmo. E de fato, aquelas últimas semanas tinham sublinhado a importância do conselho paterno.

A Promessa da RosaWhere stories live. Discover now