O SORVETE

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O SORVETE

Na cidade onde moro já ouvi muitas histórias sobre assédio, comentários machistas e as famosas cantadas indecentes. Muito dos comentários sempre considerei exagerados, pois nestes tempos tudo parece malicioso e a sociedade vê maldade em tudo. Sou adepta do conceito de ser maleável e ver a vida com mais leveza e menos severidade na convivência entre os seres humano.

Pois bem, outro dia um fato me fez repensar este conceito e já não estou tão certa de que é feminismo achar que os homens veem erotismo em tudo, e pensam nisto 24 horas por dia. Desde este fato passei a considerar que homem é bicho dirigido pela natureza do macho predador.

Quanto ao fato me envergonhei profundamente de o fazê-lo em plena avenida, e hoje com certeza, vou pensar duas vezes para tomar sorvete na rua.

Numa tarde de calor intenso, corri para a avenida para pagar algumas contas como todo início do mês. No corre-corre das agências bancárias que já estavam para fechar, passei em frente uma sorveteria e resolvi amenizar o calor da rua com um sorvete de casquinha. Só não pensei que o sol me atrapalharia derretendo o sorvete rapidamente. Na pressa minha pazinha quebrou e não tinha opção de voltar, porque a agencia estava próxima ao final do expediente, resolvi chupar o sorvete diretamente com a boca, mas quando tirei o sorvete da boca vi que na esquina bem na minha frente estavam três homens conversando, sabe se lá sobre o que.

Só percebi que um deles me olhava fixamente. Ele devia ter uns quarenta anos, estava um pouco acima do peso, usava camiseta, shorts de nylon e tênis esportivo, provavelmente esperava pela mulher que fazia compras, e aproveitava para espichar o olhar para as mulheres que como eu corria pela rua.

Só pelo olhar, lógico, não tinha nada de mais, porém quando tirei o sorvete da boca ele me olhou, mordeu os lábios e deu dois apertões em seu aparelho sexual e depois riu, como se fizesse uma proposta muito indecente. Fiquei muito envergonhada e joguei fora o sorvete, não ousei passar a língua para nem mais uma lambida no sorvete.

Depois me questionei, onde estaria a maldade? Na minha cabeça, no sorvete ou na mão do homem? Não sei! Só sei que uma mulher nestes tempos modernos precisa pensar muito bem onde saboreia um sorvete.

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⏰ Última atualização: Mar 28, 2018 ⏰

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