Never Saw Blue Like That

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Eu tinha 21 anos. Tinha acabado de ser transferida para outro posto médico na Inglaterra. Desde o Dia-D, as tropas Aliadas estavam sofrendo muitas baixas e muitos já eram mandados de volta para casa ou removidos da frente de batalha para a Grã-Bretanha. Lembro muito bem, era dia 10 de Junho de 1944. Era enfermeira-chefe do posto.

Já estávamos muito atarefados quando um grupo de 11 soldados feridos chegou. Alguns deles haviam perdido membros, outros estavam com  ferimentos gravíssimos, alguns com ferimentos leves e um deles com um machucado realmente horrível nos olhos, que estavam inchados e quase totalmente fechados. Ele tinha o rosto inteiro coberto de sangue.

Comecei a distribuir os soldados pelas camas e auxiliar os médicos no trato dos mais graves. Alguns não resistiram. Era terrível quando isso acontecia, mas eu não podia me abalar. Fui até aquele ferido nos olhos. Ele tinha um expressão de dor no rosto, mas eu não conseguia saber se chorava. Olhei a medalha dele. Jordan Taylor Hanson.

_ Jordan? Você me ouve?

_ Sim. - a voz dele era quase inaudível, mas clara. Ele estava consciente, era um bom sinal.

_ Vou limpar seus olhos, ok?

_ Ok. Estão doendo muito.

_ Isso pode arder um pouco, está bem?

_ Sim.

Comecei a limpar o ferimento dele em silêncio. Às vezes, ele soltava um gemido de dor, mas em geral via que ele procurava agarrar o lençol ao seu lado com força a reclamar. Quando acabei, o posto estava quieto.

_ Pronto. Sente-se melhor? – perguntei.

_ Bastante. Obrigado, Miss...?

_ Andrews.

_ Obrigado, Miss Andrews.

_ Estou aqui para isso.

_ Será que você poderia me informar se o Daniel ficou bem?

_ Daniel?

_ Daniel Joshua Dylan.

Lembrei que ele era um dos que não havia resistido.

_ Sinto muito... O ferimento dele era muito grave...

_ Ele morreu?

_ Receio que sim.

_ Oh... – ele contraiu o rosto numa expressão triste.

_ Era seu amigo?

_ Não era meu melhor amigo, mas... Depois de cinco minutos naquele inferno somos todos irmãos.

_ Eu realmente sinto muito... Jordan, acho bom você descansar.

_ Por favor, me chame de Taylor.

_ Ok, Taylor. Mas você deve descansar, tudo bem?

Fiquei olhando para ele. Tinha os cabelos loiros, uma boca linda... E eu tinha gostado muito da voz dele.

Nos dias que se seguiram, fomos ficando mais próximos. Eu não conseguia deixar de cuidar dele. Era algo que eu realmente não deveria fazer, ter um ferido preferido. Todas nós éramos alertadas do perigo disso. Durante a guerra, se apegar a alguém era pedir para sofrer. Ao mesmo tempo, era impossível.

Uns quatro dias depois, eu estava trocando o curativo dele. Quando acabei, não me contive e corri os dedos por seus cabelos, depois pousei minha mão em sua face esquerda.

Ele colocou sua mão sobre a minha, mas, envergonhada, a puxei de encontro ao meu peito.

_ Por quê? – ele perguntou.

Never Saw Blue Like That [oneshot] [completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora