O Show de Marionetes

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O tempo ainda não era contado por horas, minutos, dias, tardes e noites, isso ainda não tinha sido planejado, mas o decorrer do tempo indefinido estava levando consigo cada resquício de paciência de Destino, suas obras estavam adquirindo um traço agressivo e muitas vezes borrado, figuras grotescas se formavam diante do pincel e o artista, os olhos miravam o resultado esboçando a mesma expressão vazia.

A última gota de paciência caiu sobre as telas lavando os esboços e borrando ainda mais os traços grotescos. Destino se virou para suas criações inexpressivas e pegou a mais próxima entre seus dedos, os olhos de cor violeta miravam o criador enquanto ele mais uma vez usava seu pincel para criar uma nova obra, mas porque mais uma vez tinha que ser com um dos doze? O de olhos violeta que tinha recebido o nome Bohrum, agora se perguntava se ele estava muito quebrado e precisava de reparos do seu criador.

Varias cores se misturaram até o reparo estar completo. Bohrum abriu a boca e curvou o corpo em um grito de sofrimento mudo, os fios que o prendiam diante das telas agora caiam em um mergulho sem fim no vasto breu do universo, ele não era mais uma marionete, podia dizer exatamente como era ser livre novamente, o prazer de se mover sozinho, curioso olhou para a face de Destino se questionando qual era o objetivo da criatura. Destino se virou para os outros onze seres inexpressivos e suspirou, ele parecia terrivelmente tenso e cansado.

-Zhi, é isso que vocês serão daqui em diante, você a qual dei o nome Bohrum, será o guardião dos outros, esse será o motivo de sua existência. - disse Destino com sua voz retumbante.

    Bohrum observou Destino abrir as asas fascinado, a criatura as agitou indo para longe de suas telas, ele precisava pensar, e pra isso ficaria longe de tudo que lembrasse suas obras, isso incluía suas tintas, a joia dourada pousou sobre o cavalete da tela do Futuro e lá permaneceu, porém agora na forma de uma caixa de carvalho. Poderia ele confiar em Bohrum para cuidar do seu bem mais valioso sozinho? Ele não tinha escolha, não levaria muito tempo.

    Os olhos violetas vagavam pelas telas do tempo, elas tinham certa beleza, ele lembrava que quando ainda era uma marionete e Destino contava o que pintava em cada tela, a importância e finalidade de cada uma.  Ele particularmente era um amante da tela do Passado, parou diante dela e então tocou a moldura, doces lembranças beijaram as bochechas de Bohrum fazendo com que um polido sorriso se formasse, ele não estava sozinho quando se tratava de contemplar o Passado, ao seu lado estava quem recebera o nome Roz, a Dama Branca.

    Ali olhando para a mulher ao seu lado algo se aqueceu dentro de si, não sabia dizer o que era aquilo, mas o fez pensar que iria morrer, o coração desesperado pulava dentro do peito aquecendo o sangue e golpeando o ar para fora dos pulmões, o estomago pesou mais do que uma tonelada e pela primeira vez percebeu que não tinha chão abaixo de seus pés, vagou para o outro quadro com medo, o Presente era onde todos os outros estavam, com exceção de um que estava mais além observando atendo um esboço na tela do Futuro, Bohrum se aproximou desse, era Gênesis, o primeiro.

    Sua face calma observava atento o mesmo ponto, por quanto tempo ele ficou olhando para a mesma coisa? Não sabia dizer, Gênesis era o mais belo entre os doze, Destino não tinha poupado nos detalhes, o cabelo com fios castanho claro tremulavam em volta dele como se o tempo andasse em câmera lenta, a pele na cor areia parecia sedosa como cetim, os olhos eram de um intenso azul como o céu sem nuvens ao meio dia, seu corpo era digno de um guerreiro, mas em sua face se mantinha uma mansidão tão confortável como as pequenas ondas do mar, Destino o tinha como favorito entre eles por isso.

    Bohrum olhou na mesma direção que Gênesis, no topo do cavalete do Futuro estava uma caixa estranha, não tinham visto ela lá antes de Destino partir. Curioso e ansioso de mais para ignorar a caixa amarela, Bohrum começou a escalar o cavalete enquanto Gênesis o observava, mas algo o impediu de conseguir o que queria, se viu sendo lançado longe e o coque seco que sentiu quando colidiu com Gênesis fez suas costelas doerem, era impressão dele ou Futuro estava o impedindo de pegar o curioso objeto?

O Coração de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora