Por Luiz Fernando Cardoso
A visão predominante ao se abrir a janela da cabana, logo pela manhã, era de uma verdadeira floresta. Estava ali há quase um ano e a variedade de plantas era cada vez maior. "Talvez algumas delas ainda nem tenham sido catalogadas", disse para mim mesmo, em pensamento, cogitando chamar uma amiga bióloga que lida com vendas para analisar a situação.
Sempre tomo os devidos cuidados para evitar criadouros do mosquito da dengue, mas fora o Aedes aegypti, havia insetos de toda sorte naquela cobertura verde, desde os sempre presentes "tatuzinhos" às belas joaninhas.
Seria merecedor de uma medalha do Greenpeace como ativista-voluntário não fosse a dita floresta um verdadeiro matagal e a cabana, minha casa. O mato parecia ter crescido um mês em uma noite e, quando me dei conta, a calçada ligando o portão à casa dos fundos já estava tomada. Um bom sinal de que, se preservada, a natureza faz sua parte, e a erva daninha o faz ainda mais rápido.
No canteiro central, o mato já começava a "raspar" o assoalho do Sólido – nome de meu Fusca 1975, azul-escuro com branco-gelo nas laterais, pintura perolizada e interior combinando com as cores do lado de fora –, carro que está comigo desde 2006 e que colocarei à venda em março. Voltando a falar do mato, na lateral do corredor, algumas espécies atingiam a altura do Fusca.
Era fácil imaginar o cansaço que daria para pôr fim àquela selva, difícil era calcular quantos mililitros de suor teria de derramar. Tinha permitido o desenvolvimento daquelas espécies, sem impor controle, então, não seria justo pagar para alguém fazer o trabalho sujo. O jeito era vestir camisa regata e calção confortáveis e calibrar uma Coca-Cola na geladeira.
Ainda não mencionei: o episódio se deu dias antes do Natal de 2008. Passaria o feriado cristão em Pato Branco e, se deixasse para desmatar aquela área verde mais tarde, quando retornasse é certo que precisaria de um mapa, uma bússola e, quem sabe, um guia (digo, uma guia) indígena para fazer o percurso da rua até a porta de casa, sem me perder.
Se dispusesse do arsenal de ferramentas do galpão de meu falecido avô, Armando Cardoso, começaria o carpido com uma foice – uns dias a mais e seria necessário um machado – e liquidaria a fatura com uma enxada. Sem um artefato "bélico" à altura da ocasião, precisei queimar algumas calorias a mais (sorte minha ter reservas) para dar conta do recado com uma pequena faca de cozinha, de ponta pouco afiada e com cabo de plástico, daquelas que penam até para cortar carne de frango. Adianto que o pobre utensílio ficou um bagaço após o serviço.
Como por aqueles dias estava iniciando no jornal às 13 horas, devotei duas manhãs inteiras ao meio ambiente. Algo me diz que, agora, tenho currículo para me candidatar a uma temporada no Greenpeace. Tinha tudo planejado, roçaria o mato, deixaria o amontoado secando ao sol para, no domingo, queimá-lo sem piedade. O volume era grande e, desse modo, seriam necessárias dúzias de sacolas recicláveis caso optasse em empacotar o mato para ser levado pelo caminhão da coleta.
Devastei 90% da "selva", deixando um refúgio seguro de 10% da mata aos insetos. Do contrário, eles poderiam reivindicar abrigo em minha residência.
Não choveu por aqueles dias e o mato empilhado secou rápido. No domingo, as folhas secas clamavam por um palito de fósforo tanto quanto um fumante assíduo – daqueles que escurecem o pulmão desde as primeiras horas do dia – que tem o tabaco em mãos, mas não tem o fogo.
Antes de atear fogo no material orgânico ressecado, com o gosto da vingança pelas horas na lida, tomei o cuidado para que a fumaça não fugisse do controle. A vizinha dos fundos tinha saído e as janelas estavam fechadas, não havia roupas no varal e, o melhor, quase não ventava. Fora os insetos que preferiram ficar na palha seca, e que pela teimosia tostariam em instantes, eu era a única alma viva nas proximidades.
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