Após o almoço, Katherine e Emílio foram à biblioteca. Assim que entraram, avistaram Will sentado numa luxuosa poltrona vermelha com a mão debaixo do queixo e os olhos fixos numa das janelas de vitral cuja luz amarelada iluminava o ambiente. Mais parecia a escultura do pensador.
- O que faz aqui? - perguntou Emílio.
- Vim evitar que se percam nas portas-passagens. Sou um lumen-guia, não é? E não vou deixar que se divirtam sozinhos. Afinal, que graça tem estar no time sem vocês?
- Não seremos expulsos, se é o que pensa. Voltaremos a tempo. Eu prometo - assegurou Emílio.
Will fez uma cara como se dissesse: "Duvido muito!". Mas os acompanhou.
Eles tentaram percorrer o mesmo caminho das portas-passagens que o diretor Abner Stanislaw os levou à Câmara de Biblion pela primeira vez. Tinham certeza que alguns corredores e portas foram modificados pelos cuidadores-construtores. Por engano, abriram uma porta de acesso ao monumento do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Will se espantou.
- Alguém aqui está pensando em passear de bondinho ou tomar sol em Copacabana?
Quando Will foi fechar a porta, Emílio insistiu para que olhassem. Disse que era um sonho subir o Corcovado.
- Se bem me lembro, você estava com pressa.
- Não vai demorar, Will. Vem com a gente! - convidou Katherine.
- E tem como não ir? - resmungou encostando a porta.
Saíram quase atropelando a multidão de turistas. Do parapeito, avistaram a cidade e, olhando para o alto, contemplaram a imagem do Cristo de braços abertos para os visitantes.
Quando resolveram voltar, Emílio agarrou a mão de Katherine no meio da multidão e foi se esquivando entre as pessoas. Will vinha logo atrás, desviando-se de bolsas e mochilas. Retornaram pela mesma porta de acesso na base da imagem.
Alguns enganos os levaram a diversos países. No entanto, conseguiram chegar até o elevador, graças à excelente memória de Will em gravar rotas. Ele explicou que cada porta para a Câmara de Biblion funcionava como a tranca de um cofre. Bastava ter a sequência correta.
Na sala do elevador, Will instigou-os a desistir mais de uma vez, dizendo que ainda dava para voltar e apelou argumentando que conhecia uma porta de retorno com acesso direto à Casa do Sabor. Provavelmente, ainda estavam servindo a sobremesa. Eles o ignoraram mudando de assunto.
Will contraiu o maxilar e revirou os olhos. Entendeu que não ia conseguir convencê-los e acompanhou protestando:
- Vocês são malucos. Ninguém troca auraball pelo inferno da Área Subterrânea!
Ao selarem a porta do elevador, atentaram para a complexidade das várias manivelas e alavancas que controlavam a velocidade e os movimentos de subida e descida. Nem Will, nem Emílio haviam prestado atenção suficiente em como o diretor Abner manuseara a velha geringonça. Mexiam um pouco em uma e outra alavanca ou na manivela e mal saíam do lugar. Desceram, enganchando aqui e ali, apenas alguns andares com pouca visibilidade dos túneis e cavernas extremamente sombrias. O clima era tenso e de indecisão. Não sabiam qual alavanca puxar.
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Emílio e os Lumens: o Quinto Poder (Completo)
Fantasía#2 no ranking de mundos-paralelos (fantasia) em 28/05/18; #15 em dragões (fantasia) em 23/05/18. 2° Lugar Concurso Pena Dourada (Obra Completa para Degustação). Emílio D'Ara, estudante de 13 anos do Liceu, conhece um misterioso professor de filosof...