Prólogo

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Laura Treyce desceu do taxi, olhou para ambos os lados da calçada, entrou no Restaurante Buon Appetito e sentou-se em uma mesa vazia, junto à enorme janela de vidro, de onde conseguia ver perfeitamente a avenida São Pedro naquela noite fria.

- Vai beber alguma coisa, senhora? – perguntou o garçom, largando o menu sobre a mesa, ao lado da bolsa da cliente.

Ela tirou rapidamente os olhos da rua, como se tivesse saído de um transe, e olhou para ele.

- Quer alguma bebida, senhora? – insistiu o garçom quando ela não disse nada e ficou com os olhos perdidos nele.

- Não... não vou beber nada, obrigado – disse ela.

O garçom se retirou e ela olhou o ambiente ao seu redor. Labirintos de mesas perfeitamente organizadas ocupavam o lugar. Pessoas conversavam em algumas delas, bebiam vinho e comiam as comidas finas oferecidas pelo famoso restaurante. 

Laura olhou novamente para a avenida. As luzes dos postes banhavam as largas calçadas com uma luz amarelo-alaranjada, e veículos passavam em ambas as direções, seguindo o intenso fluxo. Ela levou a mão à boca e roeu nervosamente a unha do dedo mínimo. Abriu sua bolsa, retirou um papel de dentro e desdobrou-o. Leu as palavras nele escritas e olhou o relógio que tinha no pulso. Depois dobrou o papel novamente, seguindo as marcas já existentes. Largou sobre a mesa.

Embora estivesse em um restaurante, não estava ali para comer as iguarias servidas pelo estabelecimento ou beber os finos vinhos que eles ofereciam. Na verdade, naquele exato momento, estava perguntando a si mesma o que fazia ali? Deveria ter ficado em casa? Seria melhor levantar e sair daquele lugar? Ele não viria, pensou ela. Porque Laura Treyce seria a escolhida? Olhou o relógio novamente. Esperaria mais cinco minutos e iria embora.

Apreensiva correu os olhos pela rua mais uma vez. Viu uma moça passar pelo restaurante segurando uma sacola com o logotipo de um shopping. Viu um cachorro atravessar a avenida com o sinal fechado. E viu um morador de rua revirando uma lixeira ao lado de uma loja de sapatos. Mas uma das poucas coisas que não viu, foi o homem que estava observando-a do outro lado da avenida, sentado em um banco na Praça Central.

Ele era jovem, alto, com cerca de 30 anos. Sua pele bronzeada mal podia ser definida sob a luz amarelada do poste ao lado. Tinha o corpo atlético e um rosto com traços marcantes. Vestia um terno grafite e os sapatos caros reluziam ao brilho da luz. Os olhos verdes miravam a moça que estava sentada junto à janela do restaurando dooutro lado da avenida.

Outro jovem veio da calçada, segurando um cachorro-quente nas mãos, e sentou-se no banco ao lado dele. 

- Você está quatro minutos e trinta e três segundos atrasado – disse o recém chegado, dando uma mordida no cachorro-quente.

- Eu sei! - disse o jovem de terno, sem tirar os olhos do restaurante. Sua perna balançava incessantemente.

- Pelo que consegui descobrir a respeito da Numero 8, ela não esperará muito tempo.

O jovem de terno permaneceu em silêncio.

- Está nervoso? – disse o rapaz do cachorro quente, olhando para a perna inquieta ao seu lado. – Há muito tempo não o vejo assim. Isto que fará é perigoso. Ainda pode desistir, sabia?

- Eu não vou desistir, Tony!

- Só estou dizendo que existem outras mulheres, as quais ficariam muito gratas por sua ajuda. E seu trabalho com elas seria muito mais fácil. Sei que está ciente do a Numero 8 poderia fazer com você.

- Você não entende. Preciso muito fazer isso.

Tony deu outra mordida no cachorro-quente.

- Se sua irmã souber o que está fazendo, vai querer matá-lo – disse Tony.

- Ela que cuide de sua tarefa e me deixe fazer a minha em paz.

O semáforo fechou naquele exato momento e o jovem de terno se levantou e começou a atravessar a avenida.

- BOA SORTE! – gritou Tony às costas dele. Depois voltou a comer.

O rapaz do terno grafite entrou no restaurante e sentou-se na mesa junto à janela.

- Olá, Laura Treyce – falou.

Ela estava distraída, lendo sem interesse o menu. Assustada, ergueu os olhos quando notou que alguém sentara silenciosamente à sua frente e pronunciara seu nome. Ficou estática quando deu com aquele belo homem de terno, fitando-a. Era assim que geralmente se comportava na presença do sexo oposto: nervosa, muda e de certa forma, com medo.

- Sim, sou Laura Treyce – disse ela engolindo a seco.

- Eu sei quem você é – rebateu ele. – Quero saber se está pronta?

Ela olhou em volta, nervosa.

- Você é o Autonomista, não é?

- Está esperando por mais alguém que não o Autonomista?

- N-Não - gaguejou ela. - É que... bem... eu... não pensei que você fosse tão...

- Bonito?

- Eu ia dizer: jovem – esclareceu ela.

Ele escorou-se no encosto da cadeira e ficou olhando-a por um instante. Os lábios finos e os olhos negros e delicados sobressaiam no rosto fino e claro. Aqueles cabelos negros e lisos que caiam sobre as faces reluziam ao brilho das luzes do restaurante. Ela era uma mulher muito bonita, e as caracterizas que a definiam o fizeram tremer por dentro. Mas ele não podia fraquejar. Precisava vencer sua debilidade.

- Se acha que não sou capaz de ajudá-la, pode procurar alguém mais velho – aconselhou ele.

- N-Não... não foi isso que quis dizer, desculpa... – Ela pegou a folha de papel de sobre a mesa. – Aqui diz que há algumas condições para que possamos seguir em frente. O que... o que tenho que fazer?

Ele cruzou os braços.

- Primeiro: deve fazer tudo que eu disser, quando eu disser e como eu disser – explicou ele, tentando ser o mais claro possível. – Segundo: Precisará assinar um documento com algumas clausulas. Duas delas eu considero as mais importantes. A primeira é um comprometimento seu de nunca dizer a qualquer pessoa quem eu sou, onde moro ou o que fizemos juntos. A segunda proíbe você de desistir do acordo pelos próximos seis meses. Se desistir, toda sua fortuna será minha. E soube que você é muito rica.

Ela ficou olhando para ele, sem reação.

Ele estalou os dedos em frente a ela, como se para tirá-la de um transe momentâneo.

- Entendeu, moça bonita?

Ela balançou a cabeça, concordando.

- Promete que conseguirá me ajudar? – quis saber ela.

Ele abriu um fino sorriso.

- O resultado dependerá mais de você do que de mim – disse.

Ela mordeu os lábios e perdeu o olhar na mesa. Voltou a encará-lo. Era a única chance que tinha e sabia disso. Pensou em alguma coisa que a fez tremer, mas ao mesmo tempo a deu coragem para fazer a próxima pergunta.

- Quero começar agora. O que devo fazer primeiro?

Ele olhou diretamente nos olhos dela, com o rosto serio.

- Essa é a parte mais simples – falou ele. – Primeiro, precisamos nos casar.

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Olá, querido leitor. Espero seu comentário de avaliação referente ao prólogo do livro, será muito importante.

Toda semana haverá um novo capítulo. 


A Número 8Where stories live. Discover now